O cientista Fred Ramsdell leva a sério a ideia de ficar offline durante as férias. Tão a sério que o Modo Avião ativado no celular o levou a perder a chamada que mudaria sua vida. Foi sua mulher, Laura O’Neill, que acabou dando a notícia. “Você acabou de ganhar o Prêmio Nobel!”, gritou ela em um estacionamento em Montana, perto do Parque Nacional de Yellowstone.
Na enxurrada de mensagens, familiares e amigos parabenizavam o imunologista da Sonoma Biotherapeutics pela conquista. O laboratório, aliás, avisou que o pesquisador “estava vivendo sua melhor vida, fora do circuito, em uma viagem de caminhada pré-planejada”, segundo reportagem do jornal The New York Times. “Passo o máximo de tempo que posso nas montanhas. Costumamos ir para áreas remotas”, afirmou o cientista, que estava acompanhado da mulher para procurar bisões, alces, alces e águias.

Presos na neve e fora da rede, os dois viajaram mais de uma hora até encontrar sinal de Wi-Fi após receberem a notícia. “Fizemos check-in em um hotel em uma cidadezinha no sul de Montana. Entrei na internet e comecei a fazer ligações.” A parada nas proximidades de Yellowstone finalizaria uma viagem de três semanas entre as montanhas de Idaho, Wyoming e Montana a partir de Seattle, nos EUA.
Ligações perdidas
A primeira ligação do comitê foi feita às 2 da manhã no horário local de uma segunda-feira. O Dr. Ramsdell conta que tentou retornar a ligação para Thomas Perlmann, secretário-geral da Assembleia Nobel, mas já eram 23h na Suécia (e ele estava dormindo). O contato só foi feito na manhã seguinte, às 6h15, quase 20 horas após a primeira ligação. Em uma entrevista, Dr. Perlmann disse que nunca teve tanta dificuldade para falar com um ganhador do prêmio desde que assumiu o cargo em 2016.
“Fiquei muito grato e honrado por receber o prêmio, super feliz pelo reconhecimento do trabalho em geral e ansioso para compartilhar isso com meus colegas também”, disse o cientista, que, após conversar com Dr. Perlmann dirigiu por seis horas até chegar a sua casa de inverno também em Montana.

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E não foi só ele…
Além do Dr. Ramsdell, o Nobel de Medicina também foi concedido a Mary E. Brunkow e Shimon Sakaguchi, autores da mesma pesquisa sobre o sistema imunológico. “Meu telefone tocou, vi um número da Suécia e pensei: ‘Bem, isso é só spam’, então desliguei o telefone e voltei a dormir”, contou Brunkow ao site do Nobel.

O trio foi premiado por suas descobertas relacionadas à tolerância imunológica periférica. Os laureados identificaram os guardiões do sistema imunológico, as células T reguladoras , que impedem que as células imunológicas ataquem o nosso próprio corpo. “Suas descobertas foram decisivas para nossa compreensão de como o sistema imunológico funciona e por que nem todos desenvolvemos doenças autoimunes graves”, diz Olle Kämpe, presidente do Comitê Nobel.
As descobertas dos laureados inauguraram o campo da tolerância periférica, estimulando o desenvolvimento de tratamentos médicos para câncer e doenças autoimunes. Isso também pode levar a transplantes mais bem-sucedidos, segundo o comitê. Vários desses tratamentos estão atualmente em ensaios clínicos.