Lagartas comedoras de plástico devoram uma sacola em 24 horas

Estudo revelou que larvas de mariposa-da-cera são eficientes em degradar polietileno; descoberta poderá levar a novas técnicas de reciclagem
Por Samuel Amaral, editado por Flavia Correia 12/07/2025 07h15
lagarta Galleria mellonella
Lagartas da espécie Galleria mellonella, as larvas de mariposa-da-cera, conseguem devorar e metabolizar plásticos com eficiência. Crédito: murat photographer / Shutterstock
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Pesquisadores descobriram que lagartas da espécie Galleria mellonella, conhecidas como larvas de mariposa-da-cera, são capazes de devorar e metabolizar plásticos de forma eficiente. Em laboratório, cerca de 2 mil delas conseguiram consumir uma sacola de polietileno, um dos materiais mais resistentes da indústria, em menos de 24 horas.

A pesquisa se baseia em um estudo de 2017, em que cientistas demonstraram em pequena escala que as G. mellonella podem degradar polietileno. Normalmente, esse material levaria cerca de 500 anos para se deteriorar de forma natural, de acordo com o Centro de Aprendizagem de Ciências do governo da Nova Zelândia.

A equipe apresentou o novo estudo na terça-feira (8), na Conferência Anual da Sociedade de Biologia Experimental em Antuérpia, Bélgica. Durante os experimentos, os pesquisadores buscaram entender como o mecanismo de processamento do plástico funciona dentro das lagartas e qual o impacto dessa dieta para esses insetos.

Sacola degradada por lagartas em pesquisa de 2017.
Sacola degradada por lagartas na pesquisa de 2017. Crédito: Bombelli et al 2017

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Lagartas “engordam” com plástico

A pesquisa revela que, ao digerirem o plástico, esses vermes não apenas o degradam, mas também transformam seus componentes em gordura, que é incorporada ao próprio corpo do animal.

“Isso é semelhante a comermos bife: se consumirmos muita gordura saturada e insaturada, ela fica armazenada no tecido adiposo como reserva lipídica, em vez de ser usada como energia”, disse o Dr. Bryan Cassone, líder do estudo e professor na Universidade de Brandon, no Canadá, em um comunicado.

Porém, embora as lagartas consumam o plástico com facilidade, o estudo revela que isso pode ser fatal para esses seres. Segundo o professor, elas não sobrevivem mais do que alguns dias com uma dieta exclusivamente de plástico e acabam perdendo uma massa considerável.

Para evitar isso, o grupo acredita que é possível criar um regime alimentar que misture o plástico com os principais alimentos já consumidos pelas G. mellonella, o que pode garantir uma aptidão para o consumo de polietileno além dos níveis naturais.

Dieta exclusiva de plástico pode ser fatal para as G. mellonella.
Dieta exclusiva de plástico pode ser fatal para as G. mellonella. Crédito: murat photographer / Shutterstock

Descoberta pode levar a novos métodos de reciclagem

Agora, os pesquisadores buscam escalar o processo para combater a poluição por plástico. O grupo apresentou duas propostas iniciais: criar os vermes em massa ou explorar o processo de biodegradação do plástico fora do corpo do animal.

Há também um bônus: a quantidade massiva de lagartas poderia servir como fonte de alimento para a criação de peixes. “Nossos dados preliminares sugerem que eles podem se tornar parte de uma dieta muito nutritiva para peixes destinados à alimentação comercial”, concluiu Cassone.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.