*Por Marcos Teixeira, sócio-fundador e CEO da Rox Partner
Atualmente, podemos afirmar que as empresas brasileiras veem a cibersegurança como um fator imprescindível para suas operações. De acordo com a pesquisa “Barômetro da Segurança Digital”, encomendada pela Mastercard ao Instituto Datafolha, a temática é considerada “muito importante” para mais de 84% das companhias no Brasil.

No entanto, apenas 23% delas colocam a defesa digital como prioridade orçamentária. Na mesma linha, apenas 35% das corporações ouvidas possuem uma área própria dedicada ao tema, e somente uma em cada quatro instituições têm um planejamento anual para lidar com esta questão. O resultado desse descompasso entre teoria e prática é que 64% dos negócios brasileiros são alvo de fraudes digitais com média ou alta frequência.

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Outros dados coletados pelo IDC (International Data Corporation) indicam que o Brasil registrou um aumento de 47% nos incidentes cibernéticos em 2023, comparado ao ano anterior. Além disso, o custo médio de uma violação de dados no Brasil foi estimado em cerca de R$ 5,8 milhões, destacando a gravidade dos impactos financeiros dessas ocorrências.

Aumento nos incidentes cibernéticos alertou para importância do setor de segurança (Imagem: Maksim Shmeljov/Shutterstock)

Dentre as principais justificativas para o alto número de ataques, é possível afirmar que a rápida digitalização nas companhias brasileiras resultou numa lacuna perceptível entre o ritmo da adoção de novas tecnologias e o da implementação de medidas verdadeiramente robustas para lidar com esses perigos. A falta de prioridade e investimento em segurança deixa as organizações vulneráveis, incapazes de acompanhar a sofisticação crescente dos cibercriminosos, o que dá a sensação de que estão sempre correndo atrás do prejuízo.

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Comparado a outros países, especialmente aqueles com regulamentações mais rigorosas, o Brasil enfrenta um número bastante significativo de invasões. Mesmo assim, o estudo “Voice of the CISO 2024” indica que executivos brasileiros são os mais otimistas do mundo quanto à ameaça de ataques cibernéticos. O levantamento aponta que apenas 45% dos gestores acreditam que suas empresas sofrerão algum risco nos próximos 12 meses, enquanto nações como Coreia do Sul, Canadá e Estados Unidos aparecem na outra ponta da análise.

Dentro deste contexto, os principais perigos enfrentados em cibersegurança nas organizações brasileiras incluem a prática do phishing, que consiste em tentativas de enganar colaboradores para que revelem informações confidenciais, e o ransomware, um tipo de invasão que criptografa os dados contidos em um sistema. A exposição de dados na nuvem também exige um monitoramento próximo, uma vez que os criminosos, muitas vezes, obtêm acesso aos sistemas empresariais por meio de vulnerabilidades ou credenciais comprometidas.

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Phishing está entre as principais práticas de ataques no Brasil (Imagem: ViChizh/Shutterstock)

Modo de defesa

Para se prevenir contra ataques, é fundamental que as empresas brasileiras adotem um conjunto sólido de medidas simultâneas para estimular a criação de um ambiente de dados seguro. Treinamentos constantes das equipes internas, implementação de firewalls e antivírus de ponta, além da atualização regular de sistemas operacionais e aplicativos, são algumas das práticas mais recomendadas. Contar com backups frequentes também é um aspecto importante para assegurar meios de recuperar dados em caso de invasões.

A adoção de ferramentas de cibersegurança como SOC (Security Operations Center) e SIEM (Security Information and Event Management) é essencial. O SOC permite a monitoração contínua e a gestão de incidentes de segurança, enquanto o SIEM ajuda a detectar, analisar e responder a ameaças de forma proativa. A governança de SI (Segurança da Informação) também desempenha um papel crucial, estabelecendo políticas e procedimentos que garantem a proteção dos dados e a conformidade com as regulamentações.

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Certificações como ISO 27001 ajudam a estruturar e validar as práticas de segurança, fornecendo um framework reconhecido internacionalmente para a gestão da segurança da informação. Além disso, um bom plano de GRC (Governança, Riscos e Conformidade) é fundamental para integrar a gestão de riscos, a conformidade legal e a governança corporativa, assegurando que a cibersegurança seja tratada de forma holística e estratégica.

A IA generativa também tem desempenhado um papel de destaque na detecção de ameaças. No entanto, é preciso ter em mente que tais recursos sozinhos não são suficientes e que a supervisão humana é crucial para evitar a dependência excessiva da tecnologia.

IA pode ajudar na cibersegurança (Imagem: Pexels)

Alerta constante

Uma vez atacada, a empresa deve sempre acionar uma equipe de resposta a incidentes, que pode ser interna ou contratada, e usar serviços de recuperação de dados especializados para essa tarefa. A consulta com advogados especializados também ajuda a entender as implicações legais e de conformidade de cada invasão. É importante ter em mente que a recuperação total dos dados nem sempre será possível, dependendo muito do tipo de ameaça, dos métodos protetivos e das ações de mitigação.

Segundo o MIT (Massachusetts Institute of Technology), a abordagem de cibersegurança deve ser holística e contínua, integrando treinamento de pessoal, atualização de tecnologias e desenvolvimento de uma cultura organizacional voltada para a segurança. O MIT destaca que a falha em tratar a cibersegurança como uma prioridade pode resultar em perdas financeiras significativas e danos à reputação das empresas.

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Os ataques cibernéticos não podem ser tratados como uma questão de se, mas sim de quando irão acontecer. Sendo assim, a cibersegurança não pode ser tratada apenas como um fator de tecnologia, mas como parte intrínseca da cultura organizacional. Investir em treinamentos contínuos e em ferramentas e soluções protetivas é essencial para defender dados e informações sigilosas de forma eficaz. Até por isso, é sempre importante ressaltar que, em um mundo digital, a proteção não é opção, mas sim uma necessidade.