Lagarto tem habilidade térmica bizarra

Descoberta impressionou cientistas, uma vez que este é o primeiro lagarto conhecido que não depende da temperatura externa do ambiente
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Lucas Soares 31/07/2024 08h12
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Imagem: reisegraf.ch/Shutterstock
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Alguns animais são capazes de regular a própria temperatura. Eles são chamados de endotérmicos e são formados, na sua maioria, por aves e mamíferos. Já os répteis e outras criaturas são ectotérmicos, dependendo da temperatura externa. No entanto, um lagarto chama a atenção por desafiar essa regra.

Regulação da temperatura acontece durante o período reprodutivo

  • Em 2016, pesquisadores descobriram que a espécie sul-americana teiú-comum (Salvator merianae) consegue regular a temperatura corporal sem depender do ambiente externo e sem tremer.
  • Isso acontece durante o período reprodutivo do lagarto.
  • A dúvida, no entanto, era entender como este processo acontecia.
  • Ao longo de três anos, a equipe colheu biópsias do músculo esquelético de dez teiús durante o verão e na primavera.
  • As amostras foram submetidas a análises bioquímicas e também a um calorímetro, aparelho que mede o calor emitido.
Espécie teiú-comum (Imagem: Diaz Aragon/Shutterstock)

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O que faz com que o lagarto consiga criar o próprio calor?

Os cientistas observaram que, durante o período reprodutivo, o músculo de machos e de fêmeas de teiú produzia muito mais mitocôndrias, organela que produz energia nas células. Além disso, uma proteína presente na mitocôndria chamada ANT, conhecida por um processo bioquímico que gera calor em aves, era mais presente e mais ativa no período reprodutivo.

Os pesquisadores explicam que é nessa época que as fêmeas do lagarto se preparam para a geração dos ovos e a construção de ninhos, enquanto os machos buscam território e aumentam as gônadas para se reproduzirem.

Outra proteína envolvida no processo de gerar calor, mas em mamíferos, a UCP, não se mostrou ativa durante os experimentos. Assim, o músculo coletado no período reprodutivo exibiu uma produção maior de calor do que no verão devido à atividade da ANT, não da UCP.

Aumento da produção de mitocôndrias possibilita aumento das temperaturas corporais (Imagem: Marcelo Morena/Shutterstock)

Até esta descoberta, os únicos répteis conhecidos por serem capazes de aumentar a temperatura corporal por conta própria eram duas espécies de pítons, grandes serpentes asiáticas que podem alcançar 5 metros de comprimento. O comportamento ocorre sobretudo durante a fase de chocar os ovos.

No entanto, o aquecimento da serpente ocorre quando os animais tremem, um recurso conhecido também em mamíferos e aves. Ao agitar os músculos, geram calor. O lagarto, por sua vez, não treme para aumentar a temperatura.

A regulação de calor pode estar relacionada com a produção de hormônios sexuais, que alcançam um pico no período reprodutivo tanto em machos (testosterona) quanto nas fêmeas (estradiol e progesterona). Outros hormônios abundantes nessa fase, como os da glândula tireoide, estão envolvidos no gasto energético e na mobilização das reservas de energia.

As descobertas foram descritas na Wiley Online Library

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.