Marte pode ter se tornado habitável graças a gases de enxofre

Gases de enxofre liberados por vulcões podem ter aquecido Marte há bilhões de anos, criando condições favoráveis para a vida
Ana Luiza Figueiredo17/09/2025 12h26
vida-em-marte-1920x1080
Marte (Imagem: ConceptCafe - Shutterstock)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

O clima de Marte nos seus primeiros bilhões de anos ainda é um tema em aberto para a ciência, mas uma nova pesquisa sugere que o planeta pode ter sido mais acolhedor à vida do que se pensava. Segundo estudo publicado na revista Science Advances, atividades vulcânicas liberaram gases de enxofre reativos capazes de intensificar o efeito estufa e, assim, manter temperaturas mais amenas.

A pesquisa foi conduzida por cientistas da Universidade do Texas em Austin, que utilizaram dados da composição de meteoritos marcianos para simular diferentes cenários atmosféricos. Os resultados indicam que, ao contrário do que previam modelos anteriores, Marte teria concentrado formas químicas reduzidas de enxofre, altamente reativas, em vez de apenas dióxido de enxofre (SO₂).

A pesquisa foi financiada pelo Center for Planetary Systems Habitability da Universidade do Texas em Austin, pela National Science Foundation e pela Heising-Simons Foundation.

Representação artística da superfície de Marte
Gases de enxofre provenientes de atividades vulcânicas podem ter favorecido a atmosfera de Marte para a vida (Imagem: Artsiom P/Shutterstock)

Simulações e descobertas sobre a atmosfera marciana

Foram realizados mais de 40 modelos de computador com variações de temperatura, química e concentrações de gases. Nessas simulações, os pesquisadores identificaram espécies como sulfeto de hidrogênio (H₂S), dissulfeto (S₂) e até mesmo hexafluoreto de enxofre (SF₆) — um gás de efeito estufa considerado extremamente potente.

De acordo com a autora principal, Lucia Bellino, doutoranda da Jackson School of Geosciences, a presença desses compostos pode ter criado um ambiente único em Marte primitivo. “A presença de enxofre reduzido pode ter induzido uma atmosfera enevoada que levou à formação de gases de efeito estufa, como o SF₆, capazes de reter calor e água líquida”, afirmou.

Ciclo do enxofre em Marte

O estudo também destaca que o ciclo do enxofre pode ter sido dominante no planeta durante esse período. Isso porque, embora meteoritos marcianos apresentem altos níveis de enxofre reduzido, a superfície do planeta contém enxofre ligado ao oxigênio, mostrando que havia transformação constante entre diferentes formas químicas.

Essa hipótese ganhou reforço em 2024, quando o rover Curiosity, da NASA, encontrou enxofre elementar em uma rocha rachada na superfície marciana. Foi a primeira vez que o mineral foi identificado em forma pura, sem ligação com oxigênio. Para Chenguang Sun, coautor do estudo, a descoberta reforça as previsões das simulações: “Um dos pontos-chave da nossa pesquisa é que, à medida que o S₂ era emitido, ele se precipitava como enxofre elementar. Quando começamos o projeto, não havia observações conhecidas desse tipo.”

Ilustração de um robô em Marte
Rover Curiosity encontrou enxofre elementar em Marte em 2024 (Imagem: Rawpixel.com / Shutterstock.com)

Leia mais:

Implicações para a habitabilidade do planeta

Além de sugerir que o enxofre pode ter ajudado a aquecer a atmosfera, o estudo abre espaço para novas investigações sobre a presença de água em Marte primitivo. Os pesquisadores pretendem explorar se a atividade vulcânica poderia ter fornecido grandes reservas hídricas e até mesmo nutrientes para formas microbianas de vida.

Hoje, Marte é conhecido por suas temperaturas médias em torno de aproximadamente −62 °C, o que dificulta a existência de água líquida estável. No entanto, Bellino ressalta que os modelos climáticos baseados nos resultados do estudo poderão indicar por quanto tempo o planeta manteve condições mais quentes — e se microrganismos poderiam ter sobrevivido nesse ambiente.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.

Ícone tagsTags: