Porco zumbi? Cientistas revivem cérebro do animal por 1 hora

Experimento realizado na China ajuda a entender como esse órgão pode se recuperar depois de ficar sem sangue, após uma parada cardíaca.
Por Bob Furuya, editado por Bruno Capozzi 28/10/2024 14h57
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Imagem: chadin0/Shutterstock
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Cientistas chineses acabam de fazer uma descoberta digna do doutor Victor Frankenstein. Os pesquisadores da Universidade Sun Yat-Sen conseguiram reviver o cérebro de um porco por cerca de 50 minutos após o animal ter morrido.

O objetivo deles, no entanto, não era ressuscitar o suíno, como fez a personagem do romance de Mary Shelley com a Criatura. O que eles queriam era entender como manter as funções cerebrais intactas depois de o órgão ficar um tempo sem receber sangue.

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Como sabemos, é possível trazer de volta à vida uma pessoa que teve uma parada cardíaca. O problema é que os médicos têm uma janela muito curta para realizar a manobra de ressuscitamento. Isso porque órgãos vitais param de funcionar e podem sofrer danos irreparáveis após alguns minutos sem receber fluxo sanguíneo.

No caso dessa pesquisa recente, os cientistas se debruçaram sobre o cérebro especificamente. E descobriram que o fígado desempenha um papel importante na manutenção da função cerebral nessas condições.

Mais detalhes sobre o estudo

  • A equipe utilizou 17 porcos para o experimento, sendo que um grupo foi submetido a isquemia no cérebro e outro a isquemia no cérebro e no fígado.
  • Uma isquemia, para ficar claro, ocorre quando o fluxo de sangue e oxigênio é reduzido ou interrompido em uma parte do corpo.
  • Os pacientes do primeiro grupo receberam uma espécie de sistema de suporte à vida para deixar o fígado funcionando.
  • E os cientistas perceberam que esses animais apresentaram menos dano cerebral que os outros.
Os cientistas descobriram que o fígado exerce um papel essencial na recuperação das funções cerebrais após uma parada cardíaca – Imagens: Explode/Shutterstock
  • Além de terem tido menos sinais de lesão, os pesquisadores conseguiram restaurar a atividade cerebral nesses porcos por até 50 minutos após o fluxo sanguíneo para o cérebro ter sido interrompido.
  • Ou seja, podemos falar em cérebro ressuscitado nesse período de tempo.
  • Vale destacar que a ciência e a Medicina utilizam órgãos de porcos nesse tipo de teste, pois eles são similares aos órgãos humanos.
  • Existe uma grande semelhança estrutural e funcional em relação aos dois.
  • A ponto de alguns cientistas já terem testado o transplante de órgãos de suínos em humanos.
  • Você poder ler a pesquisa na íntegra no periódico EMBO Molecular Medicine.

Aplicações práticas

É importante destacar que os cientistas chineses não podem, a partir de agora, trazer porcos de volta do mundo dos mortos. Muito menos humanos. Com ou sem sistema de suporte à vida no fígado. Até por que existem outros órgãos vitais que podem ficar prejudicados após uma longa parada cardíaca.

Os pesquisadores costumam usar porcos nesse tipo de experimento, pois os órgãos deles são similares aos nossos (mas eu tenho dó) – Imagem: Mark Agnor/Shutterstock

Agora, a descoberta é importante, pois demonstrou que o fígado é crítico para a função cerebral. E a isquemia no cérebro é uma das principais responsáveis pelas mortes de pacientes nessas condições.

Ainda serão necessários mais estudos para consolidar essa teoria. Mas é um trabalho promissor, com potencial de melhorar as chances de ressuscitação bem-sucedida em pessoas.

E isso nada tem a ver com zumbis ou Frankenstein. É pura ciência a serviço da Medicina.

Bob Furuya
Colaboração para o Olhar Digital

Roberto (Bob) Furuya é formado em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atua na área desde 2010. Passou pelas redações da Jovem Pan e da BandNews FM.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.