Em uma conquista histórica, a China trouxe para a Terra as primeiras amostras do lado oculto da Lua. Utilizando uma broca e uma concha robótica, a missão Chang’e 6 coletou cerca de 2 kg de rochas e solo. Essas amostras chegaram no dia 25 de junho e podem ajudar a contar a história do planeta.

A missão Chang’e 6 dá continuidade às realizações das missões anteriores da China, Chang’e 4 e Chang’e 5. Enquanto a Chang’e 4 foi a primeira a pousar no lado oculto da Lua e explorar a superfície com um rover, a Chang’e 5 retornou amostras do lado visível do satélite natural da Terra.

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Agora, com as amostras do lado oculto, os cientistas esperam obter novos conhecimentos sobre a geologia lunar e aprofundar a compreensão da história inicial da Terra e do Sistema Solar.

missão chang'e 6
Abertura da cápsula com as amostras lunares coletadas pela missão Chang’e 6, da China. Crédito: CCTV via Live Science

Lado oculto da Lua é diferente da face visível

Desde que a missão Luna 3, da então União Soviética, em 1959, revelou as primeiras imagens do lado oculto da Lua, os especialistas ficaram intrigados com as diferenças entre os dois lados do satélite. 

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De acordo com Jeffrey Gillis-Davis, professor pesquisador de Física, Artes e Ciências na Universidade de Washington, em um artigo para o site The Conversation, o lado visível, que está sempre voltado para a Terra, possui cerca de um terço de sua superfície coberta por planícies escuras e lisas, enquanto o lado oculto tem apenas 1% de sua área composta por essas planícies. Essas planícies escuras, na verdade, são antigas formações de lava vulcânica, semelhantes às encontradas na Terra, em locais como o Havaí.

Até o momento, apenas as missões Chang’e 4 e Chang’e 6 conseguiram pousar no lado oculto da Lua, o que é um feito desafiador devido à necessidade de uma segunda espaçonave para transmitir informações entre o módulo de pouso e a Terra. Para isso, a China utilizou o satélite Queqiao-2, lançado em março, garantindo a comunicação necessária.

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A espaçonave Chang’e 6 pousou em 6 de junho dentro da colossal bacia do Pólo Sul-Aitken, a maior cratera de impacto do Sistema Solar, com cerca de 2.500 km de largura e 8 km de profundidade. Essa bacia é uma formação em forma de tigela criada pelo impacto de um asteroide, e acredita-se que tenha exposto materiais do interior profundo da Lua, o que fornece uma oportunidade única para os cientistas que analisarem essas amostras.

Bacia do Polo Sul-Aitken, a maior cratera de impacto do Sistema Solar. Crédito: NASA Goddard

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Ao estudar as amostras da Chang’e 6, os pesquisadores esperam desvendar os mistérios sobre as diferenças geológicas entre os dois lados da Lua. As análises das rochas vulcânicas poderão revelar por que o lado visível apresenta muito mais depósitos vulcânicos e permitirão comparar as idades dessas formações com as do lado visível, que datam de 3,9 a 3,2 bilhões de anos atrás.

Medir as idades das rochas coletadas também ajudará a refinar métodos de estimativa da idade das formações superficiais nos planetas, como a contagem de crateras. A precisão desses métodos pode ser aprimorada com a análise direta das amostras, proporcionando uma melhor compreensão da história geológica da Lua.

Além disso, os cientistas acreditam que o local de pouso da Chang’e 6 pode conter materiais do manto lunar, oferecendo pistas sobre como a Lua evoluiu de um oceano de magma para a estrutura geológica atual, com crosta, manto e núcleo.

Maior cratera de impacto do Sistema Solar contém pistas do passado da Terra

E o que talvez seja o mais interessante nisso tudo é que as amostras também podem fornecer informações valiosas sobre a história da Terra. Cerca de quatro bilhões de anos atrás, um intenso bombardeio de asteroides e cometas atingiu os planetas rochosos do Sistema Solar, incluindo o nosso, em um período conhecido como “cataclismo lunar”. Estudar as rochas da bacia do Pólo Sul-Aitken pode ajudar a entender se esses impactos ocorreram em um período curto ou ao longo de centenas de milhões de anos.

A missão Chang’e 6 representa um presente científico inestimável para a comunidade global, que poderá estudar essas amostras por gerações. Em 2023, a China já havia disponibilizado amostras da Chang’e 5 para pesquisadores internacionais, e espera-se que o mesmo aconteça com as amostras da Chang’e 6, apesar das restrições impostas pela Emenda Wolf – que proíbe a NASA de usar fundos do governo para se envolver em cooperação bilateral direta com o governo chinês e organizações afiliadas ao país asiático sem autorização.

Os planos futuros da China incluem as missões Chang’e 7 e 8, previstas para 2026 e 2028, que vão explorar o polo sul lunar em busca de gelo e outros recursos, preparando o caminho para a Estação Internacional de Pesquisa Lunar, planejada para 2030.