Altos investimentos em IA: análises de especialista levantam preocupações

Jim Covello, da Goldman Sachs, alerta que os altos investimentos em IA podem resultar em uma bolha econômica
Ana Luiza Figueiredo24/09/2024 13h45, atualizada em 25/09/2024 17h16
ia bolha
(Imagem: panida wijitpanya / iStock)
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Jim Covello, chefe de pesquisa de ações da Goldman Sachs, alerta que os altos investimentos em Inteligência Artificial (IA) podem não trazer o retorno esperado, sugerindo uma possível bolha no setor.

Durante uma recente viagem pela Highway 101, na Califórnia, Covello contou ao jornal americano The New York Times que notou o aumento de outdoors promovendo soluções de IA, o que o fez relembrar a febre das criptomoedas. Para ele, o cenário atual da IA apresenta semelhanças preocupantes, com grandes expectativas e poucos resultados concretos até o momento.

Críticas à sustentabilidade dos investimentos em IA

Após o relatório de Covello, outros grandes nomes do mercado financeiro começaram a debater o futuro da IA. A cesta de ações de IA gerida pela Goldman Sachs, que inclui gigantes como Nvidia, Microsoft, Apple, Alphabet, Amazon, Meta e Oracle, registrou uma queda de 7% desde o pico em julho de 2023. Esse declínio gerou dúvidas sobre se os altos custos da IA poderiam ser justificados a longo prazo.

Covello, que acompanha os ciclos tecnológicos desde o estouro da bolha da internet nos anos 2000, tem experiência com booms e quedas no setor. Após o lançamento do ChatGPT em 2022, a indústria de tecnologia começou a comparar o impacto da IA com a ascensão da internet pública.

robô com setas apontando para cima
Investimentos em IA estão cada vez mais altos, e espera-se que este investimento retorne. (Imagem: ookawa / iStock)

No entanto, para Covello, esse não é um cenário positivo. Ele recorda os milhões de empregos perdidos com o avanço da internet e teme que a IA possa seguir o mesmo caminho, mas sem resolver problemas práticos do mundo real de forma acessível.

Leia mais:

Debate interno na Goldman Sachs

  • Nem todos na Goldman Sachs compartilham do pessimismo de Covello.
  • George Lee, co-chefe da divisão de consultoria geopolítica da empresa, desafiou publicamente as ideias de Covello, afirmando que a IA tem potencial para aumentar a produtividade dos trabalhadores e economizar tempo.
  • Para ele, o impacto positivo da IA ainda será sentido à medida que a tecnologia amadurecer, se tornar mais acessível e barata.
  • Esse debate interno na Goldman levou a empresa a organizar discussões privadas entre Covello, representando a visão cética, e Lee, defendendo a visão otimista.
  • Para muitos clientes, esse tipo de discussão era necessário.
  • Jim Morrow, CEO do Callodine Group, uma empresa de investimentos baseada em Boston, afirmou que a crítica de Covello ajudou o mercado a questionar o que realmente está acontecendo com a IA.
  • Mesmo com todo o ceticismo, Covello reconhece que sua posição está constantemente sob revisão.
  • Ele admite que vive em estado de “paranoia” com a possibilidade de estar errado sobre o impacto da IA, e monitora diariamente o mercado em busca de sinais que possam desmentir suas previsões.

Futuro incerto para a IA

Covello acredita que o atual frenesi em torno da IA pode perder força quando as empresas, ao perceberem que seus lucros estão diminuindo, reduzirem os investimentos na tecnologia. Embora ele não preveja uma recessão semelhante à da bolha das pontocom, continua cauteloso sobre o futuro da IA e alerta que investir em algo que o mundo ainda não está pronto para utilizar plenamente geralmente não termina bem.

bolha financeira sendo estourada
Potencial bolha financeira da IA pode estourar e gerar uma crise. (Imagem: juliannafunk / iStock)

A visão de Covello já influenciou outros analistas e investidores, gerando debates sobre o verdadeiro potencial da IA e se os altos custos associados a essa tecnologia serão compensados por ganhos reais em produtividade e eficiência.

O que é uma bolha econômica?

Uma bolha econômica é uma situação em que o preço de ativos, como imóveis, ações ou outros bens, se eleva rapidamente e de maneira exagerada, muito acima do seu valor intrínseco ou justificado pelos fundamentos econômicos. Essa elevação dos preços é frequentemente alimentada por especulação e otimismo excessivo dos investidores, que compram os ativos na esperança de vendê-los posteriormente por um preço ainda maior.
Eventualmente, a bolha estoura quando os investidores percebem que os preços não podem mais ser sustentados, levando a uma queda abrupta dos valores. Esse colapso pode gerar grandes perdas financeiras, impactos negativos na economia e crises, como ocorreu na bolha das “pontocom” no início dos anos 2000 e na crise imobiliária de 2008.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.