Novo estudo questiona o “hábito mais antigo da humanidade”

Estudo inédito sugere que o hábito de usar palitos de dente não vem de tempos ancestrais, como se imaginava.
Samuel Amaral12/10/2025 08h43
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Hominídeos ancestrais palitavam os dentes? Novo estudo questiona essa hipótese. (Imagem: Michal Ninger / Shutterstock)
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Um novo estudo desafia a hipótese de que os hominídeos ancestrais usavam palitos de dente. Ao questionar dezenas de pesquisa anteriores, os autores alertam que é preciso cautela ao formular suposições sobre o comportamento humano primitivo. O estudo foi publicado na edição de setembro da revista científica American Journal of Biological Anthropology.

Nas últimas décadas, pesquisadores têm encontrado entalhes profundos em forma de V na arcada dentária de hominídeos milenares. Segundo estudos anteriores, essas marcas seriam um sinal de que esses ancestrais utilizavam palitos de dente, ou objeto parecido, para retirar pedaços de carne agarrados após a refeição.

Dentes de um neandertal com marcas de palito. (Imagem: David Frayer / Universidade do Kansas)

A partir dessas descobertas, o ato de palitar os dentes se popularizou como o “hábito de higiene mais antigo da humanidade”. Um estudo de 2001 identificou marcas semelhantes em fósseis que variam de 1,84 milhão de anos a exemplares de neandertais mais recentes.

Agora, na inédita pesquisa, antropólogos foram além: buscaram esses vestígios em outros primatas. A equipe examinou mais de 531 dentes de 27 indivíduos, tanto de espécies vivas como extintas, para entender se palitar a dentição é a única origem para esses traços.

“Juntas, essas descobertas podem ajudar a reformular a maneira como interpretamos o registro fóssil e levantar novas questões sobre as maneiras exclusivamente humanas como nossos dentes são afetados hoje”, escreveram os autores em um artigo de divulgação no site The Conversation.

Pesquisa revela outra explicação para as “marcas de palito”

As análises revelaram que os entalhes na gengiva estavam presentes em apenas 4% dos indivíduos estudados. Algumas lesões em primatas, principalmente em um orangotango, eram semelhantes às “marcas de palito de dente” nos restos mortais humanos. No entanto, a equipe notou que os sujeitos vivos dessas espécies não palitam os dentes.

Em busca de uma explicação, a equipe constatou que as ranhuras eram, na verdade, resultado de outros fatores. “Mastigação natural, alimentos abrasivos ou até mesmo areia engolida podem produzir padrões semelhantes. Em alguns casos, comportamentos especializados, como arrancar vegetação com os dentes, também podem contribuir. Portanto, precisamos ser cautelosos ao interpretar cada sulco fóssil como uma ação deliberada de palitar os dentes”, escreveram os pesquisadores.

Orangotango (Pongo pygmaeus) com uma “marca de palito” no segundo molar inferior esquerdo. (Imagem: Ian Towle)

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Em seu artigo, os pesquisadores deixaram um alerta para pesquisas futuras. Muita das vezes, marcas que parecem ser resultado de hábitos culturais podem ter uma explicação biológica. “Devemos verificar nossos parentes mais próximos antes de assumir uma explicação cultural específica ou única”, concluíram os autores.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.