Após quase sumir do mapa, cidade na Turquia quer ser à prova de terremotos

Consórcio traça estratégia para reconstruir Antakya, uma das cidades mais afetadas pelos terremotos na Turquia – e o plano é ambicioso
Por Pedro Spadoni, editado por Lucas Soares 19/08/2024 10h33, atualizada em 19/08/2024 14h26
Destruição causada por terremotos em Antakya, na Turquia, vista de baixo para cima
Destruição causada por terremotos em Antakya, na Turquia, em 2023 (Imagem: baybars can/Shutterstock)
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A cidade de Antakya (ou Antioquia) foi uma das mais atingidas pelos dois terremotos que abalaram o sul da Turquia em fevereiro de 2023. Agora, a empresa de arquitetura “Foster + Partners” planeja reconstruir, revitalizar e blindar a cidade contra desastres naturais, principalmente terremotos.

A Foster foi contratada pelo Conselho de Design da Turquia, uma organização não governamental, seis meses após os terremotos. Sua missão é liderar um consórcio internacional de equipes no desenvolvimento de uma estratégia para reconstruir a região.

O sul da Turquia e o norte da Síria foram atingidos por terremotos de magnitude 7,8 e 7,5 no ano passado. Em Antakya, quase 80% das construções foram danificadas a ponto de não ter conserto. A devastação por lá foi “além da imaginação”, disse Nicola Scaranaro, da empresa de arquitetura, em entrevista à CNN.

Empresa tem plano para blindar cidade na Turquia contra terremotos (e outros desastres naturais)

A ideia da empresa é reconstruir a cidade de forma que a nova estrutura a proteja contra terremotos, enchentes e outros desastres naturais. Mas este é o tipo de missão muito mais fácil de colocar no papel do que tirar dele.

Visão aérea da cidade de Antakya, na Turquia, reconstruída após terremotos
Consórcio liderado por empresa de arquitetura planeja deixar Antakya, na Turquia, à prova de terremotos e outros desastres naturais (Imagem: Foster + Partners)

Para começar, a cidade fica no pé do Monte Habib Neccar, no vale do Rio Asi. Sua proximidade com o rio significa que o impacto destrutivo dos terremotos é exacerbado pela liquefação do solo. Esse fenômeno faz com que o solo perca sua rigidez e se comporte mais como líquido (daí o nome).

Com edifícios ao longo das margens do Asi, enchentes também têm representado um perigo há muito tempo para quem mora em Antakya. Segundo estimativas da Foster, mais de 45 mil moradores em 2,5 milhões de metros quadrados corriam risco de serem afetados por enchentes. E as mudanças climáticas aumentam esse perigo.

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O plano

Ilustração de pessoas em espaço verde de convivência na versão reconstruída de Antakya, na Turquia
Plano para reconstruir Antakya inclui ampliação de número de espaços urbanos verdes (Imagem: Foster + Partners)

A arquitetura e o design das ruas atuarão como a primeira linha de defesa contra o impacto dos terremotos. E edifícios compactos deverão lidar melhor com a atividade sísmica do que as grandes e longas estruturas em forma de L que antes se espalhavam por Antakya.

Os “superquarteirões” de bairro, inspirados nos de Barcelona, promoveriam zonas livres de carros. Eles também iriam garantir múltiplas rotas na sequência de um desastre; tanto para serviços de emergência quanto para moradores.

Essa configuração também beneficia a qualidade de vida, segundo Scaranaro. Isso porque diminuiria o tráfego de veículos e aumentaria o número de espaços urbanos verdes.

Visão aérea da cidade de Antakya, na Turquia, reconstruída após terremotos
Espaços verdes ao longo das margens do rio Asi serviriam como “zona tampão” em dias de enchente (Imagem: Conselho de Design da Turquia)

Esses espaços verdes podem desempenhar um papel integral na proteção contra inundações, acrescentou ele. A ideia é marcar muitas faixas de terras ao longo do rio para não reconstruir prédios.

Em vez disso, margens contínuas do rio e parques preencherão essas áreas de alto risco. Seria uma “zona tampão” natural quando as margens transbordarem, absorvendo a água das enchentes.

Plantados com espécies nativas, a rede de espaços verdes e parques comunitários locais proporcionaria habitats vitais para a flora e a fauna. E funcionaria como “corredores verdes” para a movimentação da vida selvagem.

O consórcio liderado pela Foster deseja estabelecer um “novo modelo cooperativo para a revitalização de cidades atingidas por desastres” em todo o mundo. É uma abordagem centrada no clima que, segundo Scaranaro, tem sido muito negligenciada. E o preço por isso se paga em vidas e sofrimento.

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Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.