“Superdiamante” encontrado em meteoros é produzido pela 1ª vez

Cientistas sintetizam diamantes hexagonais, considerados "superduros"; até hoje, esse material só havia sido encontrado em meteoritos
Samuel Amaral13/08/2025 17h43
Os diamantes comuns têm seus átomos em uma estrutura cubica. No novo experimento, pesquisadores sintetizaram uma versão com estrutura hexagonal encontrada apenas em meteoros.
Os diamantes comuns têm seus átomos em uma estrutura cubica. No novo experimento, pesquisadores sintetizaram uma versão com estrutura hexagonal encontrada apenas em meteoros. (Imagem: New África / Shutterstock)
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Pesquisadores afirmam ter sintetizado diamantes de estrutura hexagonal com sucesso. Encontrado historicamente em meteoritos, acredita-se que esse material seja mais duro que o diamante convencional. A quantidade obtida será usada em estudos, e os cientistas acreditam que esse cristal “superduro” poderá ter aplicações em dispositivos de alta tecnologia.

A dureza dessa e de outras substâncias sólidas é medida pela Escala de Mohs, que classifica minerais e pedras preciosas a partir de sua capacidade de arranhar ou serem arranhados por outros compostos. O diamante tem dureza 10, pode riscar todos do grupo, enquanto o talco tem 1, sendo o mais macio da escala.

Porém, cientistas estimam que alguns materiais podem estar além do 10 e serem capazes de riscar o diamante comum, feito de carbono disposto em estruturas cubicas. Dentre eles está o nitreto de boro wurtzita e a lonsdaleíta, substâncias escassas na natureza, o que dificulta os testes.

A lonsdaleíta é feita de carbono puro, como um diamante, mas seus átomos estão em uma estrutura hexagonal. Pesquisadores a encontraram pela primeira vez no meteorito Canyon Diablo, caído nos Estados Unidos há cerca de 50 mil anos. Acredita-se que a enorme força da colisão da rocha espacial com o solo tenha gerado pressão suficiente para formar esse raro material.

Fragmento do meteorito que atingiu Canyon Diablo, no Arizona, EUA. Impacto foi forte o suficiente para criar diamantes hexagonais.
Fragmento do meteorito que atingiu Canyon Diablo, no Arizona, EUA. Impacto foi forte o suficiente para criar diamantes hexagonais. (Imamgem: Marcin Wichary / Wikimedia Commons)

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Diamante hexagonal encontrado em meteoros agora poderá ser estudado

Em um estudo de abril deste ano, pesquisadores realizaram um experimento para produzir lonsdaleíta pura em laboratório. Apesar do avanço nos métodos de produção, as amostras obtidas foram extremamente pequenas.

Agora, uma nova equipe, em estudo publicado na revista Nature, anunciou ter conseguido sintetizar diamantes hexagonais em quantidade significativamente maior. Segundo os cientistas, foi possível produzir fragmentos de lonsdaleíta variando de um décimo até um milímetro, tamanho considerado suficiente para avaliar sua dureza em laboratório.

Animação da estrutura cúbica de um diamante comum. (Imagem: MarinaVladivostok / Wikimedia Commons)

Para alcançar esse resultado, a equipe utilizou cristais de grafite de alta pureza, que foram comprimidos e aquecidos sob condições controladas. O estudo ressalta essa escolha de matéria-prima como decisiva para o sucesso do experimento.

“Este estudo estabelece uma base metodológica para pesquisas futuras sobre materiais semelhantes ao diamante” disse Ho-kwang Mao, pesquisador especialista em estudos em alta pressão e coautor do artigo, em entrevista à agência de notícias Xinhua News.

Ilustração da estrutura hexagonal da lonsdaleíta.
Ilustração da estrutura hexagonal da lonsdaleíta. (Imagem: Materialscientist / Wikimedia Commons)

Os autores definem a composição do material sintetizado como “majoritariamente de diamantes hexagonais”, porque ainda há traços das estruturas cúbicas. Essas impurezas podem levar a um resultado de dureza menor na análise da substância, diferente do que foi proposto por modelos computacionais.

À medida que o método for aperfeiçoado em pesquisas futuras, os cientistas preveem que os diamantes hexagonais poderão ter aplicações em tecnologias de ponta. “Espera-se que este diamante hexagonal sintetizado abra novos caminhos para o desenvolvimento de materiais superduros e para a criação de dispositivos eletrônicos de última geração”, concluiu Mao.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.