O tempo é crucial em situações médicas urgentes. Por exemplo, em um acidente de carro, a vítima que sofre sérias lesões precisa ser transportada rapidamente para o hospital. Se demorar muito, o corpo do paciente pode não suportar os danos e ele pode falecer no caminho.

Induzir uma espécie a hibernação, onde o organismo esfria e os processos metabólicos desaceleram, pode ajudar a ganhar tempo nessas situações e salvar vidas. No entanto, ainda é muito difícil realizar esse tipo de manobra sem recursos específicos. Um novo estudo, no entanto, fez uma descoberta que pode mudar isso.

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Pesquisadores do Instituto Wyss de Engenharia Biológica Inspirada, parte da Universidade de Harvard, encontraram um medicamento que pode induzir um estado chamado torpor em girinos. A substância em questão é utilizada no tratamento do Alzheimer. O estudo foi publicado na ACS Nano.

Girinos foram induzidos à hibernação com medicamento para Alzheimer em experimento – Imagem: Shutterstock/Kurit Afshen

O que é o estado de torpor?

O torpor é um estado de dormência semelhante à hibernação. Diversos animais conseguem entrar nele por dias e até semanas. Quando isso acontece, o organismo deles experimenta uma queda de temperatura e uma desaceleração dos processos metabólicos que ajudam a guardar energia. Geralmente, esse momento ocorre quando existem poucos recursos alimentares.

A ideia de induzir humanos a este estado não é nova. Resfriar e desacelerar o metabolismo ajuda a reduzir lesões e problemas de longo prazo decorrentes de condições graves. Mas somente hospitais bem equipados conseguem fazê-lo.

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Medicamento pode simplificar o processo de hibernação artificial

Uma forma de simplificar a indução de hibernação em humanos é encontrar um medicamento que possa provocá-la. A SNC80 foi a primeira droga encontrada que deu certo em testes com girinos, mas, nos humanos, poderia provocar convulsões, então foi descartada.

Com a ajuda de um algoritmo computacional baseado em aprendizado de máquina, cientistas buscaram outras opções semelhantes e o melhor candidato foi o cloridrato de donepezila (DNP, sigla em inglês), medicamento usado no tratamento do Alzheimer.

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Um medicamento poderia simplicar a hibernação induzida -Imagem: Toonus/Shutterstock

Experimento bem-sucedido

  • O cloridrato de donepezila foi testado em um grupo de girinos.
  • Apesar de conseguir induzi-los ao torpor, após a administração de 2 a 3 horas, os animais começaram a apresentar toxicidade.
  • Para contornar o problema, os pesquisadores prenderam os girinos em uma cápsula com uma nanoemulsão.
  • Isso permitiu induzir o torpor por mais tempo, sem causar danos aos animais e reduzindo a mobilidade, frequência cardíaca e consumo de oxigênio.
  • Segundo os cientistas, a indução foi totalmente reversível.

O DNP já é aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA, tem baixa toxicidade, pode ser administrado facilmente e produzido em escala. Com certeza, tem potencial para ser aplicado em humanos no futuro. Embora ainda demore muito até que o medicamento esteja presente nas ambulâncias, a ideia é promissora.