Buraco negro supermassivo pode se chocar com a Via Láctea

Um buraco negro pode ter sido descoberto em galáxia satelite que está destinada a colidir com a Via Láctea
Flavia Correia14/02/2025 10h57, atualizada em 17/02/2025 20h47
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Conforme noticiado pelo Olhar Digital, astrônomos identificaram estrelas em alta velocidade na Via Láctea que parecem ter vindo da Grande Nuvem de Magalhães (LMC). A descoberta sugere a existência de um buraco negro supermassivo escondido nessa galáxia satélite da nossa, cuja força gravitacional pode estar lançando essas estrelas para fora. 

Isso leva a um ponto importante: se as previsões astronômicas indicam que a LMC um dia vai se fundir com a Via Láctea, significa que o buraco negro também está destinado a colidir com o nosso lar cósmico.

Liderada pelo astrofísico Jiwon Jesse Han, do Centro de Astrofísica Harvard & Smithsonian (CfA), nos EUA, a pesquisa foi submetida ao periódico The Astrophysical Journal e está disponível no servidor de pré-impressão online arXiv.

Em algum lugar da Grande Nuvem de Magalhães pode haver um buraco negro supermassivo surpreendentemente grande. Crédito: Tigertimwu – Shutterstock

Descoberta pode ajudar a entender a evolução dos buracos negros

O que chama a atenção dos cientistas é a massa intermediária do monstro cósmico hipotético, abaixo de um milhão de vezes a massa do Sol. Se confirmado, esse achado pode ajudar a entender como buracos negros pequenos crescem até se tornarem gigantes com bilhões de massas solares.

Buracos negros são extremamente difíceis de detectar, pois não emitem luz diretamente. Só conseguimos identificá-los quando eles interagem com matéria ao redor, criando um brilho intenso. Sem essa emissão, os cientistas precisam recorrer a métodos indiretos, como estudar o movimento de estrelas próximas.

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Esse foi o caminho seguido para encontrar o buraco negro na LMC. Em vez de procurar órbitas alteradas por sua influência gravitacional, os astrônomos analisaram estrelas chamadas hipervelozes. Essas estrelas viajam muito mais rápido que o normal, podendo até escapar de suas galáxias. Esse fenômeno pode ser causado pelo chamado mecanismo de Hills.

O mecanismo de Hills ocorre quando um buraco negro interage com duas estrelas. Durante esse encontro, uma das estrelas pode ser arremessada em alta velocidade para o espaço, enquanto a outra é capturada pelo buraco negro. Esse efeito já foi observado no centro da Via Láctea, onde Sagitário A* (Sgr A*), o buraco negro supermassivo da nossa galáxia, foi responsável por ejetar estrelas hipervelozes.

Via Láctea deve engolir a Grande Nuvem de Magalhães em 2,4 bilhões de anos

Para investigar a origem dessas estrelas, os pesquisadores usaram dados do telescópio espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA). Eles analisaram 21 estrelas hipervelozes no halo externo da Via Láctea e conseguiram rastrear a trajetória de 16 delas. Sete tinham origem próxima a Sagitário A*, enquanto nove pareciam vir da LMC.

O ponto de origem dessas nove estrelas sugere que foram aceleradas por um objeto oculto na LMC. O peso desse objeto foi estimado em cerca de 600 mil massas solares, reforçando a hipótese de um buraco negro intermediário escondido na galáxia anã.

A Grande Nuvem de Magalhães (mais ao topo na imagem), galáxia satélite mais próxima da Via Láctea. Crédito: Peter Gudella – Shutterstock

Atualmente, a LMC orbita a Via Láctea a 160 mil anos-luz de distância. Seu movimento não é uma simples queda, mas um processo gradual e complexo. Estudos indicam que a colisão entre as duas galáxias deve acontecer em cerca de 2,4 bilhões de anos.

Se o buraco negro realmente existir, ele provavelmente será atraído para o centro da Via Láctea após a fusão. Eventualmente, poderá se unir a Sgr A*, formando um buraco negro ainda maior. Esse processo ajudaria a explicar como esses objetos crescem ao longo do tempo.

Han espera que novas pesquisas confirmem a descoberta e revelem mais detalhes sobre esse possível buraco negro oculto. Se comprovado, ele será um elo fundamental para entender a evolução desses gigantes cósmicos.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.