As enchentes no Rio Grande do Sul e as constantes ondas de calor que assolam o mundo são algumas das consequências das mudanças climáticas – que devem se intensificar nos próximos anos. Além de limitar o aumento na temperatura global e frear as emissões de gases poluentes, mais estratégias já estão sendo implementadas para prevenir ou minimizar os efeitos dos desastres ambientais.

Uma delas é o conceito de cidades-esponjas, que une paisagismo e planejamento hídrico para evitar inundações e enchentes nos centros urbanos. O Olhar Digital detalhou sobre elas nesta reportagem, que destaca Curitiba como um dos locais que adota esta estratégia. No entanto, para o climatologista Carlos Nobre, em uma coluna publicada no UOL, o Brasil ainda não tem uma cidade-esponja e estamos há alguns passos de chegar lá.

publicidade
Curitiba é considerada por alguns como uma cidade-esponja (Imagem: Black Layer Creative/Shutterstock)

O que são as cidades-esponja?

  • Segundo Nobre, as cidades-esponja são modelos de gestão sustentável de águas pluviais. O conceito nasceu na China para lidar com problemas de água urbana causados por mudanças climáticas e urbanização (como as constantes enchentes por lá);
  • O conceito descreve uma área urbana que une paisagismo e planejamento hídrico para lidar com inundações, enchentes e ilhas de calor;
  • Esse planejamento envolve a presença de amplas áreas verdes e sistemas de drenagem e irrigação natural;
  • A ideia é que a drenagem urbana das águas da chuva funcione como uma esponja, absorvendo, armazenando e limpando a água para reutilização.
Enchentes no Rio Grande do Sul chamaram atenção para necessidade de planejamento hídrico urbano (Imagem: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

Por que precisamos desse conceito na prática?

Além de alterar as temperaturas ao redor do mundo, as mudanças climáticas também afetam os padrões de precipitação, causando inundações em alguns lugares e secas extremas em outros.

Nas cidades, os danos desses eventos climáticos ficam ainda pior. Um exemplo disso é a tragédia no Rio Grande do Sul, quando a enchente história afetou 96% dos municípios do estado. Essa preocupação aumenta considerando que cerca de 4,6 bilhões de pessoas no mundo vivem nas cidades – e mais 2,5 bilhões devem ocupar esses espaço até 2050.

Entre os problemas centrais destacados pelo climatologista nos centros urbanos estão o alto grau de impermeabilização do solo, a gestão desatualizada das águas pluviais, as consequências das mudanças climáticas (como as enchentes) e as ilhas de calor urbano (quando o grande número de superfícies de concreto e asfalto provoca o aumento da temperatura local).

Além de evitar tragédias, a restauração florestal associada às cidades-esponja reduz de 20% a 30% dos poluentes urbanos e diminui o risco de doenças respiratórias e cardiovasculares.

Leia mais:

Em que pé estão as cidades-esponja?

O conceito surgiu na China e, de acordo com Nobre, já são mais de 30 cidades-esponja por lá. Outras 30 estão em preparação e destacam a eficiência na adoção de estratégias conta as mudanças climáticas.

O climatologista também destacou a popularidade do conceito na Europa, como Copenhague, na Dinamarca, Veneza, na Itália, Tóquio, no Japão, Roterdã, na Holanda, Berlim, na Alemanha e Singapura.

No Brasil, temos Curitiba, como destacado pelo Olhar Digital. Porém, Carlos Nobre não acredita que tenhamos um exemplo brasileiro que possa ser chamado de cidade-esponja.

Veneza é um exemplo de cidade com planejamento hídrico (Imagem: Pani Garmyder/Shutterstock)

O que precisamos fazer para ter cidades-esponja?

Segundo ele, uma série de mudanças precisa ser implementada até 2050 para que tenhamos cidades-esponjas no Brasil.

Algumas delas são:

  • Priorização de medidas de infraestrutura verde-azul nos planos de gerenciamento de águas residuais nas cidades;
  • Utilização mais eficiente do solo urbano;
  • Investimentos em infraestrutura urbana baseada na natureza (como as áreas verdes).