Apophis será o primeiro asteroide potencialmente perigoso visível a olho nu

Passagem do asteroide Apophis, além de um espetáculo facilmente visível, permitirá estudar a influência da Terra sobre a rocha espacial
Por Samuel Amaral, editado por Bruno Capozzi 18/09/2025 09h10, atualizada em 18/09/2025 09h58
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Mais de duas bilhões de pessoas poderão ver o asteroide Apophis em 2029. Rocha espacial brilhará como uma estrela da constelação Ursa Maior. (Imagem: MattL_Images / Shutterstock)
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Quando o asteroide 99942 Apophis passar próximo à Terra, ele será visível para mais de dois bilhões de pessoas no continente africano e na Europa. Sua imagem no céu será tão luminosa quanto as estrelas da constelação de Ursa Maior – ou seja, ele poderá ser visto a olho nu!

Segundo uma estimativa de 2021, a passagem em curta distância de um asteroide do tamanho de Apophis, que tem estimados 340 metros de comprimento (cerca do tamanho da Torre Eiffel), é um evento que ocorre apenas a cada 7,5 mil anos.

Durante a aproximação, Apophis será influenciado pela gravidade da Terra. (Imagem: ESA)

“Esse voo será a primeira vez na história espacial que um asteroide potencialmente perigoso será visível a olho nu”, disse Richard Binzel, professor de ciência planetária do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, durante o Europlanet Science Congress 2025, que aconteceu este mês em Helsinque, na Finlândia, segundo noticiado pelo site LiveScience.

Binzel é o criador da Escala de Risco de Impacto de Torino, usada para medir o risco de colisão de asteroides e cometas com o nosso planeta. No congresso, ele enfatizou que “o Apophis passará com segurança pela Terra”.

Asteroide assustou pesquisadores há 20 anos

Em 2004, astrônomos detectaram a rocha espacial Apophis. Estimativas da época indicavam que a chance de colisão desse corpo com a Terra era de 2,7%, considerada de Nível 4 na escala Torino, a maior classificação já registrada. Cientistas o batizaram em referência ao deus egípcio do submundo, do caos e da destruição.

Equipes ao redor do globo acompanharam o trajeto desse corpo espacial no decorrer das últimas duas décadas. Em 2021, um estudo mostrou que as chances de impacto eram ainda menores do que se acreditava. A pesquisa confirmou que ele não colidirá com a Terra nos próximos 100 anos, o que levou à sua retirada das listas de risco.

“Tem havido muito trabalho de diversas pessoas para garantir que possamos dizer total e confiantemente que o Apophis passará pela Terra em segurança, sem dúvida alguma”, disse o professor.

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Quando a passagem acontecer, em 13 de abril de 2029, o asteroide sofrerá com a força gravitacional da Terra. Ele estará a 30 mil quilômetros de distância da superfície terrestre, mais perto do que alguns satélites geoestacionários – equipamentos que parecem parados no céu noturno por girarem em sincronia com o planeta.

Durante o trajeto, sua órbita pode mudar da classe Aten, dentro da trajetória da Terra ao redor do Sol, para uma mais ampla, conhecida como classe Apollo. A rotação e a superfície do objeto espacial também poderão ser influenciadas, segundo Binzel.

A NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA) já estão se preparando para estudar o asteroide. Com a espaçonave empregada anteriormente na missão OSIRIS-REx, que coletou amostras do asteroide Bennu, a agência americana irá mapear a superfície e monitorar o giro de Apophis conforme a gravidade terrestre alterar esses parâmetros.

Representação artística da sonda OSIRIS-REx, que explorou o asteroide Bennu de 2018 a 2021. (Imagem: NASA)

A Missão Rápida Apophis para Segurança Espacial (RAMSES), da ESA, também realizará estudos no objeto caso seja aprovada pelo Conselho Ministerial da agência, em novembro. O objetivo é observar o asteroide antes, durante e depois da passagem para mapear sua órbita. A missão também buscará nuvens de poeira levantadas pela gravidade terrestre e CubeSats (pequenos satélites) pousarão na superfície para detectar ondas sísmicas.

“Em 60 anos de ciência planetária, medimos a sismicidade de apenas dois objetos: a Lua e Marte. Essa seria a oportunidade para mais um salto nas medições sísmicas e na interpretação das propriedades internas”, comentou o professor.

Embora não seja uma ameaça nas próximas décadas, Apophis é essencial para os estudos de defesa planetária. Segundo os pesquisadores, compreendê-lo poderá ajudar a humanidade a se preparar para verdadeiros riscos futuros.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.