Como um deslizamento na Groenlândia fez a Terra vibrar por nove dias

Deslizamento de rocha na Groenlândia, causado pelo colapso de uma geleira, fez a Terra vibrar por nove dias
Ana Luiza Figueiredo16/09/2024 23h28
imagem de uma geleira na montanha
Geleira suspensa no Fiorde Dickson, na Groenlândia. (Imagem: Jane Rix / Shutterstock.com)
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Em setembro de 2023, cientistas de todo o mundo ficaram perplexos ao detectar vibrações incomuns na Terra que duraram nove dias. Após uma investigação internacional, foi descoberto que as vibrações foram causadas por um deslizamento de rocha em um fiorde remoto na Groenlândia, seguido por um tsunami, ambos desencadeados pelo colapso de uma geleira enfraquecida pelas mudanças climáticas.

Seismólogos de várias partes do mundo detectaram um padrão de vibração inusitado que durou vários dias, algo muito diferente dos terremotos comuns. “Esse é o primeiro registro de movimento de água como vibrações através da crosta terrestre, viajando pelo mundo e durando vários dias”, afirmou o Dr. Stephen Hicks, da UCL Earth Sciences, ao Sky News.

fotos de antes e depois da montanha na Groenlândia
Pico da montanha acima do Fiorde Dickson antes (à esquerda) e após (à direita) o deslizamento. (Imagem: Arquivo pessoal via Sky News)

A equipe internacional de pesquisadores, liderada por Hicks, identificou que o fenômeno foi causado pelo movimento da água no fiorde Dickson, na Groenlândia, após o colapso de uma montanha. Esse evento provocou um deslocamento massivo de água, criando vibrações que se propagaram pela crosta terrestre.

Embora saibamos que sismômetros podem registrar uma variedade de fontes na superfície da Terra, nunca antes foi registrada uma onda sísmica de longa duração e global, contendo apenas uma única frequência de oscilação.

Dr. Stephen Hicks

O deslizamento e o tsunami na Groenlândia

O deslizamento de rochas foi desencadeado pelo colapso de uma geleira que havia perdido sua estabilidade devido ao derretimento causado pelas mudanças climáticas. Uma montanha de 1,2 km de altura desabou no fiorde, levantando uma onda de água de 200 metros de altura e um tsunami que atingiu até 110 metros de altura.

figura do artigo científico da science
Diferença de elevação entre antes e depois do deslizamento de terra. A figura calcula o volume de rochas deslocadas e o impacto do deslizamento no ambiente, usando dados de satélites (Imagem: Svennevig et al. / Science)

A quantidade de rocha e gelo que caiu no fiorde foi estimada em 25 milhões de metros cúbicos, o equivalente a 10 mil piscinas olímpicas.

Simulação e modelagem

Utilizando modelos matemáticos e imagens de satélite, os cientistas conseguiram simular o deslizamento e a movimentação da água no fiorde. O estudo foi publicada na revista Science.

A pesquisa revelou que o estreito formato do fiorde fez com que a energia ficasse retida, resultando nas vibrações que duraram nove dias. O tsunami inicial se dissipou rapidamente, mas o movimento residual da água continuou reverberando por mais tempo, algo nunca antes registrado.

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Esta figura usa imagens de satélite para mostrar onde a água do tsunami invadiu a costa após o deslizamento de terra. As áreas escuras nas imagens indicam os locais atingidos pelas ondas. (Imagem: Svennevig et al. / Science)

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Deslizamentos na Groenlândia são ameaça crescente

O colapso de geleiras em áreas remotas como a Groenlândia pode se tornar mais frequente devido ao aquecimento global. Esses eventos, que antes eram raros, agora representam uma ameaça crescente.

“Nosso estudo deste evento destaca incrivelmente as interconexões entre a mudança climática na atmosfera, a desestabilização do gelo glacial na criosfera, os movimentos de corpos d’água na hidrosfera e a crosta sólida da Terra na litosfera”, explicou Hicks ao Sky News.

As geleiras desempenham um papel estrutural importante nas costas do hemisfério norte, e seu enfraquecimento pode levar a mais deslizamentos de terra e tsunamis. Os cientistas enfatizam a importância de monitorar regiões que antes eram consideradas estáveis, pois a análise desses eventos pode fornecer informações cruciais para alertas antecipados.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.