Mulher de 1.500 anos é descoberta acorrentada em Jerusalém

Escavações em Jerusalém revelaram restos mortais de uma mulher enterrada com correntes usadas em ritual de autoprivação
Flavia Correia04/03/2025 12h12, atualizada em 04/03/2025 12h14
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Representação artística elaborada com Inteligência Artificial de correntes descobertas durante escavação. Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital
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Durante escavações em um mosteiro bizantino em Khirbat el-Masani, perto da Cidade Velha de Jerusalém, arqueólogos encontraram um esqueleto feminino envolto em correntes pesadas. A descoberta, feita em túmulos do século V, revelou restos mortais de homens, mulheres e crianças, mas a presença das correntes tornou essa sepultura especialmente intrigante.

Segundo o artigo que relata a descoberta, que será publicado  na edição de abril do Journal of Archaeological Science: Reports, as correntes não indicavam punição ou aprisionamento, mas sim uma prática ascética religiosa – que consistia em limitar a mobilidade do próprio corpo como forma de devoção espiritual.

Túmulo escavado em Jerusalém revela esqueleto de mulher de 1.500 anos envolto em esqueleto. Crédito: Autoridade de Antiguidades de Israel

Durante a vida, a pessoa provavelmente usava as correntes para renunciar aos prazeres terrenos e fortalecer sua fé. Esse tipo de ritual era mais comum entre monges cristãos da época, especialmente após o cristianismo se tornar a religião oficial do Império Romano, no ano 380.

O ascetismo ganhou força no período bizantino, quando muitos religiosos buscavam a purificação espiritual por meio de autoprivação. Alguns se isolavam no topo de colunas para orar, enquanto outros usavam correntes para limitar seus movimentos. Apesar de ser uma prática documentada entre homens, relatos históricos indicam que algumas mulheres também adotavam formas extremas de ascetismo.

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Para confirmar o sexo da pessoa, os pesquisadores analisaram peptídeos presentes no esmalte dentário. A presença do gene AMELX, ligado ao cromossomo X, e a ausência do gene AMELY, encontrado no cromossomo Y, indicaram que o indivíduo era biologicamente feminino. 

Arqueólogos encontraram os restos mortais de uma mulher acorrentada em uma sepultura da era bizantina em Jerusalém. Crédito: Matan Chocron / Autoridade de Antiguidades de Israel

Mulheres ascetas eram mais comuns entre a nobreza, mas geralmente seguiam práticas menos rigorosas, como jejum e oração. O uso de correntes pesadas era raro entre elas, tornando essa descoberta uma evidência única. Em entrevista ao site LiveScience, a arqueóloga Elisabetta Boaretto, do Instituto Weizmann de Ciência, em Rehovot, Israel, “restringir o corpo com correntes criava espaço para que a mente se concentrasse exclusivamente em Deus”.

A presença das correntes no enterro sugere que esse objeto fazia parte da identidade espiritual da mulher. Os pesquisadores acreditam que o sepultamento com as correntes foi uma forma de honrar sua dedicação religiosa, garantindo que seu compromisso espiritual fosse reconhecido mesmo após a morte.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.