COP30 termina sem acordo sobre fim de combustíveis fósseis

Proposta brasileira de transição energética, apoiada por 80 países, fica de fora do acordo final da COP30 após oposição de nações petrolíferas
Lucas Soares23/11/2025 09h25
Ilustração sobre a COP30, em Belém
(Imagem: DOERS/Shutterstock)
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A 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30) terminou Belém sem conseguir incluir na declaração final a proposta brasileira que estabelecia um “mapa do caminho” para o fim do uso dos combustíveis fósseis, uma das pautas mais importantes do evento. A iniciativa, apoiada por mais de 80 países, enfrentou resistência firme de nações produtoras de petróleo, com destaque para a Arábia Saudita.

O impasse manteve negociadores em discussões até a madrugada deste sábado (22)), refletindo a divisão profunda entre países que pressionam por metas concretas de eliminação progressiva de combustíveis fósseis e aqueles que defendem que menções a esse tema poderiam comprometer seu desenvolvimento econômico.

Presidente da COP30 diz que Brasil seguirá com proposta paralela

André Corrêa do Lago, presidente da COP30, confirmou em entrevista à CNN que o texto final do acordo não incorporou a proposta brasileira, mas anunciou que o país seguirá com a iniciativa como um programa independente.

André Corrêa do Lago (Imagem: Bruno Peres/Agência Brasil)

A decisão representa um contraste significativo com o discurso ambicioso do presidente Lula que marcou o início da conferência, quando o Brasil mobilizou dezenas de países em torno da necessidade de um roteiro claro para superar a era dos combustíveis fósseis.

“Lacuna” no relatório final

O resultado final da conferência mantém assim a lacuna entre o reconhecimento da crise climática e a implementação de ações concretas para enfrentar sua principal causa: a queima de combustíveis fósseis. Especialistas e representantes da sociedade civil alertam que, sem avanços nessa frente, torna-se impossível romper ciclos de desigualdade e destruição ambiental.

Em entrevista ao Olhar Digital News na última sexta-feira (21), o renomado climatologista Carlos Nobre chamou de “grande lacuna” a ausência de qualquer referência à eliminação dos combustíveis fósseis nos últimos rascunhos do documento final.

O nosso documento dizia, idealmente, zerar o uso de combustíveis fósseis em 2040, não mais que em 2045, para não deixar a temperatura do planeta aquecer demais, não deixar em 2050, por exemplo, chegar a dois graus, que isso vai ser um ecocídio, um suicídio ecológico

Carlos Nobre, climatologista, Professor Titular da Cátedra de Clima e Sustentabilidade da Universidade São Paulo e copresidente do Painel Científico para a Amazônia
combustíveis fósseis
Imagem: Lane V. Erickson / Shutterstock.com

A extensão das negociações além do prazo original – um fenômeno comum nas COPs – não foi suficiente para superar as resistências. O cenário repete impasses de conferências anteriores e evidência os desafios persistentes da diplomacia climática multilateral em traduzir a urgência científica em compromissos políticos vinculantes.

Avanços reais: financiamento e valorização das florestas tropicais

Apesar do impasse climático, os especialistas concordam que a COP30 produziu avanços relevantes. Artaxo cita como exemplo o fundo TFFF (Florestas Tropicais para Sempre), que ganhou novo fôlego com o aporte de € 1 bilhão (cerca de R$ 6,1 bilhões) da Alemanha, somando agora mais de US$ 6 bilhões. O fundo visa financiar países em desenvolvimento na preservação de florestas, como as nações da Bacia do Congo e do Sudeste Asiático.

Reflorestamento com IA: iniciativa brasileira é premiada por recuperar Amazônia
Reflorestamento com IA: iniciativa brasileira é premiada por recuperar Amazônia (Imagem: vitormarigo / Shutterstock)

Outro ponto positivo foi a consolidação de mecanismos de financiamento para a transição energética. Embora o fundo global de adaptação ainda esteja longe da meta de US$ 1,3 trilhão por ano, o reforço em relação à COP anterior indica uma tendência de crescimento, essencial para que países em desenvolvimento acelerem sua descarbonização.

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Apesar dos avanços, a sensação ao final do evento foi de que a COP30 poderia ter feito mais. O lobby do petróleo, que já havia conseguido impedir o avanço de propostas pelo fim dos combustíveis fósseis em COPs anteriores, conseguiu prevalecer mais uma vez, apesar dos enfáticos discursos do Brasil e do apoio de algumas das maiores economias do mundo.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.