Fim dos golpes? Conheça a nova bomba de combustível antifraude

Até 2029, todas as bombas de combustível serão substituídas por modelos antifraude, protegendo consumidores de golpes e adulterações
Por Matheus Labourdette, editado por Layse Ventura 03/10/2025 09h02
Bombas antifraude serão aliadas no combate a golpes em postos de combustível (Imagem: Olhar Digital)
Bombas antifraude serão aliadas no combate a golpes em postos de combustível (Imagem: Olhar Digital)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

As preocupações na hora de abastecer o carro são inúmeras: qualidade do combustível, preço, golpes e mais golpes. O que era para ser uma atividade corriqueira e sem grande relevância no dia pode acabar virando uma baita dor de cabeça se você não tomar cuidado.

Recentemente a Operação Carbono Oculto revelou um grande esquema do PCC em postos de gasolina. Criminosos utilizavam os estabelecimentos como verdadeiros “hubs” de atividades ilegais, desde lavagem de dinheiro até venda de combustível adulterado e bombas fraudulentas.

O que foi a Operação Carbono Oculto?

  • Maior ofensiva contra o PCC: a Operação Carbono Oculto foi deflagrada pela Polícia Federal, Ministério Público e Receita Federal, sendo considerada a maior já realizada contra a estrutura financeira do Primeiro Comando da Capital (PCC).
  • Esquema no setor de combustíveis: a investigação revelou que o grupo usava uma rede de mais de mil postos de combustíveis para lavar dinheiro, movimentando recursos ilícitos em espécie e via maquininhas.
  • Decisões judiciais: a Justiça de São Paulo apontou 19 postos com ligação direta ao esquema, localizados em São Paulo e Goiás, citados nominalmente em decisões.
  • Fraudes e adulterações: além da lavagem de dinheiro, o grupo é acusado de adulterar combustíveis com metanol, fraudar bombas e usar empresas de fachada para dar aparência de legalidade.
  • Estrutura de apoio financeiro: segundo a Justiça, os postos, empresas e pessoas físicas ligadas ao caso operavam como base logística e financeira do PCC, ajudando a reintegrar recursos oriundos do tráfico de drogas e outras atividades ilegais.

Golpe comum e a solução com as novas bombas antifraude

A fraude da “bomba burra” ou “bomba chipada” é praticada por meio da instalação de componentes adulterados nas bombas de combustível, que fazem o consumidor pagar por um volume maior do que o realmente abastecido.

Existem diversas formas de adulterar uma bomba de combustível (Imagem: Olhar Digital)
Existem diversas formas de adulterar uma bomba de combustível (Imagem: Olhar Digital)

Pensando nisso e na enorme quantidade de denúncias que o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) estava recebendo sobre golpes na hora do abastecimento, o Instituto de Pesos e Medidas (IPEM) decidiu criar as bombas de combustível antifraude. Elas serão obrigatórias em todo território nacional até 2029 e deverão agir, principalmente, para evitar discrepâncias nos mostradores.

Em entrevista ao Olhar Digital, Fred Alexandre, especialista de metrologia e qualidade do IPEM-SP, falou sobre a importância dessas novas bombas. “Ela é mais um elo na cadeia, garante que o que está sendo mostrado é realmente o que está sendo entregue”.

Como a bomba garante a quantidade certa?

Elas deverão funcionar como um “certificado de confiança” para o consumidor. Diferentemente das bombas antigas, as novas contam com algumas formas a mais de evitar golpes. A principal diferença está na criptografia. “O tráfego de informações dentro dos componentes recebe uma assinatura digital, que impossibilita o fraudador colocar um componente que altere os dados da máquina”, disse Fred.

Bombas antifraude estarão disponíveis em todos os postos do Brasil até 2029 (Imagem: Olhar Digital)
Bombas antifraude estarão disponíveis em todos os postos do Brasil até 2029 (Imagem: Olhar Digital)

Vale ressaltar que a nova tecnologia garante apenas que a quantidade abastecida está condizente com o que aparece no painel. A qualidade do combustível não é assegurada por este modelo, só a volumetria.

Caso o sistema identifique algo de errado no meio do caminho, como um chip malicioso, o painel mostrará um alerta de erro. Caso não exista nenhuma fraude na hora do abastecimento, o mostrador também irá sinalizar com uma mensagem de validação.

Cada fabricante terá uma forma diferente de identificar que o abastecimento foi concluído de forma segura (Imagem: Olhar Digital)
Cada fabricante terá uma forma diferente de identificar que o abastecimento foi concluído de forma segura (Imagem: Olhar Digital)

Substituição das bombas

A substituição será gradual. Todas as bombas possuem uma vida útil e a troca pelo modelo antifraude, mesmo com um aumento de 30% no custo de instalação, não deve refletir no preço final do combustível. Fiscais dos órgãos reguladores verificam periodicamente se os aparelhos não estão obsoletos e, caso estejam, o estabelecimento é multado.

O cronograma de substituição já é usual para os postos, portanto, o consumidor final não será afetado pela atualização para a nova versão. Cerca de 400 bombas com a nova tecnologia já foram instaladas no estado de São Paulo. Você pode conferir quais são os estabelecimentos que já contam com elas no site do IPEM.

Mensagem confirmando que o abastecimento foi executado corretamente é mostrada no painel da bomba (Imagem: Olhar Digital)
Mensagem confirmando que o abastecimento foi executado corretamente é mostrada no painel da bomba (Imagem: Olhar Digital)

Como funciona a fraude?

Para entender como funciona a fraude é preciso primeiro compreender o mecanismo do medidor da bomba. Conforme o abastecimento acontece, um motor aciona um pulso que emite sinais para o computador da bomba.

Chip altera o funcionamento da bomba resultando em preço maior do que o abastecido (Imagem: Olhar Digital)
Chip altera o funcionamento da bomba resultando em preço maior do que o abastecido (Imagem: Olhar Digital)

Cada pulso corresponde a uma determinada quantidade de combustível. Conforme essa informação chega na bomba é calculado o preço a ser mostrado no painel. A fraude acontece neste momento. Um chip adulterado é colocado nos cabos que levam os dados do pulsar até a CPU do equipamento.

Chip malicioso é colocado dentro da fiação da bomba para alterar a medição do combustível (Imagem: Olhar Digital)
Chip malicioso é colocado dentro da fiação da bomba para alterar a medição do combustível (Imagem: Olhar Digital)

O componente adulterado envia sinais falsos à CPU da bomba, fazendo com que o mostrador indique um volume maior de combustível do que o realmente fornecido, cobrando a mais do consumidor.

Próximos passos

O objetivo é ter as bombas antifraudes instaladas em todo o território nacional até 2029. Seguindo um cronograma que, reforçando, não afetará o preço final do combustível. A função da nova tecnologia é apenas aumentar a segurança para o consumidor.

Leia mais:

Com isso em mente, um aplicativo que permite ao cliente verificar como o abastecimento está sendo desenvolvido. Tivemos acesso a uma versão beta deste app, ainda em fase inicial de testes e disponível apenas para funcionários dos institutos reguladores e fiscais. Apesar disso, já dá para ter uma ideia de como vai funcionar.

O cliente poderá parear o celular com a bomba por bluetooth e verificar por conta própria se está tudo dentro da normalidade. Todas as máquinas terão um código. Através dele, será possível emparelhar com o app e conferir a procedência e confiabilidade da bomba.

Código exibido pelas bombas possibilitará que o cliente emparelhe o celular com a máquina para verificar o abastecimento (Imagem: Olhar Digital)
Código exibido pelas bombas possibilitará que o cliente emparelhe o celular com a máquina para verificar o abastecimento (Imagem: Olhar Digital)
Redator(a)

Matheus Labourdette é redator(a) no Olhar Digital

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.