Cientistas desmentem (mais uma vez) que o Homo naledi, criatura apresentada pelo documentário da Netflix “Explorando o Desconhecido: Caverna de Ossos” como um possível “elo perdido” que poderia mudar por completo a visão que temos hoje sobre a evolução dos seres humanos.

Tudo começa com o documentário que é apresentado pela Netflix como uma na qual “cientistas examinam fósseis de mais de 250 mil anos, que levantam dúvidas sobre a nossa evolução e o que realmente significa ser humano”. Polêmico? Sem dúvidas.

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O fato é que especialistas agora apresentaram estudos que apontam como o Homo naledi pode não ter mudado a história radicalmente como pode-se concluir com a descrição acima.

A polêmica do Homo naledi

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O Homo naledi é uma espécie de hominídeo que foi recém-descoberta (identificada pela primeira vez em 2015.)

O fato intrigante sobre o possível ancestral é que ele teria hábitos que, até então, foram identificados apenas em neandertais e em Homo sapiens.

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De acordo com a equipe de especialistas liderada pelo paleontólogo Lee Berger, o principal fator nessa história é que o primata teria intencionalmente enterrado seus mortos.

Estamos falando de algo que teria acontecido há mais de 240 mil anos e, ademais, o Homo naledi também teria decorado as sepulturas com marcações abstratas – algo bastante avançado para alguém com um cérebro tão pequeno quanto o de um chimpanzé.

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A afirmação da equipe se tornou ainda mais intrigante porque, se comprovada, estaríamos falando de algo que se passou bem antes dos 100 mil anos em que foi identificado esse mesmíssimo comportamento no Homo sapiens.

E é justamente esta história que ganhou o mercado e culminou no documentário da Netflix.

Mas, da mesma maneira que a descoberta se espalhou rapidamente, ela também levantou dúvidas e provocou ceticismo na comunidade acadêmica.

Eis que especialistas revisaram os artigos da equipe de Berger e concluíram que as provas eram “incompletas e inadequadas, e não deveriam ser vistas como estudos finalizados”.

Isso foi o que afirmou George Perry, da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA) ao revisar um dos artigos.

Embora ele também tenha dado os devidos créditos à descoberta dos fósseis de Homo naledi, classificando-a como “inquestionavelmente importante para a paleoantropologia”.

[…] É um achado verdadeiramente surpreendente e um local importante, sendo que as informações sobre este site devem continuar a ser produzidas para que mais possa ser conhecido. É igualmente importante que os artigos produzidos no local sejam totalmente revisados seguindo o rigor científico
George Perry

Desmistificando a história do Homo naledi

Nesse novo artigo, outro grupo de investigadores apresentou provas de que as conclusões de Lee Berger são infundadas.

A teoria do ritual de enterro é baseada na identificação de 15 esqueletos de Homo naledi encontrados no fundo da caverna Rising Star, na África do Sul.

Os restos mortais estavam em um local de difícil acesso até o qual espeleólogos (especialistas que estudam a formação e constituição das cavidades geológicas naturais) levaram mais de meia hora para chegar.

Além disso, os restos estavam dispostos em uma posição aparentemente ordenada.

Ademais, foram não apenas encontrados em uma cova rasa, como também estavam cobertos com terra – o que reforçou a ideia de “funeral organizado”. 

Foto mostra a paleontóloga Kimberly Foecke segurando o crânio de um Neandertal
A paleontóloga Kimberly Foecke, autora do estudo que reavalia o hábito do Homo naledi. Imagem: George Mason University

No entanto, reanalisando os dados geoquímicos e sedimentológicos apresentados pelos autores originais, os novos especialistas concluíram que não há evidências de que uma porção de terra foi deslocada com intuito de sepultar corpos.

Isso descartaria a ideia de que um enterro propriamente dito foi, de fato, realizado.

Os especialistas, no entanto, ainda não conseguiram justificar a posição particular em que os ossos de Homo naledi foram encontrados.

“Espero que este [novo] trabalho seja capaz de criar algum ceticismo no público quando se trata de pesquisas arqueológicas”, disse, via comunicado, a professora Kimberly Foecke, membro do departamento de antropologia da Universidade George Mason, na Virgínia (EUA) e uma das autorarias da pesquisa publicada no jornal PaleoAnthropology.