“The Last of Us” da vida real: fungos podem causar um apocalipse zumbi?

O que a ciência tem a dizer sobre a possibilidade de fungos infectarem e controlarem os humanos, assim como fazem com insetos na natureza?
Alessandro Di Lorenzo16/11/2024 05h30
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Imagem: reprodução/HBO
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Os filmes de Hollywood popularizaram o medo de que um apocalipse zumbi acabe com a humanidade. Muitos destes enredos fictícios apostam em crises originadas a partir de infecções por fungos, algo que realmente existe na natureza.

Mas o que a ciência tem a dizer sobre a possibilidade destes organismos infectarem e controlarem os seres humanos? Isso seria possível? E, em último caso, é algo que poderia representar o fim da nossa espécie?

Fungos infectam e assumem o controle de insetos na natureza

  • Os cientistas explicam que os insetos tendem a ser os alvos dos processos de zumbificação, quando um organismo controla o comportamento de outro ser vivo.
  • Um dos exemplos mais famosos é o Ophiocordyceps unilateralis, que faz parte de um grupo maior conhecido como Cordyceps.
  • Este fungo inspirou o game e a série da HBO The Last of Us, em que uma infecção fúngica generalizada transforma as pessoas em criaturas semelhantes a zumbis e leva ao colapso da sociedade.
  • No mundo real, as formigas são infectadas pelo fungo quando esporos caem sobre elas a partir de uma árvore ou planta acima, penetrando no corpo do inseto.
  • Uma vez lá dentro, o fungo se espalha na forma de levedura e faz com que o animal suba em uma planta e se prenda a uma folha ou caule com suas mandíbulas.
  • O fungo muda para uma nova fase e consome os órgãos da formiga, incluindo o cérebro.
  • Dessa forma, é possível produzir novos esporos que caem sobre outros insetos saudáveis, reiniciando o ciclo de infecção.
Mosca adulta morta por um fungo do gênero Ophiocordyceps
Exemplo de infecção pelo Cordyceps (Imagem: shutterstock/Vinicius R. Souza)

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Nós corremos algum risco?

Por muitos anos, pesquisadores tentaram entender se este mesmo mecanismo poderia ser usado contra os seres humanos. Mas de acordo com um artigo publicado no The Conversation por Matt Kasson, professor de Micologia e Patologia Vegetal da West Virginia University, nos EUA, isso não é algo provável.

Essas diversas parcerias mórbidas – relacionamentos que levam à morte – foram formadas e refinadas ao longo de milhões de anos de tempo evolutivo. Um fungo especializado em infectar e controlar formigas teria que desenvolver ferramentas vastamente novas ao longo de milhões de anos para conseguir infectar até mesmo outro inseto, mesmo um que seja parente próximo, quanto mais um ser humano.

Matt Kasson, professor da West Virginia University
A maioria dos fungos morre ao entrar em nosso organismo devido à temperatura do corpo humano (Imagem: Juan Gaertner/Shutterstock)

No entanto, isso não quer dizer que estes organismos não signifiquem uma ameaça à nossa saúde. O Aspergillus fumigatus e o Cryptococcus neoformans, por exemplo, podem invadir os pulmões e causar sintomas graves semelhantes aos da pneumonia. O segundo deles ainda pode chegar ao sistema nervoso central, causando sintomas como rigidez no pescoço, vômitos e sensibilidade à luz.

O especialista ainda destaca que as doenças fúngicas estão aumentando em todo o mundo. Os fungos prosperam em ambientes quentes e úmidos, mas é possível se proteger contra muitos deles apenas tomando banho. De qualquer forma, nenhum deles pode nos transformar em um zumbi.

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

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