Astronautas “presos” no espaço: histórias de sobrevivência e resiliência em órbita

Três chineses estão "presos" no espaço – relembre outras histórias de astronautas que passaram mais tempo que o previsto em órbita
Flavia Correia12/11/2025 16h55
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Representação artística de um astronauta olhando para a Terra a partir da cúpula da uma estação espacial fictícia. Crédito: Imagem gerada por IA/Gemini
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Conforme noticiado pelo Olhar Digital, os astronautas chineses Chen Dong, Chen Zhongrui e Wang Jie, membros da missão Shenzhou-20, estão em órbita há mais de seis meses. A cápsula trazendo o trio deveria retornar à Terra na última quarta-feira (5), mas a Agência Espacial Tripulada da China (CMSA) anunciou o cancelamento do pouso, sob suspeita de que a nave teria sido impactada por pequenos detritos espaciais, o que poderia tornar a viagem arriscada.

Com isso, ainda não há previsão para a volta dos três taikonautas para casa. Nesta terça-feira (11), a CMSA publicou um comunicado breve sobre o status da tripulação. A agência afirmou que, seguindo os princípios de “vida e segurança em primeiro lugar”, medidas de emergência foram ativadas e os trabalhos seguem de forma organizada.

Astronautas da missão Shenzhou-20 trabalhando na estação espacial Tiangong – trio vai precisar esperar para voltar para casa por causa de acidente com lixo espacial. Crédito: Agência Espacial Tripulada da China (CMSA)

Especialistas acreditam que situações de “pessoas presas no espaço”, como os tripulantes da Shenzhou-20, mostram a necessidade de um sistema de resgate espacial internacional. Esse caso se soma a outros episódios que também prorrogaram a permanência de astronautas além do tempo programado, pelos mais variados motivos. Confira a seguir.

Cinco casos de astronautas que ficaram “presos” no espaço

Ao longo das últimas décadas, diferentes missões espaciais enfrentaram falhas técnicas, crises políticas e outros imprevistos que obrigaram tripulações a permanecer em órbita por mais tempo do que o planejado. Abaixo, estão cinco dos episódios mais famosos.

Sunita Williams e Barry “Butch” Wilmore

A primeira missão tripulada da cápsula Boeing Starliner, lançada em junho de 2024, tinha um objetivo simples: levar os astronautas da NASA Sunita Williams e Barry “Butch” Wilmore à Estação Espacial Internacional (ISS) para uma estadia de cerca de oito dias. 

No entanto, falhas técnicas transformaram a missão em uma das mais longas e imprevistas da história recente. Vazamentos de hélio e problemas nos propulsores fizeram com que a cápsula não fosse considerada segura para o retorno. Sem solução imediata, a espaçonave voltou à Terra sem tripulação, e os astronautas permaneceram a bordo da ISS por quase nove meses, retornando apenas em março deste ano, de “carona” com a SpaceX.

Astronautas da NASA Sunita Williams e Butch Wilmore dentro da Estação Espacial Internacional
Os astronautas da NASA Sunita Williams e Butch Wilmore passaram muito mais tempo que o previsto dentro da Estação Espacial Internacional. Crédito: NASA

Frank Rubio, Sergei Prokopyev e Dmitry Petelin

Em setembro de 2022, o astronauta Frank Rubio, da NASA, e os cosmonautas russos Sergei Prokopyev e Dmitry Petelin partiram para a ISS na cápsula Soyuz MS-22. A missão estava programada para durar cerca de 180 dias, mas um vazamento no sistema de refrigeração da nave tornou o veículo inseguro para o retorno. 

Sem alternativa imediata, a tripulação precisou aguardar o envio de uma nova cápsula, a Soyuz MS-23, que só foi lançada mais de seis meses depois. Isso acabou prolongando a missão em mais de um ano, totalizando 371 dias – tempo que fez de Rubio o astronauta dos EUA com a permanência contínua mais longa já registrada no espaço.

Da direita para a esquerda: Frank Rubio, astronauta da NASA, e seus companheiros russos da missão Soyuz MS-22 Sergey Prokopyev e Dmitri Petelin, que ficaram 371 dias na estação espacial. Crédito: Roscosmos

Peggy Whitson

A astronauta Peggy Whitson, uma das mais experientes da NASA, viveu uma situação menos crítica, mas ainda assim inesperada. Em sua terceira missão, iniciada em novembro de 2016, ela deveria permanecer cerca de seis meses na ISS. No entanto, a Roscosmos decidiu reduzir temporariamente o número de cosmonautas a bordo da estação, o que deixou um assento livre na cápsula Soyuz programada para o retorno.

Diante da oportunidade, as agências espaciais concordaram em estender a estadia de Whitson para que ela continuasse apoiando experimentos e operações científicas. Com isso, a permanência da astronauta foi ampliada para 289 dias em órbita, quase quatro meses além do previsto, o que lhe garantiu na época o recorde feminino de tempo contínuo no espaço.

Missão planejada de seis meses da astronauta Peggy Whitson, da NASA, foi ampliada para 289 dias entre 2016 e 2017. Crédito: NASA

Sergei Krikalev

Em maio de 1991, o cosmonauta Sergei Krikalev, da então União Soviética (URSS), partiu para a estação espacial Mir em uma missão que deveria durar cerca de oito meses. No entanto, enquanto ele orbitava a Terra, a União Soviética entrou em colapso, dando lugar à Federação Russa, que enfrentava sérias dificuldades financeiras e não tinha recursos imediatos para organizar o retorno de Krikalev.

Diante da crise, o cosmonauta acabou ficando em órbita muito além do planejado, enquanto as novas autoridades tentavam reajustar o programa espacial. Ao todo, ele passou 312 dias a bordo da Mir, entre maio de 1991 e março de 1992. Quando finalmente retornou à Terra, encontrou um mundo completamente diferente daquele que havia deixado. Embora tenha dividido parte da missão com Anatoly Artsebarsky e Alexander Volkov, Krikalev viveu longos períodos em isolamento e tornou-se um símbolo de resistência – o homem que continuou trabalhando em nome de um país que já não existia.

Sergei Krikalev, cosmonauta que ficou à deriva no espaço por 312 dias, retornando como o “último cidadão soviético”. Crédito: Bill Ingalls/NASA

Valeri Polyakov

O caso mais emblemático de permanência estendida no espaço é o do cosmonauta russo Valeri Polyakov. Em 1994, ele embarcou para a estação espacial Mir em uma missão que deveria durar cerca de oito meses. No entanto, diante do bom desempenho físico e psicológico, decidiu por si próprio permanecer mais tempo para estudar os efeitos de uma viagem interplanetária simulada. 

O resultado foi uma estadia recorde de 437 dias consecutivos no espaço, o maior período já cumprido por um ser humano. Embora sua extensão tenha sido voluntária e científica, o caso se tornou símbolo das imprevisibilidades das missões de longa duração.

Valeri Polyakov passou 437 dias consecutivos em órbita, o maior período que um ser humano já permaneceu no espaço. Crédito: Roscosmos

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Qual foi a maior velocidade alcançada por um voo espacial humano?

Quando se fala em viagens espaciais, a velocidade mais alta já alcançada não foi atingida por seres humanos. O título pertence a uma missão não tripulada: a sonda solar Parker, da NASA, que em 24 de dezembro de 2024 chegou a 692 mil quilômetros por hora ao se aproximar do Sol. Nessa velocidade, seria possível cruzar os EUA de uma ponta à outra em apenas 23 segundos.

No caso de voos tripulados, o recorde é da missão Apollo 10, em 1969, que aconteceu dois meses antes da famosa Apollo 11, responsável por pousar o homem pela primeira vez na Lua. A Apollo 10 funcionou como um ensaio geral: testou todos os procedimentos e equipamentos, mas sem pousar de fato. A tripulação era formada por Thomas Stafford, John Young e Eugene Cernan. Clique aqui para saber mais detalhes da missão e qual velocidade ela atingiu.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.