Mistério no Espaço: jato de galáxia espiral intriga astrônomos

Galáxia em questão, identificada como J0742+2704, está localizada a cerca de 5,94 bilhões de anos-luz da Terra e desafia teorias consolidadas sobre a formação de jatos em galáxias
Rodrigo Mozelli15/01/2025 23h11
Quasar J0742 + 2704 (centro) tornou-se assunto de interesse depois que foi descoberto que tinha um jato recém-nascido explodindo do disco em torno de seu buraco negro supermassivo
Quasar J0742 + 2704 (centro) tornou-se assunto de interesse depois que foi descoberto que tinha um jato recém-nascido explodindo do disco em torno de seu buraco negro supermassivo (Imagem: NASA/ESA/Joseph DePasquale [STScI]/Kristina Nyland [Laboratório de Pesquisa Naval dos EUA])
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Uma recente descoberta envolvendo um jato poderoso emanando de galáxia espiral capturada pelo Telescópio Espacial Hubble tem intrigado os astrônomos e levantado novas questões sobre a evolução das galáxias e seus buracos negros centrais.

A galáxia em questão, identificada como J0742+2704, está localizada a cerca de 5,94 bilhões de anos-luz da Terra e desafia teorias consolidadas sobre a formação de jatos em galáxias.

Enigma do jato em galáxias espirais

Tradicionalmente, jatos galácticos desse tipo são associados a galáxias elípticas, que se formam por meio de fusões caóticas entre galáxias. Esses eventos fornecem gás e poeira para alimentar os buracos negros supermassivos no centro das galáxias, desencadeando os jatos.

No entanto, ao observar J0742+2704, os astrônomos encontraram uma galáxia espiral aparentemente intacta, com braços bem definidos, que contradiz esse cenário típico. A descoberta foi destacada por Olivia Achenbach, da Academia Naval dos Estados Unidos, durante a 245ª reunião da Sociedade Astronômica Americana.

No início, achei que tinha cometido um erro completo durante a pesquisa”, confessou Achenbach. “Por ser um buraco negro tão grande, esperávamos ver uma galáxia elíptica.”

Quasar J0742+2704 (centro)
Quasar J0742+2704 (centro) (Imagem: NASA/ESA/Joseph DePasquale [STScI]/Kristina Nyland [Laboratório de Pesquisa Naval dos EUA])

J0742+2704 e o jato “recém-nascido”

  • O jato foi identificado pela primeira vez em 2020, por meio de levantamentos de rádio, revelando que ele foi ativado em período de apenas duas décadas;
  • Esse fenômeno raro chamou a atenção de pesquisadores interessados nos processos físicos que dão origem a esses jatos e nas suas implicações práticas, como o impacto na navegação cósmica;
  • Quasares como J0742+2704 são usados como pontos de referência para telescópios e sistemas de navegação em ambientes onde o GPS é limitado;
  • No entanto, os jatos podem alterar significativamente a posição aparente dos quasares, criando desafios que tornam o estudo desses fenômenos crucial;
  • É fundamental entender a física por trás desses jatos para aprimorar os sistemas de navegação”, destacou Achenbach.

Embora J0742+2704 não mostre sinais claros de fusões catastróficas, imagens do Hubble revelaram perturbações sutis no braço inferior da galáxia, possivelmente causadas por interações gravitacionais com uma grande galáxia próxima.

Essa galáxia vizinha apresenta características de galáxia anelar, estrutura que geralmente resulta de colisões menores. Isso sugere que interações menos dramáticas, e não apenas fusões completas, podem ser suficientes para desencadear jatos galácticos.

Claramente, há algo interessante acontecendo”, afirmou Kristina Nyland, do Laboratório de Pesquisa Naval dos EUA, que liderou a descoberta inicial do jato, em declaração. Nyland sugere que o fenômeno pode ser o resultado de evento de interação cósmica recente.

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Olhar para o futuro

Próximas observações buscarão confirmar as distâncias relativas entre as galáxias envolvidas, permitindo análise mais detalhada dessa “dança cósmica”.

“Se tivéssemos observado esta galáxia há 20 anos, ou até mesmo uma década atrás, teríamos visto um quasar comum, sem indícios de jatos em formação”, observou Achenbach. “Essa descoberta mostra como a persistência na busca pode levar a resultados surpreendentes e abrir novas direções para a ciência.”

Enquanto o mistério de J0742+2704 ainda está longe de ser resolvido, a pesquisa destaca o dinamismo e a imprevisibilidade do Universo, oferecendo novas perspectivas sobre como as galáxias e seus buracos negros centrais evoluem ao longo do tempo.

Gláxia espiral
Exemplo de galáxia espiral, chamada ESO 364-G036 e visível em detalhes sem precedentes a 420 milhões de anos-luz de distância (Imagem: ESA/Euclid/Euclid Consortium/NASA, processamento de imagem por J.-C. Cuillandre (CEA Paris-Saclay) e G. Anselmi)

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.