É possível ficar bêbado sem álcool? Conheça a síndrome da fermentação intestinal

Você sabia que fungos e bactérias podem deixar alguém bêbado, mesmo sem tomar álcool? Conheça a síndrome da fermentação intestinal
Por Camila Oliveira, editado por Layse Ventura 15/09/2025 05h20
Mulher com a mão em cima do corpo onde fica o intestino
Imagem: mi_viri / Shutterstock
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Abusar do álcool pode causar diversos problemas, desde as questões de saúde, como ressaca e desidratação, até as complicações sociais e de segurança, principalmente quando envolve automóveis ou coisas do tipo. Por isso, o recomendado é sempre consumir bebidas alcoólicas com moderação.

Porém, já imaginou ficar bêbado sem consumir nem mesmo uma gota de álcool? Isso pode acontecer com algumas pessoas que possuem uma condição rara chamada síndrome da fermentação intestinal, que faz com que o organismo produza álcool por conta própria.

Essa condição também é chamada de síndrome da autocervejaria, ou síndrome da autofermentação, e já foi responsável por diversos problemas na vida de pessoas que a possuem, como é o caso do homem que foi acusado de dirigir alcoolizado na Bélgica. Contudo, ele conseguiu ser absolvido após comprovar que é portador da síndrome.

Conheça mais sobre essa condição rara na matéria abaixo.

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Como fungos e bactérias podem te deixar bêbado?

A síndrome da fermentação intestinal é uma condição extremamente rara. Nela, bactérias e fungos do trato gastrointestinal transformam os carboidratos dos alimentos que a pessoa consumiu em etanol. O primeiro caso registrado aconteceu em 1946 na África, quando o menino de 5 anos teve seu estômago rompido por razão desconhecida. Na autópsia, foi encontrado um fluido “espumoso” com cheiro de álcool em seu abdômen.

Segundo uma revisão de abril de 2021, apenas 20 casos foram diagnosticados como síndrome da fermentação intestinal na literatura médica em inglês desde 1974. Outros relatos adicionais de sintomas de fermentação intestinal aconteceram no Japão, onde a síndrome é conhecida como meitei-sho, “síndrome de autointoxicação alcoólica”.

Imagem: gerada por inteligência artificial Dell-E/Nayra Teles

A condição acontece quando certas espécies de bactérias e fungos superpopulam o microbioma intestinal de uma pessoa, praticamente transformando o trato gastrointestinal em um aparelho de destilação. De acordo com os cientistas, o processo acontece no intestino delgado, e é diferente da fermentação normal do intestino grosso, que é responsável por fornecer energia ao nosso corpo.

De acordo com um estudo de caso publicado na revista científica BMJ Open Gastroenterology, apesar de ser uma condição rara, o diagnóstico tem que ser considerado para qualquer paciente que apresenta sintomas por intoxicação por álcool sem ter ingerido bebidas alcoólicas.

Como acontece a síndrome?

Muitos fatores patógenos podem contribuir para a condição acontecer, porém, a maior parte dos casos é devido ao crescimento excessivo de duas espécies de fungos: Saccharomyces e Candida. A Candida vive no nosso corpo e na boca, no trato digestivo e na vagina, e frequentemente domina quando bactérias benéficas são mortas por antibióticos, por exemplo.

Diversas pessoas podem ter a síndrome e convivem com uma quantidade enorme de álcool gerado metabolicamente em seu sistema, e apenas vão perceber isso quando acontecem problemas com a lei, como foi o caso do homem da Bélgica que foi acusado de dirigir embriagado.

O mesmo aconteceu na Carolina do Norte, com um homem que, com quase 50 anos, foi parado porque policiais acreditavam que ele estava dirigindo bêbado. Ele negou ter bebido, mas o nível de álcool no seu sangue era de 0,2%, o mesmo que consumir 10 drinques por hora, além de cerca de 2,5 vezes o limite legal.

A levedura ‘Saccharomyces cerevisiae’. Imagem: SPL/Getty

O que pode causar a condição?

São vários os fatores de risco que podem causar a síndrome da fermentação intestinal, como diabetes e doenças hepáticas, que podem desempenhar esse papel. As doenças gastrointestinais, como a doença inflamatória intestinal e a síndrome do intestino curto, em que o intestino delgado é danificado ou encurtado, também podem contribuir.

Além disso, pode haver uma predisposição genética relacionada a como uma pessoa metaboliza o álcool. Todas essas informações foram dadas à CNN por Rahel Zewude, médica especialista em doenças infecciosas da Universidade de Toronto que teve como paciente uma mulher de 50 anos que possui a condição.

No caso da paciente, tudo começou na metade dos seus 40 anos, quando ela começou a ter infecções urinárias recorrentes, cada uma tratada com uma quantidade de antibióticos. As bactérias “do bem” em seu trato intestinal começaram a morrer, abrindo espaço para os fungos à espera assumirem o controle.

Mas, para a condição ocorrer, a dieta também é importante, uma vez que essa quantidade de levedura precisa de combustível, que ela obtém dos carboidratos consumidos pela pessoa.

Principais sintomas

Os sintomas da síndrome são parecidos com os de estar embriagado. Os principais são:

  • Embriaguez inexplicável, sem ter feito nenhuma ingestão de álcool;
  • Tontura;
  • Náuseas;
  • Vômito
  • Fadiga;
  • Distúrbios do sono;
  • Problemas de memória.
Homem é parado pela polícia em blitz
Já houve casos em que o motorista com a síndrome foi parado pela polícia com sinais de embriaguez. Imagem: PeopleImages / Shutterstock

Como é o tratamento

O tratamento para a condição começa com um ciclo de fungicidas prescritos depois de uma biópsia ou colonoscopia, que identifica os patógenos específicos que tomaram conta do intestino. A síndrome apresenta resistência antimicrobiana, já que boa parte da razão pela qual as pessoas a adquirem é pelo uso frequente de antibióticos que desorganizam o intestino.

De acordo com a médica Zewude, é preciso começar de forma direcionada e específica, e se o paciente se tornar resistente ao fungicida, é preciso partir para outros. Também é preciso que os pacientes sigam uma dieta restrita, com baixo teor de carboidratos, e o consumo de probióticos para reconstruir as bactérias benéficas também podem ajudar.

Por quanto tempo o álcool fica no sangue?

O álcool pode ser detectado no sangue de uma pessoa por até 12 horas depois de ser consumido. Contudo, o tempo que a substância fica no sangue pode variar de acordo com a pessoa. A taxa de metabolização do álcool é de cerca de 0,015 a 0,020 gramas por decilitro por hora (g/dL/h), o que significa que, em média, leva cerca de uma hora para eliminar uma dose padrão de álcool do organismo.

Camila Oliveira
Colaboração para o Olhar Digital

Camila Oliveira é jornalista desde 2012. Curiosa e inquieta, já passou por diversas editorias e também trabalhou em outras áreas. Hoje é colaboradora do Olhar Digital e escreve sobre o que mais gosta.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.