Bactéria da Antártida pode revolucionar alimentos, cosméticos e fármacos

Bactéria da Antártida resiste a extremos e pode ser usada em alimentos, cosméticos, fármacos e materiais biodegradáveis
Por Valdir Antonelli, editado por Layse Ventura 08/09/2025 21h43
oceano antártico
(Imagem: Oleksandr Matsibura / iStock)
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Um composto bioativo produzido por uma bactéria foi descoberto na Antártida por pesquisadores do Instituto Antártico Chileno. Esse composto tem propriedades com grande potencial de uso na produção de alimentos, cosméticos, medicamentos e até materiais biodegradáveis.

O projeto contou com apoio da FAPESP por meio do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), segundo comunicado da fundação.

Vista aérea da Ilha Decepcion, na Antártica, onde o microrganismo foi encontrado. Crédito: Achim Baque – Shutterstock

Microrganismo vive em regiões extremas, se tornando mais resistente

O Bacillus licheniformis foi encontrado na Ilha Decepción, região caracterizada como um ecossistema “poliextremo”, com temperaturas muito altas ou muito baixas, variações de pH e forte radiação ultravioleta.

São essas as características que fazem os microrganismos na região tão interessantes, já que desenvolvem “habilidades metabólicas e fisiológicas especiais”.

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Bactéria
Açucares excretados pela bactéria pode ser empregado em espessantes, estabilizantes e emulsificantes em diversas indústrias. Crédito: Festa/Shutterstock

Os pesquisadores explicaram que entre as adaptações, “a produção de exopolissacarídeos”, açúcar excretado por bactérias, fungos, leveduras e algas, desempenha um “papel crucial na proteção contra os estresses provocados por um ecossistema extremo”.

São essas substâncias que protegem as células dos microrganismos contra desidratação, pressão osmótica, substâncias tóxicas e ataques de vírus, além de tornar a comunicação entre as células mais eficiente.

“Por isso, isolamos uma cepa do Bacillus licheniformis encontrada em água fumarólica [líquido presente em uma abertura na crosta terrestre de onde são liberados vapor d’água, gases e minerais provenientes de atividade vulcânica que, apesar de estar na Antártida, chega a temperaturas superiores a 100 °C, e fizemos a análise do seu genoma”, explica o professor João Paulo Fabi, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da FCF-USP, e um dos autores do estudo.

Alta resistência e aplicações biotecnológicas

Diversas cartelas de comprimidos
Sua estabilidade térmica e tolerância a pH extremo também o tornam promissor para cosméticos, produtos farmacêuticos. Crédito: DedMityay/Shutterstock

Com o sequenciamento do genoma, os pesquisadores identificaram os genes relacionados à biossíntese desses açúcares, e observaram “boa resistência à radiação ultravioleta e adaptação térmica”. Já suas propriedades funcionais se mostraram superiores às da goma xantana comercial, também produzida por uma bactéria, e empregada como espessante, estabilizante e emulsificante em diversas indústrias.

Isso torna o Bacillus licheniformis “um forte candidato para aplicações biotecnológicas que exigem estabilidade e bioatividade”, acredita Fabi, oferecendo:

  • Proteção antioxidante;
  • Maior vida útil para produtos;
  • Estabilidade de emulsão;
  • Melhor textura em alimentos funcionais.

Sua estabilidade térmica e tolerância a pH extremo também o tornam promissor para cosméticos, produtos farmacêuticos e materiais biodegradáveis em diversas outras áreas.

João Paulo Fabi, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da FCF-USP, em nota da FAPESP.
Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.