Sol laranja e Lua vermelha: apesar de lindos, esses efeitos são um mau sinal

Nos últimos dias, o Sol tem aparecido alaranjado no céu de algumas localidades, assim como a Lua ganhou um tom avermelhado; entenda por quê
Flavia Correia09/09/2024 11h03, atualizada em 10/09/2024 09h50
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Embora o céu alaranjado que tem sido observado em várias regiões do Brasil nas últimas semanas possa parecer encantador, na verdade isso é um resultado preocupante das queimadas e da poluição atmosférica. 

Micael Amore Cecchini, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), explicou ao Uol que a cor alaranjada no céu é causada pelo espalhamento da luz, que é intensificado pela presença de partículas de poluição na atmosfera. 

Nos últimos dias, a poluição do ar tem deixado o Sol e o céu alaranjados em algumas partes do país. Crédito: Ana Guzzo / Flickr / Creative Commons

Em condições normais, a luz azul é mais dispersa, dando ao céu sua tonalidade característica. No entanto, quando há muita poluição, partículas como fuligem e outros poluentes resultantes das queimadas fazem com que as cores quentes, como vermelho e laranja, se tornem mais evidentes, conferindo ao Sol e ao céu uma coloração alaranjada.

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Ausência de frentes frias intensifica o problema das queimadas

Concentradas em grandes áreas da Amazônia, Pantanal e em partes de São Paulo, as queimadas lançam fumaça na atmosfera, que é transportada pelos ventos para regiões mais distantes, como o Centro-Oeste e o Sudeste. Cecchini destaca que a ausência de frentes frias agrava a situação. “Essas partículas permanecem na atmosfera por mais tempo em dias secos e sem chuvas, o que explica a persistência do Sol alaranjado”.

Os efeitos desse cenário vão além da mudança na cor do céu. A inalação de partículas tóxicas provenientes das queimadas pode causar problemas respiratórios sérios. “É como se estivéssemos respirando fumaça de cigarro”, disse Cecchini, sublinhando o risco da exposição prolongada a esses poluentes. 

Além disso, a redução da luz solar, provocada pela poluição, pode afetar negativamente o crescimento das culturas agrícolas, que dependem de luz intensa para seu desenvolvimento.

Mudanças climáticas influenciam na alteração das cores do Sol e da Lua

Embora esse fenômeno não seja uma consequência direta das mudanças climáticas, há uma ligação indireta. O aumento na frequência de dias quentes e secos torna as queimadas mais prováveis, o que, por sua vez, agrava a poluição e intensifica o efeito do céu alaranjado. Isso evidencia os desafios ambientais enfrentados pelo Brasil, especialmente com o avanço do desmatamento.

Tonalidade da Lua é influenciada pelas condições climáticas, assim como a do Sol. Crédito: Alexander Sanz – Shutterstock

As condições climáticas atuais também influenciam a tonalidade da Lua. A meteorologista Josélia Pegorim, do Climatempo, explicou ao G1 que a cor avermelhada que notamos no satélite está relacionada à interação da luz com os poluentes na camada baixa da atmosfera, mais próxima à superfície. 

A falta de chuvas e ventos aumenta a concentração de poeira nesta camada, acentuando a coloração avermelhada da Lua, especialmente quando ela está próxima ao horizonte, devido ao reflexo da luz nas partículas de poluição.

Fatores meteorológicos, a ausência de chuvas e o transporte de poluição de outras regiões também contribuem para a coloração observada da Lua, refletindo a intensidade da poluição atmosférica. “Quanto mais poluído o ar, mais intensa será a cor avermelhada da Lua”.

Para Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA),  membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital, “é bastante preocupante ver imagens como essas em um momento em estamos vivendo um período de recordes de temperatura, com nosso planeta caminhando a passos largos para um anunciado apocalípse climático”.

“O Sol avermelhado no horizonte pode até tornar mais bonito nosso entardecer, mas é ao mesmo tempo, um anúncio, absolutamente sombrio, do caminho que nós estamos escolhendo”, disse Zurita. “A fuligem e monóxido de carbono que ‘pintam’ o Sol e a Lua em nossas paisagens, são os mesmos que agravam o efeito estufa, que está condenando o futuro das próximas gerações. Cuidar do nosso planeta não é uma questão ideológica ou econômica. É uma questão de sobrevivência da própria humanidade”.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.