Quimerismo: o que é a condição genética e quais espécies de seres vivos podem ser uma quimera?

Quem são as quimeras? Vamos conhecer mais sobre o quimerismo, um evento raro mas extremamente intrigante da natureza
Por João Velozo, editado por Layse Ventura 10/01/2025 06h20
Um exemplo de quimera no mundo animal ocorre nos gatos que apresentam duas cores na pelagem
Um exemplo de quimera no mundo animal ocorre nos gatos que apresentam duas cores na pelagem. Imagem: Valeriia Kuznetsova / iStock
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

O quimerismo é uma condição genética fascinante e intrigante, que ocorre quando dois embriões distintos se fundem em um único organismo durante o desenvolvimento inicial. Esse fenômeno pode resultar em indivíduos que apresentam características genéticas de ambos os embriões originais, levando a alterações físicas e genéticas surpreendentes.

A formação embriológica começa com a fertilização, quando o espermatozoide e o óvulo se encontram, formando um zigoto. Durante os estágios iniciais de divisão celular, dois zigotos distintos podem se fundir em um único organismo multicelular, combinando materiais genéticos de ambos. O resultado é um indivíduo químera, que pode possuir células geneticamente distintas em diferentes partes do corpo.

O termo “Quimera” tem origens na mitologia grega, onde representava uma criatura monstruosa composta por partes de diferentes animais: normalmente um leão, uma cabra e uma serpente. Essa figura mitológica simbolizava algo extraordinário, singular e muitas vezes ameaçador.

Quimera
Imagem: Natalia Barashkova / iStock

A partir desse conceito, a ciência adotou o termo para descrever organismos que contêm células geneticamente distintas oriundas de diferentes linhagens embrionárias. A analogia entre a criatura mitológica e o fenômeno biológico destaca a combinação de elementos diversos em uma unidade singular. A condição, chamada também de kimera, atraiu o interesse da medicina e da biologia, ajudando a explicar situações genéticas curiosas e raras em seres humanos e animais.

De onde vem o nome “Quimera”?

Na mitologia, a Quimera é descrita como uma criatura que aterrorizava a região da Lícia. O mito foi registrado em obras como a “Ilíada”, de Homero, e a palavra passou a ser sinônimo de algo fora do comum ou surreal.

A transição desse conceito para a biologia foi natural, dada a característica “improvável” dos organismos químeras, nos quais diferentes materiais genéticos coexistem. Na medicina, o termo serve como uma ponte entre o mágico e o científico, oferecendo uma explicação para situações como transfusões incompatíveis, características físicas contraditórias e, até mesmo, resultados de testes de DNA que não correspondem à expectativa.

O que é uma Quimera para a ciência?

Para a biologia, uma químera é um organismo com duas ou mais populações de células geneticamente distintas, provenientes de diferentes zigotos. Essa condição pode surgir de várias formas: fusão de embriões, transplantes de tecidos ou células, ou até mesmo por meio de processos artificiais, como experiências de engenharia genética.

Fotografia de um gato doméstico branco com olhos de cores diferentes (heterocromia): o olho esquerdo é amarelo e o direito é azul. O gato está olhando diretamente para a câmera, com o fundo desfocado mostrando elementos em tons de azul e bege. Suas orelhas estão eretas, e os detalhes de sua pelagem branca e vibrante estão bem destacados, contrastando com os olhos de cores marcantes. A iluminação suave realça os traços do rosto e os bigodes do animal.
Fotografia de um gato com heterocromia (olhos de cores diferentes). Keith Kissel, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons.

No nível genético, o quimerismo pode ser observado em diferentes tecidos, afetando características como a cor da pele ou do cabelo, a presença de órgãos duplicados ou até mesmo traços fenotípicos aparentemente conflitantes. Em humanos, uma das manifestações mais conhecidas é a presença de duas cores distintas nos olhos, conhecida como heterocromia.

Quais seres vivos apresentam quimerismo?

O quimerismo não é exclusivo dos seres humanos. Animais como gatos, cachorros e camaleões também podem apresentar essa condição. Um exemplo icônico é o gato químera, que possui manchas de pelagem de cores diferentes em cada lado do corpo, resultado da coexistência de duas linhagens celulares distintas.

Em plantas, o quimerismo é observado em folhas ou flores que exibem colorações distintas devido a diferenças genéticas entre tecidos. Além disso, vírus e bactérias também podem exibir quimerismo, principalmente quando sofrem recombinações genéticas que resultam na mistura de genomas de diferentes linhagens.

Leia também:

Quimera contribui para avanço da ciência

A pesquisa sobre quimerismo tem contribuído para avanços na medicina regenerativa e transplantes de órgãos. O entendimento dessa condição ajuda a identificar como certas mutações genéticas podem ser expressas seletivamente em diferentes partes do corpo.

Apesar de raras, as químeras representam um campo de estudo valioso tanto para a biologia quanto para a medicina, revelando como a natureza pode combinar o improvável em um único organismo.

A relação entre o mito da Quimera e o quimerismo genético é mais do que linguística: ambos representam o extraordinário e o incomum. Seja na Grécia Antiga ou nos laboratórios modernos, as químeras continuam a despertar a imaginação humana e expandir os limites do conhecimento científico.

João Velozo
Colaboração para o Olhar Digital

João Velozo é um jornalista e fotógrafo freelancer com base em Pernambuco, Brasil.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.