IA desvenda mistérios de um dos textos mais antigos da Humanidade

Pesquisadores usaram IA para acelerar tradução de novas peças do Épico de Gilgamesh, história que inspirou parte importante da Bíblia cristã
Pedro Spadoni14/08/2024 11h27
Estátua de Gilgamesh
Estátua de Gilgamesh (Imagem: Reprodução/BBC)
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A inteligência artificial (IA) tem ajudado pesquisadores a traduzir um dos textos mais antigos da Humanidade: o Épico de Gilgamesh, história sobre um rei divino escrita há quase quatro mil anos onde hoje é o Iraque. Até então, o processo era lento. Com a IA, desvendar mistérios do épico ficou mais fácil e rápido.

IA ajuda pesquisadores a traduzir epopeia escrita há quase 4 mil anos

  • A IA está sendo usada para traduzir o Épico de Gilgamesh, um dos textos mais antigos da Humanidade. A tecnologia tornou o processo mais fácil e rápido;
  • Redescoberto no século 18, o Épico de Gilgamesh ainda contém trechos incompletos ou não traduzidos. A expectativa é que uma versão completa, montada com ajuda da IA, seja publicada em breve;
  • Sob a liderança de Enrique Jiménez, a equipe do projeto Fragmentarium usa aprendizado de máquina para juntar digitalmente fragmentos de tabuletas com escrita cuneiforme. Isso acelerou o trabalho que antes dependia exclusivamente de assiriólogos humanos;
  • A tecnologia de IA ajudou a descobrir segmentos e centenas de palavras perdidas do épico. Isso aumenta a esperança de que futuras conexões entre escritos antigos possam ser estabelecidas e que eventualmente a história completa de Gilgamesh seja acessível.

O Épico de Gilgamesh foi redescoberto a partir do século 18, mas vários de seus trechos estavam incompletos ou sem tradução. Agora, a expectativa é que a versão montada com a ajuda da IA seja publicada em breve. E uma reportagem do jornal New York Times explora essa trajetória.

Pesquisadores usam IA para traduzir história que inspirou parte da Bíblia

No projeto Fragmentarium, a IA traduz a escrita cuneiforme, ajudando a preencher algumas lacunas da epopeia – que serviu de inspiração para o dilúvio citado na Bíblia cristã.

Fragmentos têm ressurgido à medida que tabuletas são descobertas em escavações arqueológicas, encontradas em depósitos de museus ou identificadas no mercado negro.

Livro de história aberto na parte sobre o Épico de Gilgamesh
Ainda falta cerca de 30% do Épico de Gilgamesh para se traduzir e decifrar (Imagem: joshimerbin/Shutterstock)

Para você ter ideia, existem cerca de meio milhão de tabuletas de argila nas coleções mesopotâmicas de vários museus e universidades mundiais, além de muitos mais fragmentos de tabuletas.

Como existem pouquíssimos especialistas em cuneiforme, muitos desses escritos permanecem não lidos e/ou não publicados. No caso do Épico de Gilgamesh, ainda falta cerca de 30%.

Leia mais:

Pesquisador segurando tabuleta com parte do Épico de Gilgamesh
Professor Enrique Jiménez lidera projeto que usa IA para acelerar tradução de um dos textos mais antigos da Humanidade (Imagem: Universidade Ludwig Maximilian, de Munique)

Liderado por Enrique Jiménez, professor no Instituto de Assiriologia da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, a equipe do Fragmentarium usa aprendizado de máquina para juntar fragmentos de tabuletas digitalizados em um ritmo muito mais rápido do que um assiriólogo humano poderia.

Até agora, a IA ajudou os pesquisadores a descobrir novos segmentos de Gilgamesh, bem como centenas de palavras e linhas perdidas de outras obras.

Épico de Gilgamesh é apenas um dos mistérios que podem ser desvendados com a ajuda da IA

De 2018 para cá, a equipe de Jiménez combinou com sucesso mais de 1.500 peças de tabuletas. Entram aqui 20 fragmentos de Gilgamesh que adicionam detalhes a mais de 100 linhas da epopeia. E Jiménez está otimista de que a IA permitirá que pesquisadores estabeleçam mais conexões entre escritos antigos.

Sua equipe concluiu seu trabalho com o Museu Britânico. Agora, trabalha com colegas no Museu do Iraque, em Bagdá, onde espera encontrar mais peças de Gilgamesh. Quem sabe, vivamos para ler a história completa.

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.