Crânio de urso sugere passado de luta contra gladiadores romanos

Análise de restos mortais de urso encontrados próximos de uma arena romana revela um passado de conflito entre gladiadores e feras
Samuel Amaral05/09/2025 17h11
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Crânio de urso encontrado em arena tem sinais de lesão e infecção, evidências de um passado de combates contra gladiadores.(Imagem: Nemanja Marković et al; Antiquity Publications Ltd)
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Estudo do crânio de um urso marrom encontrado em uma arena romana revela um passado de luta entre gladiadores e feras selvagens. Publicada na revista científica Antiquity, a pesquisa demonstra a situação do animal e expõe os mal-tratos que passou nos últimos anos de sua vida.

Os restos de crânio analisados foram encontrados em 2016, próximos de um anfiteatro em Viminacium, uma antiga base militar do Império Romano, hoje localizada na Sérvia. Esses vestígios são de um urso marrom (Ursus arctos), uma espécie comum na região.

“Não podemos dizer com certeza se o urso morreu diretamente na arena, mas as evidências sugerem que o trauma ocorreu durante espetáculos e a infecção subsequente provavelmente contribuiu significativamente para sua morte”, disse Nemanja Marković, líder do estudo e pesquisador associado do Instituto de Arqueologia de Belgrado, em uma entrevista ao site Live Science.

Mosaico de um gladiador lutando contra um urso. Registros históricos revelam um passado de espetáculos e batalhas com esses animais em arenas. (Imagem: Carole Raddato / Wikimedia Commons)

Pesquisadores acreditam que gladiador causou ferimentos fatais no urso

A partir da análise de DNA contida no material, os pesquisadores descobriram que o urso era macho e tinha seis anos quando faleceu. A datação por carbono dos ossos indicou que o animal viveu entre 240 e 350 d.C., um período em que o anfiteatro sediava regularmente batalhas de gladiadores.

O exame de uma lesão na parte frontal do crânio mostrou sinais de recuperação, mas também de uma infecção no local. A equipe acredita que um gladiador equipado com lança causou esses ferimentos, com os quais o urso sofreu até sua morte.

A mandíbula do animal também apresenta sinais de infecção. Os cientistas encontraram evidências de desgaste nos caninos, um traço do comportamento de ursos em cativeiro, que costumam roer as barras de suas gaiolas. “Este urso provavelmente esteve preso por anos, não apenas semanas”, relatou Marković.

Pesquisadores examinaram restos do crânio de um urso marrom. Sinais de infecção e ferimentos revelam tratamento recebido por esses animais no Império Romano.
(Imagem: N. Markovic et al. 2025)

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Ossos de animais no anfiteatro revelam um passado de barbaridade

Além do crânio de urso, os pesquisadores encontraram ossos de outros animais, inclusive um leopardo. Segundo estudos anteriores, esses animais, após serem mortos nas batalhas, eram desossados nas proximidades, sua carne era distribuída e os ossos descartados perto do anfiteatro.

O grupo acredita que as feras lutavam contra um grupo especial de gladiadores chamados de “venatores”, experientes em caçar. Além disso, participavam de diversos espetáculos, como brigas com outros animais, execução de condenados e apresentações treinadas.

Sítio arqueológico de Viminacium, na atual Sérvia. Em 2016, pesquisadores encontraram ossos de animais próximos do anfiteatro da cidade. (Imagem: Carole Raddato / Wikimedia Commons)

O anfiteatro de Viminacium foi construído no século II d.C. Sua estrutura tem um formato oval e paredes altas, tendo a capacidade para cerca de 7 mil pessoas em suas arquibancadas. A destruição da cidade ocorreu com a chegada dos eslavos em VI d.C.

Registros históricos anteriores mencionam a presença de ursos pardos em arenas de gladiadores. Porém, segundo os pesquisadores, o atual estudo é o primeiro a fornecer evidências a partir da análise de ossos da participação desses animais em espetáculos, oferecendo uma perspectiva mais profunda da situação desses animais durante o Império Romano.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.