O lítio é ingrediente essencial na produção de um dos dispositivos mais importantes dos últimos anos: baterias para eletrônicos e carros elétricos. No entanto, a extração do metal levanta preocupações ambientais, como uso desenfreado de recursos hídricos, inclusive em um vizinho brasileiro.

Uma das maiores produtoras de lítio do mundo é a Argentina. Se por um lado o boom da extração trouxe benefícios econômicos a moradores de regiões próximas às minas, também trouxe consequências ambientais.

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Lítio pode ser extraído tanto direto de rochas, quanto de salinas, como é o caso da Argentina (Imagem: Steve Morfi/Shutterstock)

Argentina é uma das maiores produtoras de lítio

  • A Argentina é o quarto maior produtor mundial de lítio;
  • Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, cerca de 56% das 89 milhões de toneladas de recursos feitos com o material encontrados ao redor do planeta vêm de nosso vizinho;
  • A Argentina, junto a Chile e Bolívia, forma o “triângulo do lítio” da América Latina;
  • Não por acaso, duas novas plantas de produção do metal foram inauguradas na Argentina, sendo uma do grupo de mineração francês Eramet e outra da chinesa Tsingshan.

Plantas de extração de lítio movimentam economias locais – a um preço (Imagem: Freedom_wanted/Shutterstock)

Boom de lítio traz benefícios econômicos para o país

A demanda por lítio agrada moradores de Susques, cidade argentina com menos de quatro mil habitantes – e onde uma empresa de extração está instalada.

Anahi Jorge, 23 anos, é uma das funcionárias da companhia. Ela relatou à AFP (republicada pelo TechXplore) que ganha cerca de US$ 1,7 mil por mês (pouco mais de R$ 9,3 mil, na conversão direta), um salário acima da média na região.

Ela contou como outras mulheres jovens, como ela, não tinham outra opção de trabalho por lá e tiveram de se mudar para cidades maiores para trabalhar como empregadas domésticas. Em país em crise e com oscilações econômicas, a oferta do lítio “é muito difícil de recusar”.

A agência também relatou como outros moradores de Susques, muitos deles indígenas, usaram economias de anos trabalhando nas minas de lítio para abrir suas próprias empresas, de transporte ou hotelaria.

Bateria de carro elétrico via Chuttersnap/Unsplash
Apesar de a indústria automotiva já estar se movimentando em prol de novos materiais, lítio continua sendo fundamental (Imagem: Chuttersnap/Unsplash)

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Por outro lado, mineral traz malefícios

O representante da cidade de Susque, Benjami Vazquez, afirmou que 60% da população trabalha com lítio. Apesar do boom econômico causado pelo metal, a situação não é exatamente estável: em 2022, o preço da tonelada era de US$ 70 mil (R$ 385,65 mil); este ano, está em pouco mais de US$ 12 mil (R$ 66,11 mil).

Camila Cruz, 19 anos, compartilha dessa preocupação. Ela contou como boa parte da população termina o ensino médio para trabalhar na mineração, mas que sabe que esse ofício não vai durar para sempre.

Isso porque, ao contrário da Austrália, onde o metal é extraído diretamente da rocha, o lítio argentino vem de salinas, onde a água salgada contendo o material é trazida por lagos subterrâneos e passa por processo até evaporar (deixando apenas o metal).

Nesse processo, entre um e dois milhões de litros de água salgada são evaporados para cada uma tonelada de lítio, sem contar outros 14 mil litros de água doce para limpar o material.

Jorge, a mulher que trabalha com lítio, reconhece que a “questão da água” é prejudicial. Além do impacto nas redes subterrâneas, o uso em excesso coloca em risco a disponibilidade de água na Argentina e torna a região mais propensa a secas prolongadas.

Natividad Bautista Sarapura, 59 anos, moradora de Susques, relatou que, no campo, simplesmente não há água para subsistência do gado. Antes, ela tinha que cavar cerca de dois a três metros para encontrar o líquido. Agora, nem assim.

A Organização das Nações Unidas (ONU), no Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial da Água de 2024, chamou atenção para o risco do lítio que vem de salinas. O documento afirma que a atividade “tem grandes impactos nas águas subterrâneas e na vida das comunidades locais, bem como no meio ambiente”.