Pesquisadores investigam riscos das “bolas de fogo” no céu do Halloween

Fragmentos gigantes da chuva de meteoros Táuridas podem colidir com a Terra? Cientistas examinam as "bolas de fogo" do Halloween
Flavia Correia31/10/2025 13h48
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Representação artística da chuva de meteoros Táuridas, que produz as famosas "bolas de fogo de Halloween" – com a bruxinha para brincar com o tema. Crédito: Imagem gerada por IA/Gemini
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Um artigo publicado na revista Acta Astronautica analisou a chuva de meteoros Táuridas, famosa por suas bolas de fogo no céu durante o Halloween (31 de outubro), para investigar se a corrente de detritos espaciais poderia incluir fragmentos maiores capazes de representar risco de impacto à Terra.

Essa chuva recebe o nome de Táuridas porque os meteoros parecem surgir da direção da constelação de Touro. O fenômeno é melhor observado em locais com céu escuro e pouco poluído, como desertos e áreas afastadas de cidades. 

Sobre a chuva de meteoros Táuridas:

  • Meteoros são rastros de luz que surgem quando partículas de poeira e rochas espaciais entram na atmosfera da Terra e se queimam devido ao atrito;
  • Na chuva Táuridas, esses fragmentos vêm do cometa Encke, que deixou um rastro de detritos ao longo de sua órbita;
  • Essa corrente cruza a Terra à noite, entre outubro e novembro, e durante o dia, em junho, quando recebem o nome de Beta Táuridas.
Chuva de meteoros Táuridas do Sul vista em outubro de 2020 sobre a Estação Bharati, na Antártica, acompanhada das luzes da aurora austral, com Marte à direita. Crédito: Ankush Magotra/Reprodução X

Chuva de meteoros Táuridas pede atenção em 2032 e 2036

O estudo focou no risco de impactos de objetos maiores dessa chuva Esses agrupamentos, chamados de enxames ressonantes, podem se formar devido à gravidade de Júpiter, que concentra fragmentos em determinadas regiões da órbita. Caso existam, eles aumentariam a densidade de detritos que a Terra pode encontrar, elevando o potencial de colisões.

Segundo os pesquisadores, a Terra poderá atravessar essas regiões mais densas em datas específicas, elevando o risco de impactos com objetos próximos da Terra (NEOs). Os períodos de maior atenção previstos são 2032 e 2036, quando o hipotético enxame poderia se aproximar do planeta.

A maior parte dos NEOs é pequena e se desintegra na atmosfera, produzindo as bolas de fogo que todos podem observar no Halloween. Porém, objetos maiores podem gerar explosões aéreas significativas, como o meteoro de Chelyabinsk em 2013, que liberou energia equivalente a meio megaton de TNT, ou o evento de Tunguska, em 1908, que foi dez vezes mais potente.

A equipe utilizou dados de observações recentes e modelos teóricos para estimar a densidade e o comportamento do enxame ressonante. Evidências indiretas, como bolas de fogo muito brilhantes e impactos detectados na Lua, apoiam a hipótese de que tais agrupamentos podem existir. Telescópios poderão monitorar os objetos em 2032 e 2036, avaliando o risco real de colisão.

Mesmo com um enxame concentrado, a probabilidade de impacto direto continua baixa. A detecção antecipada é fundamental: instrumentos como o telescópio infravermelho NEO Surveyor poderão identificar objetos com antecedência, oferecendo tempo para medidas preventivas caso necessário.

Além do aspecto técnico, o estudo alerta sobre desinformações que circulam em redes sociais e na mídia sensacionalista. Boatos exageram a ameaça de enxames de meteoros, sugerindo catástrofes globais sem base científica. O professor Mark Boslough, da Universidade do Novo México (UNM), especialista em defesa planetária e líder do estudo, já desmentiu alegações de explosões aéreas antigas e de efeitos climáticos catastróficos ligados à chuva Táuridas.

Mark Boslough mostra o meteorito Tsarev, que caiu na Rússia em 6 de dezembro de 1922, no chão de um laboratório de meteorítica em Ecaterimburgo, onde meteoritos recém-caídos de Chelyabinsk estavam sendo analisados. Crédito: Mark Boslough

Em um comunicado, Boslough enfatiza que os riscos devem ser entendidos em perspectiva, assim como outros fenômenos naturais, como terremotos, vulcões e tempestades, por exemplo. Em Chelyabinsk, a maioria dos ferimentos ocorreu por estilhaços de vidro, quando pessoas correram para observar o clarão. A orientação é afastar-se das janelas e não olhar diretamente para a explosão.

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Como ver as “bolas de fogo” de Halloween

Para quem quer apenas observar o fenômeno, o céu oferece um espetáculo único. As Táuridas atingem o pico entre o fim de outubro e o início de novembro, com maior atividade após as 2h da manhã, quando a constelação de Touro está alta. Após a Superlua de 5 de novembro, o céu escuro favorece a visualização das bolas de fogo cruzando a paisagem celeste.

Um app de observação, como Stellarium, Star Walk ou Sky Safari, pode ajudar a encontrar a constelação de Touro, aumentando as chances de ver “estrelas cadentes” – e não se esqueça de fazer o seu pedido, como manda a tradição. Boa sorte!

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.