Esta pode ter sido a primeira colisão de meteorito com carro em movimento do mundo

Um carro da Tesla foi atingido na Austrália por algo que ninguém sabe dizer o que era. Suspeita-se de meteorito – especialistas ponderam
Flavia Correia31/10/2025 16h27
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Isso pode parecer um dano típico no para-brisa causado por uma pedra, mas uma análise mais detalhada revela que o vidro derreteu, e não quebrou. Crédito: Andrew Melville-Smith
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Algo inusitado aconteceu com o médico veterinário australiano Andrew Melville-Smith na madrugada de 19 de outubro. Ele teve seu Tesla Model Y atingido por um objeto desconhecido, que provocou danos jamais vistos antes. O Museu da Austrália do Sul recebeu o carro para análise e cogita a possibilidade de impacto de meteorito. Especialistas, no entanto, consideram improvável essa explicação.

Melville-Smith dirigia pela região do Golfo de Spencer, uma grande baía no sul da Austrália com estradas abertas e áreas pouco habitadas, quando seu Tesla foi atingido por algo desconhecido, provocando uma explosão e estilhaços de vidro. “Pensei que tínhamos batido e fiquei em choque”, disse ele em um comunicado, contando que o carro se encheu de fumaça e cheiro de queimado.

Os danos no para-brisa atingido pelo objeto misterioso nunca foram vistos em carro algum. Crédito: Andrew Melville-Smith

A esposa de Melville-Smith chegou a gritar que o carro havia explodido. Inicialmente, o veterinário pensou até em um disparo de arma de fogo, mas logo descartou a hipótese. Apesar do para-brisa destruído, o Tesla continuava funcionando normalmente. Não havia sinais de bala, e a chance de alguém disparar em um local tão remoto era mínima. 

Cangurus são comuns nas estradas da região, mas nenhum animal poderia causar o tipo de dano observado: uma cratera no vidro, que chegou a derreter parcialmente e voltou a solidificar ainda quente ao toque. Os ocupantes inspecionaram o local, mas não encontraram vestígios do que poderia ter atingido o carro. As câmeras do veículo não forneceram pistas úteis.

Impacto causou danos nunca antes observados

Ao levar o Tesla para conserto, Melville-Smith percebeu que os danos eram incomuns até para profissionais experientes. As oficinas nunca tinham visto um para-brisa parcialmente derretido, e as câmeras do modo de direção autônoma estavam além de sua capacidade de reparo. Um técnico comentou que o vidro automotivo só derrete a cerca de 1.500 °C, e ninguém conseguiu explicar o que poderia ter causado aquilo.

O proprietário do veículo enviou fotos ao Museu da Austrália do Sul, que considerou inicialmente todas as possibilidades. Kieran Meaney, gerente da Coleção de Minerais e Meteoritos, explicou que a maioria dos casos suspeitos de meteoritos acaba sendo apenas rochas da Terra. Ainda assim, a equipe científica decidiu analisar a hipótese com cuidado. “Foi atingido por algo quente e não temos outra explicação convincente”, afirmou Meaney. O entusiasmo do museu deu confiança a Melville-Smith para tornar o caso público.

As crateras no para-brisa não se parecem com o que os reparadores estão acostumados a ver. Crédito: Andrew Melville-Smith

O museu planeja coletar amostras do veículo, e se realmente se tratar de um meteorito, este será o primeiro registro do tipo. Até o momento, nenhum outro caso semelhante foi relatado. E, segundo quem entende do assunto, tudo indica que não vai ser dessa vez. 

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Especialistas são céticos sobre meteorito ter atingido o Tesla

O astrofísico Jonti Horner, da Universidade do Sul de Queensland, afirmou à ABC News que meteoritos esfriam ao atravessar a atmosfera e dificilmente atingiriam o solo a temperaturas capazes de derreter vidro. Hadrien Devillepoix, da Universidade Curtin, acrescentou que em um céu limpo, o impacto provavelmente teria sido visto de Adelaide, mas não houve relatos visuais.

Especialistas em observação de meteoros também expressam dúvidas. Ellie Sansom, da Rede de Bolas de Fogo do Deserto, disse que a ausência de qualquer bola de fogo visível dificulta relacionar o incidente a um meteorito. Ela admite que detritos espaciais poderiam ser responsáveis, mas lembra que tais fragmentos raramente atingem temperaturas tão altas. Ainda assim, essa explicação é considerada mais plausível do que outras, dada a exclusão de opções mais comuns.

Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Bramon e colunista do Olhar Digital, reforça as opiniões dos cientistas. “Além das informações apontadas pelos especialistas, acrescento que, pelas marcas no vidro, o impacto foi, aparentemente, frontal. Então é mais fácil que o carro tenha sido atingido por algo que caiu de outro veículo ou que tenha sido lançado do solo na direção dele. Suspeito que material derretido encontrado no local não seja vidro, talvez o plástico entre as camadas de vidro do para-brisa”.

Melville-Smith acredita que o sistema de direção autônoma do Tesla foi decisivo para evitar um acidente mais grave. “Se estivéssemos em outro veículo, provavelmente teríamos sofrido um acidente nos momentos de incapacitação”, disse. O sistema manteve o carro estável, garantindo a segurança de todos os ocupantes.

A origem do objeto ainda é desconhecida. Pode ter sido um fragmento espacial ou algum fenômeno raro não documentado. Talvez nunca se saiba exatamente o que atingiu o carro, tornando o caso um exemplo raro de evento improvável, envolvendo tecnologia, acaso e mistério.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.