Inédito! “Superálcool” hipotético do espaço interestelar é criado em laboratório

Pela primeira vez, cientistas criaram o “superálcool” metanotetrol em laboratório, simulando as condições extremas do espaço profundo
Flavia Correia06/08/2025 19h17
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Em um feito inédito, pesquisadores da Universidade do Havaí produziram a molécula de metanotetrol em condições semelhantes às do espaço. Crédito: Andrew Turner
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Um artigo publicado recentemente na revista Nature Communications relata a criação de uma molécula extremamente instável, prevista pela ciência há mais de um século: o metanotetrol, apelidado de “superálcool”. Cientistas conseguiram produzir essa substância pela primeira vez ao simular, em laboratório, as condições extremas do espaço profundo.

Também chamado de ácido ortocarbônico, o metanotetrol é formado por quatro grupos hidroxila (OH) ligados ao mesmo átomo de carbono. Devido a essa estrutura incomum, a molécula não é estável o suficiente para existir na Terra. Por muitos anos, ela foi considerada teoricamente possível, mas nunca havia sido observada até agora.

Cientistas da Universidade do Havaí sintetizaram o metanotetrol, uma molécula que antes era apenas teorizada. Crédito: Hashem Al-Ghaili

Molécula espacial hipotética se desfaz muito rápido

Para recriar as condições necessárias, os pesquisadores congelaram água e dióxido de carbono a temperaturas muito baixas, dentro de uma câmara de vácuo. Esse processo gerou um “gelo espacial” artificial. Depois, eles bombardearam esse material com radiação de alta energia, simulando os raios cósmicos que cruzam o espaço.

Pesquisadores aqueceram o gelo até detectar o metanetetrol (canto inferior esquerdo). Crédito: Marks et al., Nat. Commun.

Essa combinação desencadeou uma reação química rara, que resultou na formação do metanotetrol. A molécula só pôde ser observada por um breve momento, já que se desfaz rapidamente quando exposta à luz. Esse processo de quebra é chamado de fotoionização dissociativa.

A descoberta revela que o espaço profundo pode abrigar reações químicas inesperadas. As nuvens interestelares – regiões geladas compostas por poeira e gelo entre as estrelas – parecem ter condições favoráveis para a formação de moléculas que desafiam o conhecimento químico tradicional.

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Segundo os cientistas, essa química “contraintuitiva” pode ajudar a entender melhor como moléculas complexas surgem em ambientes extremos, o que abre possibilidades para investigar como certas substâncias, talvez relacionadas à origem da vida, poderiam se formar em outras partes do Universo.

O próximo passo é tentar detectar o metanotetrol no espaço real. Embora a molécula seja instável demais para existir naturalmente na Terra, os astrônomos agora sabem o que procurar e podem usar telescópios avançados para tentar localizar o “superálcool” em nuvens interestelares.

Essa não é a primeira vez que o grupo encontra moléculas incomuns. Em 2024, os mesmos cientistas descobriram o metanotriol, outro composto considerado “impossível”. 

Estima-se que conhecemos apenas 1% da química existente no espaço, e descobertas como essas ajudam a ampliar esse entendimento. “Este trabalho expande os limites do que sabemos sobre química no espaço”, afirma o coautor do estudo Ralf Kaiser, químico da Universidade do Havaí, em um comunicado.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.