A jovem Carolina Arruda, 27 anos, que tem neuralgia do trigêmeo e sofre da “pior dor do mundo”, vai passar a controlar eletrodos que estão conectados na base de seu crânio e medula via bluetooth.

A tecnologia permitirá que ela os controle em um aplicativo instalado em um iPod. Dessa forma, ela poderá estimular o nervo e impedir que a dor seja enviada ao cérebro.

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Como a conexão entre os eletrodos e o iPod é bluetooth, não precisa de internet. Ao g1, o médico Carlos Marcelo de Barros, diretor clínico da Santa Casa de Alfenas, informa que a paciente será capaz de emitir impulsos elétricos para estimular o nervo e, assim, “reprogramar” sua atividade anormal.

A gente vai gastar duas a três semanas para conseguir avaliar realmente a efetividade realmente dessa terapia para ela. A lesão continua lá, ela tem a lesão do nervo trigêmeo, mas o neuroestimulador vai controlar a dor.

Carlos Marcelo de Barros, médico e diretor clínico da Santa Casa de Alfenas, em entrevista ao g1

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À esquerda, Caroçina Arruda deitada em uma cama; à direita, o iPod com o aplicativo aberto
Carolina passa por adaptação aos neuroestimuladores (Imagem: Arquivo Pessoal/Carolina Arruda)

Neuroestimulação via bluetooth para evitar a pior dor do mundo

  • Segundo Barros, o gerador de impulso implantável envia corrente elétrica de baixa intensidade aos eletrodos;
  • Ela imita a onda elétrica emitida pelas fibras nervosas que conduzem a dor, comunicando-se com o sistema nervoso no mesmo “idioma”;
  • A localização dos eletrodos permite tratamento direcionado;
  • O eletrodo localizado na medula abrange os ramos V2 e V2, que é onde Arruda sente dor no lado direito;
  • Enquanto isso, o eletrodo do Gânglio de Gasser foca no lado esquerdo do corpo da moça, onde a dor é sentida nos ramos V1, V2 e V3.

O eletrodo é colocado sobre a estrutura-alvo que se deseja modular, ou seja, alvo que deseja receber a corrente elétrica. A modulação ocorre quando tentamos substituir um estímulo doloroso por um não doloroso. O estímulo elétrico é enviado pelo gerador e trazemos estruturas nervosas hiper-excitadas (na dor crônica) para o estado normal.

Um eletrodo foi colocado à esquerda do gânglio de Gasser e outros dois colocados no espaço epidural da coluna cervical. Esses eletrodos são conectados por fios – que ficam implantados também – [e vão] até o gerador, que fica dentro do paciente. O gerador que determina o que chega de neuroestimulação no eletrodo.

Carlos Marcelo de Barros, médico e diretor clínico da Santa Casa de Alfenas, em entrevista ao g1

Os neuromoduladores atuam 24h por dia ininterruptamente, com intensidade baixa a moderada. Quem ajusta o funcionamento do gerador que mantém o eletrodo funcionando e configura a forma da neuroestimulação são os médicos que acompanham a jovem.

“Durante estes ajustes ela relata como se sente, se sente estímulos e, a partir daí, deixamos o neuroestimulador funcionando. Mas, também, deixamos a opção para a própria paciente aumentar o estímulo caso ela sinta necessidade”, diz o médico.

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Segundo o médico, os eletrodos atual na estimulação do gânglio da raiz dorsal (DRG) e na estimulação medular (SCS).

No DRG, uma região importante para a passagem ou bloqueio da dor recebe estímulo de baixa energia. O objetivo do estímulo é fazer a estrutura voltar a atuar com sua função original, de filtro doloroso em situações normais e naturais.

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Na SCS, o estímulo ocorre no corno posterior da medula a partir de forma de onda de nome BURSTDR. Ela imita a forma natural de comunicação entre os neurônios, modulando regiões do sistema nervoso central, responsáveis por passar para o cérebro a informação da dor.

Os parâmetros utilizados pelos estímulos elétricos são ajustados por meio do programador clínico e sempre com orientação dos médicos.

O Dr. Barros aponta que “a mudança de parâmetros depende da anatomia do paciente e da resposta à terapia, e pode ser ajustada com o tempo e com a necessidade de cada momento da vida da paciente”.

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Como é a neuroestimulação para a paciente

Arruda conta que não sente dor quando recebe os impulsos elétricos. Quando ela sofre crises, acaba aumentando a intensidade dos impulsos para alívio da dor. Nesses momentos, ela sente algo similar a um formigamento.

Segundo a jovem, “quanto maior a intensidade, mais ‘choques’ ele dá em cima para ‘reprogramar’ o nervo”.

Apesar da tecnologia, a paciente seguirá tomando os medicamentos que já consumia antes da cirurgia que implantou os neurotransmissores, realizada no último sábado (27).

Arruda, desde então, está passando por processo de adaptação aos neuroestimuladores. Segundo os médicos, durante este processo, é normal que ela continue sentindo as dores causadas pela doença.

Contudo, o Dr. Barros explica que é necessário aguardar algumas semanas para se entender o resultado real da cirurgia. Espera-se que a estudante deixe o hospital entre quinta-feira (1) e sexta-feira (2).

Para entender como e o que é a neuralgia do trigêmeo, leia esta matéria do Olhar Digital. Aqui, você entende como foi a cirurgia de Carolina, que sente tantas dores, que, antes de ser convidada para o realizar o tratamento, resolveu realizar uma vaquinha para viajar à Suíça e passar por eutanásia, procedimento permitido no país europeu. Contudo, Arruda teve suas esperanças renovadas com o implante.

Neuralgia do trigêmeo
Neuralgia do trigêmeo (Imagem: Shutterstock)