Geladeira do passado? Descoberta mostra como gelo era preservado há 2.500 anos

Alguns povos utilizavam o sal; já outros, como os persas, criaram uma estrutura gigante para conseguir armazenar gelo no meio do deserto.
Por Bob Furuya, editado por Bruno Capozzi 11/06/2025 06h10, atualizada em 02/07/2025 19h40
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Imagem meramente ilustrativa, claro. Criamos com o Dall-E, da OpenAI.
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A conservação de alimentos foi um elemento chave para a sobrevivência de muitos povos. Antes da agricultura, a humanidade era nômade e não armazenava mantimentos. Buscava os melhores lugares para caça e coleta e comia apenas coisas frescas.

Com o tempo, aprendemos que o frio ajudava a conservar melhor esses alimentos. E fomos forçados a aprender que existem períodos de escassez, sobretudo no inverno.

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Para contornar esse problema, os povos antigos desenvolveram algumas tecnologias que substituíam a nossa geladeira doméstica moderna. Os chineses, por exemplo, passaram a utilizar sal para conservar os peixes acumulados em épocas de fartura – isso antes do ano 3 mil a.C.

Os persas foram ainda mais criativos. Há cerca de 2.500 anos, esses antepassados dos atuais iranianos, desenvolveram uma tecnologia própria de refrigeração. Ela até servia para conservar comida, mas tinha um outro propósito tão fundamental quanto: armazenar gelo no deserto.

Conheça um yakhchal

O Yakhchal persa funcionava com uma enorme geladeira antiga – Imagem: aquatarkus/Shutterstock
  • Trata-se de uma construção com 18 metros de altura e grandes espaços para armazenamento no subsolo.
  • Especialistas estimam que a capacidade total de um yakhchal podia chegar a seis mil metros cúbicos.
  • Os persas sabiam que o isolamento do sol ajudava a manter locais mais frios – sobretudo abaixo da superfície.
  • As noites geladas no deserto também contribuíram para o sucesso dessa estrutura.
  • As câmaras subterrâneas de sistemas de resfriamento evaporativo funcionavam por meio de coletores de vento e águas de nascentes próximas trazidas por canais (qanats).
  • A água absorve o calor do ambiente e evapora, reduzindo a temperatura ambiente.
  • A sensação no interior do yakhchal era similar à de uma câmara frigorífica.
  • As paredes da “geladeira” persa eram de um tipo de argamassa especial (uma mistura de areia, argila e outros elementos, como clara de ovo e pelo de cabra), algo que fornecia isolamento e proteção do sol.
  • Hoje, os yakhchal estão desativados, mas ainda assim podem receber visitas que ajudam a contar a história de um povo.
O Yakhchal persa tinha grande capacidade de armazenamento – Imagem: Fotokon/Shutterstock

E as geladeiras modernas?

A primeira geladeira doméstica data de 1913. A Domelre, de Frederick William Wolf Jr., era produzida em Chicago, nos EUA, mas não fez tanto sucesso.

Mais de uma década depois, em 1927, a General Electric lançou o “Monitor-Top” – e esse sim se popularizou nos Estados Unidos. E de lá para o restante do mundo.

Estamos falando de duas datas já no século XX. O primeiro sistema de refrigeração artificial, porém, veio muito antes, pelas mãos do médico e professor escocês William Cullen, em 1748.

Ele demonstrou em um experimento que quando o éter dietílico era evaporado em um vácuo, ele absorvia calor e resfriava o ambiente. Embora sua invenção tenha sido um passo importante para a história da refrigeração, ela não ajudou na produção das geladeiras que conhecemos hoje.

A história também mostra outros nomes importantes, como o americano Jacob Perkins, engenheiro e físico que fabricou pela primeira vez gelo artificial, e o médico John Goorie, responsável por criar uma máquina de gelo para ajudar pacientes com febre amarela.

Mulher observando a geladeira/
Foram séculos de evolução até chegarmos às nossas tecnológicas geladeiras modernas – Imagem: Pixel-Shot/Shutterstock

Destaque também para o engenheiro alemão Carl von Linde e o engenheiro francês Charles Tellier, que conseguiu instalar um sistema de refrigeração dentro de um navio.

Texto feito com base em uma reportagem do Olhar Digital de 06/07/2024.

Bob Furuya
Colaboração para o Olhar Digital

Roberto (Bob) Furuya é formado em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atua na área desde 2010. Passou pelas redações da Jovem Pan e da BandNews FM.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.