Em buracos negros, pontos de não retorno são limites. Passou deles, não tem mais saída. Quando se pensa sobre mudanças climáticas, existem pontos de não retorno também (metaforicamente falando). E um estudo recente alerta que, atualmente, não sabemos com precisão quais são esses pontos e onde ficam.

O que preocupa é que caminhamos a passos largos em direção a esses pontos. A pesquisa, publicada na revista Science Advances, vai além. O texto alerta que se nossas observações e modelagens não melhorarem muito, quando percebermos quão próximos estão esses pontos de inflexão, será tarde demais.

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Limites das mudanças climáticas assombram cientistas há décadas

Esses pontos de inflexão fariam os efeitos das mudanças climáticas irem de desastrosos para catastróficos para a maior parte do planeta. Muitos pontos são locais, mas alguns de dimensão global têm assombrado especialistas em clima por décadas.

América do Sul vista do espaço
Embora caminhamos a passos largos para ultrapassar limites das mudanças climáticas, não se sabe com precisão quais são eles (Imagem: Crazy Owl Productions/Shutterstock)

Entre esses pontos de inflexão, estão:

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  • Maior parte (ou toda) a Floresta Amazônica ir de floresta tropical para savana;
  • Derretimento acelerado do permafrost da tundra e dos hidratos de metano oceânicos;
  • Colapso da Circulação Meridional do Atlântico (AMOC) – exemplo aprofundado na pesquisa – e das nuvens estratocumulus;
  • Recuo de alguns dos glaciares do planeta para além de certos pontos de sustentação.

Se adicionássemos gases do efeito estufa suficientes à atmosfera, todos esses provavelmente aconteceriam. Resultado: a vida se tornaria insuportável para a maior parte da humanidade.

No entanto, os autores do estudo apontam que temos poucas chances de saber o que seria necessário para desencadear cada um.

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Principais incertezas sobre limites das mudanças climáticas

Segundo os pesquisadores, há três principais fontes de incerteza em nossas estimativas do que desencadearia cada ponto de inflexão. São eles:

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  • Modelos dos mecanismos físicos por trás dos pontos de inflexão são pelo menos um pouco simplistas e podem não capturar totalmente as razões pelas quais as inflexões anteriores ocorreram;
  • Observações dos sistemas relevantes nem sempre podem ser tão representativas quanto aqueles que fazem modelos desses sistemas assumem;
  • Dados históricos (tanto de observações diretas quanto de proxies climáticas) cobrem apenas uma fração dos locais e tempos necessários para entender o comportamento passado.
Cidade em dia quente
Com gases do efeito estufa suficientes na atmosfera, vida ficaria insuportável na Terra (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Além disso, esforços para preencher as lacunas estatisticamente não são tão confiáveis quanto alguns pesquisadores pensam.

“Nossa pesquisa é tanto um alerta quanto um conto cautelar”, diz a autora principal, Maya Ben-Yami, em comunicado. “Há coisas que ainda não podemos prever, e precisamos investir em dados melhores e em um entendimento mais profundo dos sistemas em questão. Os riscos são altos demais para confiar em previsões instáveis.”