Detritos de Marte frequentemente chegam à Terra após impactos poderosos atingirem a superfície do Planeta Vermelho, lançando fragmentos no espaço – e pelo menos 10 desses eventos ocorreram na história recente do nosso vizinho. 

Quando essas colisões gigantescas acontecem, pedaços de rochas são arremessados com tal força que escapam da gravidade marciana, entrando em órbita ao redor do Sol, e alguns eventualmente caem na Terra.

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Marte é golpeado constantemente por colisões espaciais, ejetando detritos que se espalham no espaço, muitos deles chegando à Terra. Crédito: Jurik Peter – Shutterstock

Pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, estudaram as origens de 200 desses meteoritos, rastreando-os até cinco crateras de impacto em duas regiões vulcânicas de Marte: Tharsis e Elysium. 

Maioria dos meteoritos que caem na Terra não passa de poeira

Chris Herd, professor de ciências e curador da coleção de meteoritos da instituição, explicou em um comunicado que agora é possível agrupá-los por sua história comum e identificar suas localizações na superfície de Marte antes de chegarem à Terra.

Cerca de 48,5 toneladas de material meteorítico chegam à superfície da Terra diariamente, segundo a NASA. A maioria, no entanto, se reduz a minúsculas partículas de poeira. 

Embora seja difícil determinar as origens desses fragmentos, na década de 1980, cientistas suspeitaram que um grupo específico de meteoritos, com idades em torno de 1,3 bilhão de anos, tivesse origem vulcânica. Isso sugeria que eles vieram de um corpo celeste com atividade vulcânica recente, e Marte se tornou o principal suspeito. A confirmação veio quando as sondas Viking, da NASA, compararam a composição da atmosfera marciana com gases presos nesses meteoritos.

Um meteorito marciano conhecido como Amgala 001, encontrado no Saara Ocidental, em 2022. Crédito: Wikimedia Commons/Steve Jurvetson

Determinar a localização exata de onde esses meteoritos vieram em Marte sempre foi um desafio. A equipe de pesquisa apontou que essa dificuldade decorre do uso de uma técnica chamada correspondência espectral, que analisa a composição de materiais a partir dos padrões de luz que eles absorvem ou emitem. No entanto, essa técnica é limitada por fatores como a variabilidade do terreno e a cobertura de poeira, que podem distorcer os sinais espectrais, especialmente em áreas mais jovens como Tharsis e Elysium.

Identificar precisamente as origens desses meteoritos marcianos pode ajudar os cientistas a reconstruir melhor o passado geológico de Marte. Herd destacou que isso permitiria uma recalibração da cronologia de Marte, oferecendo novas perspectivas sobre a história do planeta. “Permitiria a recalibração da cronologia de Marte, com implicações para o tempo, duração e natureza de uma ampla gama de grandes eventos ao longo da história marciana”, disse ele. “Eu chamo isso de elo perdido – para poder dizer, por exemplo, que as condições sob as quais esse meteorito foi ejetado foram atendidas por um evento de impacto que produziu crateras entre 10 e 30 quilômetros de diâmetro”.

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Modelos simulam ejeções dos meteoritos de Marte

Segundo Herd, a equipe usou simulações de alta resolução para modelar o processo de ejeção dos meteoritos, determinando o tamanho das crateras de onde eles foram lançados e as profundidades das rochas antes do impacto.

Esses dados permitiram estimar as pressões de choque e a duração em que as rochas foram expostas a essas pressões, analisando características específicas nos meteoritos, como mudanças minerais e padrões de fratura. As estimativas de profundidade, embora incertas, foram comparadas com a geologia local das possíveis crateras de origem e as idades dos meteoritos.

O professor concluiu que essa abordagem permite restringir as crateras potenciais e talvez até reconstruir a estratigrafia vulcânica de Marte, ajudando a entender melhor os eventos vulcânicos e o impacto de meteoritos no planeta durante o chamado período amazônico, cerca de 3 bilhões de anos atrás.