A crença popular é que a vida complexa terrestre surgiu há 635 milhões de anos. Contudo, um novo estudo, publicado na Precambrian Research, atesta que isso aconteceu mais de 1,5 bilhão de anos antes.

Segundo a pesquisa, isso teria acontecido há 2,1 bilhões de anos. Porém, Há cientistas que acreditam não haver provas suficientes no estudo.

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Surgimento da vida e sua versão mais complexa

  • As primeiras formas de vida que surgiram na Terra (e que conhecemos) têm cerca de 3,5 bilhões a quatro bilhões de anos;
  • Elas vieram de Groenlândia, Canadá e Austrália, mas se tratavam de organismos microscópicos simples;
  • Portanto, a vida esperou mais “um pouquinho” até poder evoluir para algo mais complexo, como uma planta, um animal, ou nós;
  • No estudo recente, cientistas relatam antigo período de atividade vulcânica subaquática na Bacia Francevilliana, onde se encontra, hoje em dia, o Gabão, na África Central;
  • Os investigadores apontam que tal atividade ampliou a quantidade de fósforo e oxigênio no oceano, permitindo que a vida complexa tivesse condições ideais para existir.

Impressão artística de como seriam os "macrofósseis" da Bacia Francevilliana se estivessem vivos há 2,1 bilhões de anos
Impressão artística de como seriam os “macrofósseis” da Bacia Francevilliana se estivessem vivos há 2,1 bilhões de anos. (Imagem: Professor Abderrazzak El Albani da Universidade de Poitiers, França)

Nós já sabemos que aumentos nas concentrações de fósforo marinho e oxigênio na água do mar estão ligados a episódio de evolução biológica há cerca de 635 milhões de anos. Nosso estudo adiciona outro episódio muito anterior ao registro, 2,1 bilhões de anos atrás.

Ernest Chi Fru, professor sênior em ciências da Terra na Universidade de Cardiff (Reino Unido) e autor principal do estudo, em declaração

Não é a primeira vez que pesquisadores alegam que fósseis encontrados na região representam vida complexa. Isso aconteceu, originalmente, em 2010. Contudo, a evidência fóssil da Bacia Francevillan é debatida por pares – inclusive, se eram mesmo fósseis.

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Teoria do novo estudo

Os autores explicam que uma colisão entre crátons (estruturas geológicas antigas e estáveis da Terra que se formaram há centenas de milhares de anos durante a era Pré-Cambriana) do Congo e do São Francisco causou atividade vulcânica, preparando, assim, as condições para a vida complexa.

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Os pesquisadores analisaram amostras de rochas perfuradas da Bacia Francevillian, que trouxeram evidências de como eram as condições para a vida. Baseada nas composições geológica e química, a equipe imaginou um cenário onde os vulcões cortaram seção de água do restante do oceano, o que provocou a criação de um mar “interior” raso, mas rico em nutrientes.

Nesse mar, havia mais fósforo e oxigênio, o que permitiu às bactérias a prosperar e criou fonte de alimento para outros organismos mais complexos, que teriam evoluído.

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Chi Fru descreveu o cenário como “primeira tentativa” de vida complexa, pois as condições eram restritas àquele mar. O oceano que o rodeava não era lá muito hospitaleiro e rico em nutrientes, de modo que a vida complexa se espalhasse. Isso teria perdurado por cerca de 1,5 bilhão de anos.

“Embora a primeira tentativa não tenha conseguido se espalhar, a segunda [tentativa] criou a biodiversidade animal que vemos na Terra hoje”, disse Chi Fru. Só que nem todos os pesquisadores se convenceram do que foi exposto no estudo.

Um desses é Graham Shields, professor de geologia na University College London (Inglaterra), que não esteve envolvido na pesquisa. Ele diz ter algumas ressalvas com relação às descobertas.

Não sou contra a ideia de que havia nutrientes mais elevados há 2,1 bilhões de anos, mas não estou convencido de que isso possa levar à diversificação para formar vida complexa.

Graham Shields, professor de geologia na University College London (Inglaterra), em entrevista à BBC

Um exemplo de um "macrofóssil" do Gabão que poderia representar vida complexa
Exemplo de “macrofóssil” do Gabão que poderia representar vida complexa (Imagem: Professor Abderrazzak El Albani da Universidade de Poitiers, França)

Já Elias Rugen, estudante de doutorado que pesquisa o ciclo do carbono pré-cambriano no University College London (Inglaterra) e no Museu de História Natural de Londres (Inglaterra), que também não participou da pesquisa, afirma que são necessárias mais evidências para apoiar o que o estudo propõe. Contudo, concordou com algumas ideias dos investigadores.

“Não há nada que diga que a vida biológica complexa não poderia ter surgido e prosperado há 2 bilhões de anos”, afirmou Rugen.