Quando satélites param de funcionar e voltam para a Terra, eles acabam incinerados ao reentrar na atmosfera. Numa realidade de mega-constelações de satélites, essa espécie de cremação ameaça a camada de ozônio na atmosfera, que funciona como um escudo para o nosso planeta.

Quando satélites se incineram na reentrada na atmosfera, prejudicam a camada de ozônio

  • Satélites desativados que reentram na atmosfera se incineram, liberando óxidos de alumínio que prejudicam a camada de ozônio. E um estudo pioneiro da Universidade do Sul da Califórnia (USC) sugere que as concentrações desses óxidos podem aumentar até 650% nas próximas décadas devido às mega-constelações de satélites;
  • Na década de 1980, foi descoberto um afinamento significativo na camada de ozônio sobre a Antártida, causado por clorofluorcarbonetos (CFCs). O Protocolo de Montreal de 1987 visou eliminar gradualmente os CFCs, promovendo a recuperação da camada de ozônio, que é crucial para proteger a vida na Terra da radiação ultravioleta;
  • As mega-constelações, conglomerados de centenas a milhares de satélites, representam uma nova ameaça à camada de ozônio. O estudo da USC modelou a geração de poluentes de óxido de alumínio, prevendo que o aumento da quantidade de satélites lançados e incinerados elevará significativamente as concentrações desses poluentes na atmosfera;
  • Atualmente, cerca de 12.540 satélites orbitam a Terra, com previsão de aumento significativo devido aos planos de empresas como SpaceX, Amazon e projetos espaciais chineses. Se concretizados, esses planos poderão resultar na queima de até 3,2 mil toneladas de satélites por ano na década de 2030, liberando até 630 toneladas de óxidos de alumínio anualmente.

É o que aponta um estudo pioneiro, conduzido por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia (USC) e publicado na revista Geophysical Research Letters recentemente.

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Segundo a pesquisa, a incineração de satélites libera óxidos de alumínio na atmosfera, o que é ruim para a camada de ozônio. E o estudo descobriu que as concentrações desses óxidos podem aumentar até 650% nas próximas décadas por conta das mega-constelações.

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Camada de ozônio se recupera lentamente – e satélites podem atrapalhar isso

Estrela do Norte vista do espaço
Camada de ozônio tem mostrado sinais de recuperação, mas incineração de satélites pode atrapalhar este processo (Imagem: IM_photo/Shutterstock)

Na década de 1980, descobriu-se um “buraco” na camada de ozônio. Aspas porque, na verdade, trata-se de uma área – sobre a Antártida, no caso – onde a camada de ozônio, localizada na estratosfera terrestre, é mais fina do que o normal.

O afinamento desta área foi causado principalmente pela emissão de clorofluorcarbonetos (CFCs), produtos químicos usados em diversos produtos da época, como: geladeira, ar condicionado, spray e isopor.

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Em 1987, nações do mundo inteiro se uniram no Protocolo de Montreal para eliminar gradualmente a produção e o uso de CFCs. O protocolo tem funcionado. E o “buraco” tem mostrado sinais de recuperação.

(Importante relembrar e frisar: a camada de ozônio, presente na estratosfera entre 20 e 35 km de altitude, é crucial para a vida na Terra por servir de escudo contra a radiação ultravioleta do Sol, perigosa para os seres vivos.)

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No entanto, o estudo em questão aponta que esse processo de cura da camada pode em breve enfrentar um grande obstáculo devido a uma nova ameaça feita pelo Homem: as mega-constelações de satélites, conglomerados de centenas (às vezes milhares) de satélites que trabalham juntos.

Pesquisa é a primeira a investigar como incineração de satélites impacta a camada de ozônio da Terra

Ilustração de satélites no espaço
Satélites são feitos de alumínio, que, ao queimar, libera óxidos prejudiciais para a camada de ozônio (Imagem: Frame Stock Footage/Shutterstock)

Os corpos das espaçonaves são feitos de alumínio, o que gera óxidos de alumínio destruidores de ozônio quando incinerados. O estudo da USC é considerado o primeiro por ter sido o primeiro a modelar a geração desses poluentes na atmosfera e estimar a evolução das concentrações dele com base na proliferação prevista de satélites.

Os pesquisadores descobriram que, em 2022, cerca de 332 toneladas de satélites antigos queimaram na atmosfera, gerando 17 toneladas de partículas de óxido de alumínio no processo. Entre 2016 e 2022, as concentrações desses óxidos na atmosfera aumentaram oito vezes. E continuarão a subir ainda mais com o aumento do número de lançamentos e reentradas de satélites.

Atualmente, cerca de 12.540 satélites orbitam a Terra, dos quais cerca de 9,8 mil estão operacionais, segundo a Agência Espacial Europeia (ESA). Até o final desta década, esse número poderá aumentar dez vezes devido aos planos de empresas privadas de construir mega-constelações de dezenas de milhares de satélites em órbita baixa terrestre para transmissão de internet.

Mega-constelação da Starlink chega a 5.005 espaçonaves implantadas (Imagem: Jacques Dayan/Shutterstock)

A mega-constelação Starlink da SpaceX, por exemplo, atualmente possui mais de 6 mil satélites. E a empresa de Elon Musk planeja implantar até 40 mil satélites no total para este empreendimento. Empresas como Amazon e os projetos chineses G60 e Guowang também desenvolvem suas próprias mega-constelações.

Se esses planos se concretizarem, até 3,2 mil toneladas de satélites poderão queimar na atmosfera a cada ano até a década de 2030. Como resultado, os pesquisadores estimaram que até 630 toneladas de óxidos de alumínio poderão ser liberadas na atmosfera por ano. Está aqui o aumento de 650% citado no começo desta reportagem. Será o fim da aventura humana na Terra?