Como o corpo sabe onde está a cama no meio do sono para não cairmos no chão?

Para permanecermos acomodados de maneira segura na cama enquanto dormimos, nosso corpo utiliza mecanismos bastante sofisticados
Por Kelvin Leão Nunes da Costa, editado por Layse Ventura 15/07/2025 00h05, atualizada em 04/08/2025 17h35
Pessoa deitada em um colchão sem lençol, usando uma camiseta branca e com um braço sobre o rosto. Ao lado, um celular está posicionado no colchão
Via Jonathan Borba/Unsplash
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Durante o sono, ficamos em um estado de relaxamento profundo, mas curiosamente conseguimos permanecer dentro dos limites da nossa cama sem cair. Mesmo em camas estreitas ou dormindo em posições desconfortáveis, nosso corpo tem uma notável capacidade de se manter seguro. 

Mas como isso acontece? A resposta envolve uma combinação de fatores neuromusculares e sensoriais que continuam ativos mesmo quando estamos inconscientes.

Como o corpo sabe onde está a cama no meio do sono para não cairmos no chão?

Imagem: Shutterstock/Ground Picture

Para entender como o corpo “sabe” onde está a cama mesmo dormindo, é preciso conhecer três mecanismos fundamentais: o tônus muscular, a propriocepção e o sistema vestibular. Eles funcionam juntos para manter nossa postura e localização espacial durante o sono, mesmo que estejamos inconscientes da posição exata do nosso corpo.

Tônus muscular: a base do controle postural

O tônus muscular é a contração leve e constante dos músculos, mesmo em repouso. É essa tensão mínima que garante que os músculos estejam sempre prontos para agir e manter a postura, inclusive durante o sono leve. Graças ao tônus, nosso corpo pode perceber pressões, desconfortos e até a borda da cama, realizando pequenos ajustes automáticos para evitar quedas.

homem dormindo sobre lençóis amarelos
Além de usar meias para dormir, preparar o ambiente também pode ajudar a ter um sono mais reparador. Imagem: Tavarius/Shutterstock

Durante a fase REM do sono, em que ocorrem os sonhos mais vívidos, esse tônus diminui drasticamente. Acontece a chamada atonia REM: uma espécie de paralisia temporária que impede a movimentação do corpo, com exceção dos músculos dos olhos e da respiração. Isso impede que a gente “encene” nossos sonhos, e também reduz o risco de movimentos bruscos que poderiam nos jogar para fora da cama.

Propriocepção: o “GPS” interno do corpo

A propriocepção é uma espécie de sexto sentido que nos permite saber a posição das partes do corpo mesmo sem olhar para elas. Esse sistema envia sinais dos músculos, articulações, tendões e pele ao cérebro, indicando continuamente onde estão nossas pernas, braços, cabeça e tronco. 

Homem deitado dormindo em uma cama abraçado ao travesseiro
Imagem Pexels

Durante o sono, a propriocepção continua funcionando, ainda que de forma reduzida, e ajuda o cérebro a monitorar se o corpo está próximo da borda da cama.

Esse sentido é tão refinado que conseguimos virar de lado, nos cobrir, mudar de posição e ainda assim permanecer dentro da cama, sem sequer acordar. 

Sistema vestibular: equilíbrio mesmo dormindo

O sistema vestibular, localizado no ouvido interno, também contribui para que não caiamos durante o sono. Ele é responsável por perceber movimentos da cabeça e mudanças de orientação no espaço. 

Mesmo que os olhos estejam fechados, ele continua operando e ajuda o cérebro a detectar se o corpo está em uma posição perigosa, como inclinado demais para fora da cama.

ilustração do sistema vestibular e do ouvido interno
Ilustração do sistema vestibular e do ouvido interno / Crédito; BruceBlaus (wikimedia)

Esse sistema é mais ativo durante o dia, mas não se desliga completamente à noite. Quando há risco de queda, ele pode disparar reflexos automáticos para corrigir a postura do corpo. Em outras palavras, mesmo dormindo, temos sensores trabalhando para nos manter equilibrados.

Memória motora e hábitos de sono

Outro fator que contribui para nossa segurança à noite é a memória motora. Ao longo da vida, o cérebro aprende padrões de movimento e comportamento relacionados ao sono: como deitar, como se virar, como se acomodar. Essa memória é ativada inconscientemente e ajuda a manter nossos movimentos dentro de limites seguros, mesmo em camas pequenas.

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criança dormindo
Dormir de boca aberta na infância pode fazer mal / Imagem: Shutterstock

Crianças têm mais probabilidade de cair durante o sono porque seu sistema proprioceptivo ainda está em desenvolvimento. O tônus muscular também é mais instável, e a integração sensorial, ou seja, a capacidade de unir informações do corpo e do ambiente, ainda está se ajustando. Conforme crescem, esses sistemas se tornam mais eficientes e as quedas noturnas se tornam cada vez mais raras.

Quando os sistemas falham

Em casos raros, certas condições podem comprometer esse sistema de autorregulação do sono. Pessoas com distúrbios comportamentais do sono REM, doenças neurológicas, intoxicação ou em uso de certos medicamentos podem perder temporariamente o controle motor, o que aumenta o risco de quedas.

Kelvin Leão Nunes da Costa
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista formado pela Anhembi Morumbi, ama futebol e cinema. Cursou engenharia antes de descobrir sua paixão pelo jornalismo. Atualmente é analista de conteúdo e colaborador no Olhar Digital.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.