Violência digital atinge 1 em cada 10 brasileiras, diz pesquisa

Dados inéditos mostram que 1 em cada 10 brasileiras sofreu violência digital no último ano. Estudo detalha tipos de agressões e como denunciar
Ana Luiza Figueiredo03/12/2025 12h50
mulher em frente a um tablet com as mãos no rosto
(Imagem: Markus Photo and video / Shutterstock.com)
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Um dado inédito revela a dimensão da violência digital contra mulheres no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, conduzida pelo Datasenado em parceria com a Nexus e obtida pelo Bom Dia Brasil, quase 9 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de ataque online nos últimos 12 meses.

O estudo reúne mais de 21 mil entrevistas em todo o país e, pela primeira vez, analisa de forma detalhada como as agressões de gênero se manifestam no ambiente virtual. Os resultados mostram que os ataques, cada vez mais frequentes, já são vistos por muitas vítimas como parte da rotina digital.

mulher irritada olhando para a tela do celular
(Imagem: fizkes / Shutterstock.com)

Ataques mais comuns no ambiente virtual

A pesquisa indica que as agressões incluem mensagens ofensivas e ameaçadoras enviadas repetidamente, invasão de contas e dispositivos pessoais e divulgação de informações falsas nas redes sociais. A naturalização desse tipo de crime preocupa especialistas envolvidos no levantamento.

Em um dos trechos destacados, Maria Teresa Prado, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal, afirma:

“Os números levaram a gente a pensar o quanto essa violência digital está naturalizada. (…) Ela tem que denunciar essa violência. Nós temos leis para coibir a violência digital.”

Os pesquisadores destacam ainda que, no ambiente online, as vítimas costumam demorar mais para perceber a gravidade das agressões e buscar ajuda. A análise reforça que segurança nas plataformas, agilidade na investigação e responsabilização dos agressores são passos essenciais para reduzir o problema. Também aparece como ponto relevante a necessidade de educar meninos desde cedo para o respeito às mulheres.

celular sobre fundo preto acorrentado e com cadeado
Segurança nas plataformas digitais é um dos passos essenciais para reduzir o problema (Imagem: Dragon Claws / Shutterstock.com)

Relatos de vítimas mostram impacto emocional

O levantamento traz depoimentos que ilustram como a violência digital pode se intensificar ao longo do tempo. Uma jovem de 22 anos, que prefere não ser identificada, relata sofrer perseguições desde 2022, após publicar um post defendendo a memória da vereadora Marielle Franco.

Ela afirma que, dois anos depois, as agressões aumentaram: passou a receber ameaças diárias de estupro e morte, além de montagens com imagens geradas por inteligência artificial (IA) em que aparecia nua ou em cenas pornográficas. Até encomendas não solicitadas chegaram ao endereço dela, ampliando o medo de exposição.

“O nível de desumanização desses homens, desses grupos é demais e, em nenhum momento, eles te veem ali como um ser humano”, disse. Em outro momento, a jovem resume o impacto:

“É limitador, sabe, muito limitador. Porque você tem medo de sair, de te expor de alguma forma, tirarem foto sua, de estarem te perseguindo.”

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Como denunciar violência digital

A orientação dos especialistas é direta: toda forma de violência no ambiente virtual deve ser denunciada. As vítimas podem procurar qualquer delegacia da Polícia Civil ou unidades especializadas, incluindo Delegacias da Mulher e de Crimes Virtuais.

polícia civil
Vítimas podem procurar delegacias da Polícia Civil (Imagem: rafaelnlins / Shutterstock.com)

Também é possível denunciar pela internet, por meio da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, mantida pela Safernet Brasil. A plataforma recebe cerca de 2.500 denúncias por dia envolvendo páginas com indícios de crimes como racismo, pedofilia, neonazismo, intolerância religiosa, apologia a crimes contra a vida, homofobia e maus-tratos a animais. O acompanhamento da denúncia pode ser feito em tempo real, e 99% dos usuários optam por manter o anonimato.

Outro canal disponível é a Central Ligue 180, que funciona 24 horas por dia. O atendimento é gratuito, realizado de Brasília por profissionais especializadas em violência de gênero, e pode ser usado tanto para denúncias quanto para orientações.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.