Como os vídeos curtos podem prejudicar o desenvolvimento do cérebro de crianças

Com a atenção e outras áreas cognitivas ainda em desenvolvimento, especialistas alertam que o consumo de vídeos curtos pode ser prejudicial
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 14/10/2025 05h40
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Imagem: Kaspars Grinvalds / Shutterstock
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Diversos estudos analisam os impactos da exposição das crianças às telas. Mas existe um outro fator que também precisa ser levado em conta nestas análises. Cada vez mais os menores de idade têm consumido vídeos curtos nas redes sociais.

De acordo com um levantamento da Hibou Pesquisas e Insights, as crianças passam a maior parte do seu tempo no Youtube (54%) e TikTok (41%). Com a atenção e outras áreas cognitivas ainda em desenvolvimento, especialistas alertam que o comportamento pode ser prejudicial a longo prazo.

Comportamento pode atrapalhar desenvolvimento cerebral em crianças (Imagem: Edit 4 Me/Shutterstock)

Problemas de concentração e mais

Em reportagem de O Globo, a neuropediatra Marcela Rodriguez de Freitas, secretária do Departamento Científico de Neurologia Infantil da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), cita um mecanismo do cérebro chamado de sistema de recompensa. “Ele nos motiva a repetir comportamentos que geram prazer ou satisfação”, explica.

A longo prazo, a tendência de se divertir com o próprio celular ou tablet, por exemplo, pode fazer com que a criança desenvolva dependência e se afaste do mundo real. Neste cenário, a própria forma como as redes sociais atuam aumenta as chances do cérebro se viciar no conteúdo.

Logo do TikTok em um smartphone que está em cima de um teclado de computador
Algoritmo do TikTok e de outras redes sociais atua para deixar usuários ‘viciados’ (Imagem: Sidney de Almeida/Shutterstock)

Um estudo publicado na revista científica NeuroImage já demonstrou que ver vídeos de poucos segundos pode causar uma desaceleração no processamento de informações, também chamado de “névoa mental”. Em crianças, essa exposição pode gerar problemas de concentração. Outro problema é que esse tipo de conteúdo não estimula o senso crítico da criança.

Assim, comparando diferentes formas de exposição à tela, para o cérebro de uma criança, adolescente e mesmo para um adulto, ver vídeos muito curtos é completamente diferente do que ver uma série, desenho ou filme.

Marcela Rodriguez de Freitas, neuropediatra e secretária do Departamento Científico de Neurologia Infantil da Academia Brasileira de Neurologia

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Pessoa segurando celular com logo do YouTube Shorts na tela, também exibido numa tela ao fundo
Vídeos curtos do YouTube são bastante consumidos por menores de idade (Imagem: viewimage/Shutterstock)

Crianças podem desenvolver sintomas de ansiedade e depressão

  • As discussões são respaldadas por diversos estudos sobre o tema.
  • Especialistas afirmam que passar muito tempo no celular prejudica a interação e o contato social dos mais novos.
  • Além disso, o conteúdo consumido nas redes sociais pode ser maléfico para a formação de caráter, bem como prejudicar o sono e a qualidade do descanso, agravando problemas emocionais.
  • Um estudo recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), feito junto com a Universidade John Hopkins dos Estados Unidos e publicado no Journal of Adolescent Health, aponta que um em cada sete adolescentes entre 10 e 19 anos enfrenta algum tipo de problema de saúde mental.
  • O trabalho ainda destaca que um terço dos jovens apresenta os primeiros sintomas antes dos 14 anos, mas a maioria dos casos o problema não é detectado nem tratado.
  • Além disso, dados indicam que as condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões nesse grupo.
Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.