Estudo liga medicamento para calvície a maior risco de depressão e suicídio

Revisão de oito estudos internacionais revela ligação consistente entre finasterida e riscos psiquiátricos graves
Por Leandro Costa Criscuolo, editado por Bruno Capozzi 29/09/2025 19h18
finasterida
Imagem: luchschenF/Shutterstock
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Atenção: a matéria a seguir inclui uma discussão sobre suicídio. Se você ou alguém que você conhece precisar de ajuda, procure ajuda especializada. O Centro de Valorização da Vida (CVV) funciona 24h por dia pelo telefone 188. Também é possível conversar por chat ou e-mail.

Uma revisão do Prof. Mayer Brezis, da Universidade Hebraica de Jerusalém, aponta que a comunidade médica e órgãos reguladores falharam ao ignorar sinais claros de que a finasterida, usada para tratar calvície, pode causar depressão, ansiedade e risco aumentado de suicídio.

O estudo, publicado no Journal of Clinical Psychiatry, analisou oito grandes pesquisas de 2017 a 2023 e identificou um padrão consistente: usuários do medicamento apresentaram maior incidência de transtornos de humor e ideação suicida.

Segundo Brezis, “as evidências não são mais anedóticas. Agora vemos padrões consistentes em diversas populações”.

Estudo diz que finasterida pode causar depressão, e especialistas acusam reguladores de ignorar sinais por anos – Imagem: Aonprom Photo/Shutterstock

Demora na resposta regulatória

  • Embora a FDA tenha adicionado avisos sobre depressão em 2011 e sobre risco de suicídio em 2022, alertas já existiam desde 2002.
  • Documentos internos mostram que estimativas de impacto foram mantidas em sigilo, e a farmacovigilância foi considerada “falha sistêmica”.
  • A Merck, fabricante original, não conduziu estudos de segurança independentes, e a ausência de escrutínio pode ter sido favorecida pelo caráter cosmético do medicamento, que não é essencial para a saúde.

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Homem segurando tufo de cabelo com uma mão e escondendo a cabeça com a outra
Pesquisador pede suspensão do uso cosmético da finasterida, receitada para tratar queda de cabelo, e maior rigor na farmacovigilância. – Imagem: Towfiqu barbhuiya/Unsplash

Mecanismo biológico e consequências duradouras

A finasterida bloqueia a produção de DHT, mas também afeta neuroesteroides ligados à regulação do humor, podendo causar alterações permanentes no cérebro. Há relatos de uma “síndrome pós-finasterida”, com sintomas que persistem meses ou anos após a suspensão do uso — incluindo insônia, ataques de pânico e disfunção cognitiva.

Brezis defende mudanças urgentes: suspensão da comercialização para fins estéticos, estudos pós-aprovação obrigatórios e investigação sistemática do uso de finasterida em casos de suicídio.

O artigo é dedicado a um paciente que, após iniciar o medicamento, desenvolveu sofrimento psiquiátrico grave e acabou tirando a própria vida — um caso que, segundo Brezis, representa muitas histórias semelhantes ignoradas ao longo dos anos.

imagem mostra um homem sentado no sofá com as mãos apoiadas no rosto, triste
Remédio usado por milhões de homens para tratar a calvície pode aumentar risco de depressão e ideação suicida, segundo pesquisadores (Reprodução: Motortion Films/Shutterstock)
Leandro Costa Criscuolo
Colaboração para o Olhar Digital

Leandro Criscuolo é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Já atuou como copywriter, analista de marketing digital e gestor de redes sociais. Atualmente, escreve para o Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.