Um composto que imita o hormônio prostaglandina F2α, frequentemente utilizado para induzir contrações e estimular o parto, pode ter uma nova função: proteger o cérebro contra o acúmulo de toxinas que provocam o desenvolvimento do Alzheimer.

A descoberta foi realizada por cientistas da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. Durante experimentos com ratos, eles observaram que o medicamento também estimulava músculos em um sistema de “limpeza” do cérebro. O estudo foi publicado na revista Nature Aging.

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As “bombas” de limpeza do cérebro

No nosso cérebro e medula espinhal flui um líquido chamado fluido cerebrospinal (LCR), rico em nutrientes. À medida que corre pelo sistema nervoso, retém resíduos que posteriormente precisam ser eliminados. Os vasos linfáticos são responsáveis por bombear esse líquido “sujo” do cérebro para os gânglios linfáticos do pescoço, onde ele é “limpo”.

Esse sistema de reciclagem serve para manter o cérebro saudável. Em humanos, o processo de limpeza se repete pelo menos de três a cinco vezes por dia. No entanto, com o passar do tempo, pode se tornar mais lento e perder eficiência, aumentando o risco de declínio cognitivo.

Vasos linfáticos cervicais que drenam o fluido cerebrospinal do cérebro. Com o tempo, eles perdem eficiência, aumentando o risco de Alzheimer. – Imagem: Universidade de Rochester/J. Adam Fenster

Não faz muito tempo, o sistema glinfático, como é chamado medicamente, foi apontado como um dos grandes culpados pelo desenvolvimento de condições inflamatórias cerebrais, como demência, Alzheimer e doença de Parkinson.

Leia mais:

Medicamento para induzir o parto estimula o sistema de reciclagem do cérebro

  • Observando o sistema de reciclagem dos ratos, os cientistas descobriram que os vasos linfáticos dos mais velhos drenam o LCR 63% mais lentamente.
  • A prostaglandina F2α mostrou-se uma ótima opção para reverter esse declínio.
  • Ao aplicar o medicamento que imita o hormônio nos vasos dos ratos mais velhos, foi observada uma melhora no fluxo de LCR comparável ao de camundongos mais jovens.
  • Os pesquisadores acreditam que recuperar a função dos vasos pode tornar a limpeza de toxinas do cérebro mais eficaz e ajudar a impedir o progresso do Alzheimer.
A limpeza do LCR em ratos jovens e velhos, com e sem tratamento – Imagem: Nature Aging

Será que vai dar certo em humanos?

Apesar de ser um avanço promissor, não há certeza de que funcionará em humanos. Novos estudos precisam ser conduzidos nessa direção. Acredita-se que o uso combinado do composto com outros tipos de intervenções pode dar uma base mais sólida de resultados para um futuro tratamento eficaz do Alzheimer.

O sistema glinfático ainda é uma descoberta recente. Nos ratos, foi identificado em 2012 e depois confirmado em humanos. As informações são reveladas conforme a pesquisas avançam e podem mudar o que já sabemos. Mas certamente, ainda ouviremos falar muito sobre esse mecanismo.