Camadas de argila em Marte podem conter sinais de vida

Camadas de argila ricas em minerais podem conter pistas de que Marte teria abrigado vida há bilhões de anos
Flavia Correia04/07/2025 16h45, atualizada em 04/07/2025 21h43
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Cientistas investigaram as espessas camadas de argila existentes em Marte, concluindo que esses ambientes poderiam ter sido favoráveis à vida no passado do planeta. 

Conduzida por uma equipe da Universidade do Texas, nos EUA, a pesquisa utilizou dados da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, para analisar 150 depósitos de argila espalhados pela superfície marciana.

Os resultados, publicados na revista Nature Astronomy, indicam que a maior parte dessas camadas se formou próximo a antigos lagos, onde a água permanecia parada por longos períodos. Esses ambientes estagnados permitiram reações químicas que transformaram minerais do solo em argila, criando depósitos volumosos e ricos em minerais.

Representação artística da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, que orbita MArte desde 2006. Crédito: Merlin74 – Shutterstock

Estabilidade do ambiente ajudou a preservar a argila marciana

A pesquisadora de pós-doutorado Rhianna Moore, autora principal do estudo, explica em um comunicado que a estabilidade dessas regiões, que possuem baixa altitude e pouca variação no relevo, favoreceu a preservação dessas camadas ao longo do tempo. Essa invariabilidade pode ter sido essencial para manter condições ambientais adequadas para o desenvolvimento da vida em Marte.

Há bilhões de anos, Marte tinha um clima mais úmido e uma atmosfera capaz de manter água líquida na superfície. Rios, lagos e ambientes aquáticos foram comuns, moldando a paisagem e possibilitando processos geológicos que hoje são estudados a partir das camadas de argila.

Mapa mostrando a localização dos depósitos de argila em Marte, juntamente com outras características geológicas examinadas pelos pesquisadores. Crédito: Moore et al.

Tim Goudge, professor assistente do Departamento de Ciências da Terra e Planetárias e coautor do estudo, compara o ambiente argiloso de Marte ao das regiões tropicais do nosso planeta. “Na Terra, os locais onde tendemos a observar as sequências de minerais de argila mais espessas são aqueles em ambientes úmidos e com erosão física mínima, capazes de remover produtos de intemperismo recém-formados”, disse ele. “Esses resultados sugerem que o último elemento também é verdadeiro em Marte, embora também haja indícios do primeiro”.

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Camadas de argila alteraram a química e o ciclo de carbono em Marte

Um fator importante para a composição química dessas regiões é a ausência de placas tectônicas em Marte. Diferentemente da Terra, onde o movimento das placas renova o solo e permite reações entre rochas, água e dióxido de carbono que ajudam a regular o clima, Marte não tem esse mecanismo.

Essa falta de renovação pode ter contribuído para a permanência prolongada de gases de efeito estufa na atmosfera marciana, tornando o planeta mais quente e úmido em seu passado antigo. Também pode explicar a escassez de rochas carbonáticas em Marte, que na Terra se formam pela reação entre dióxido de carbono e minerais vulcânicos.

Imagens da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, mostram depósitos de argila espalhadas por Marte, sugerindo um passado de calor e umidade prolongados. Crédito: NASA/JPL-Caltech/JHUAPL

A formação contínua das argilas teria “capturado” minerais que, na Terra, participariam da formação desses carbonatos, alterando a química do planeta e seu ciclo de carbono.

Financiado pela NASA e pelo Instituto Canadense de Pesquisa Avançada, esse estudo representa um avanço importante na compreensão das condições ambientais que existiram em Marte há bilhões de anos, oferecendo pistas sobre a possibilidade de vida no passado do planeta.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.