Novo tipo de gelo exótico pode ser encontrado no espaço

A estranha substância é uma espécie de estado híbrido entre sólido e líquido e faz parte das inúmeras versões de água congelada encontradas no universo
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 24/02/2025 17h19
Cubo de gelo em fundo branco
(Imagem: New Africa / Shutterstock)
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Em uma nova pesquisa, cientistas sintetizaram em laboratório uma nova configuração de gelo conhecida como “gelo plástico VII”. Segundo a equipe, essa estranha versão pode existir naturalmente em outros planetas e luas do Sistema Solar.

Os cubos de gelo normalmente encontrados na Terra e utilizados no dia a dia são referidos por pesquisadores como “gelo I”. No censo cientifico, até o momento, há 19 tipos do estado sólido da água, todas com diferenças entre as condições de temperatura e pressão de formação, estruturas e propriedades cristalinas.

representação da estrutura molecular do gelo VII
Representação da estrutura molecular do gelo VII. (Imagem: Ms2895 / Wikimedia Commons)

O gelo plástico VII é uma versão plástica do gelo VII comum, um tipo geralmente encontrado nas profundezas da crosta terrestre. Ao contrário da estrutura cristalina hexagonal do gelo I, o sétimo tipo tem uma formação cúbica.

O modelo plástico tem a mesma organização em forma de cubo, mas é mais flexível. As moléculas podem girar no local em que estão, isso dá à substância uma espécie de estado híbrido entre um sólido e um líquido.

O novo gelo tem condições especificas de criação

Nas experiências de laboratório, o gelo plástico VII formou-se a temperaturas entre 127 e 327 °C e pressões entre 0,1 e 6 gigapascais (GPa). A equipe utilizou uma ferramenta chamada Espalhador de Nêutrons Quasi-Elastic (QENS) para sintetizar o material, depois fizeram análises detalhadas e simulações da dinâmica molecular.

Em seguida, o grupo conduziu medições de difração de nêutrons e raios-x para estudar como o gelo VII se transforma em gelo plástico VII. Em algumas circunstâncias, a transição parece ser contínua.

Espectrômetro IN6/SHARP
Espectrômetro IN6/SHARP, um dos instrumentos utilizados na pesquisa. (Imagem: ILL Neutrons for Society)

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“O cenário de transição contínua é muito intrigante, pois sugere que a fase plástica pode ser a precursora da indescritível fase superiônica – outra fase híbrida exótica da água prevista em temperaturas e pressões ainda mais altas, onde o hidrogênio pode se difundir livremente através da estrutura cristalina do oxigênio”, diz Livia Eleonora, uma das autoras do estudo.

Fases plásticas e superiônicas da água congelada podem existir em planetas como Urano e Netuno, ou na lua de Júpiter, Ganimedes. Compreender melhor esta substância estranha pode ajudar os cientistas a entender a dinâmica desses astros.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.