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A participação das mulheres na ciência e tecnologia sempre existiu, mas por décadas seus trabalhos foram ofuscados por barreiras sociais, falta de reconhecimento e limitações de ambientes masculinos.
Muitas delas tiveram suas invenções registradas tardiamente, ignoradas por instituições ou até atribuídas a terceiros. Mesmo assim, algumas conseguiram romper essas barreiras e criar tecnologias que se tornaram parte do cotidiano de milhões de pessoas.
Em meio a essas histórias, diversos eletrodomésticos surgiram graças ao talento de inventoras que se dedicaram a resolver problemas práticos da vida doméstica, e muitas vezes sem acesso a laboratórios, incentivos ou oportunidades equivalentes às oferecidas a seus colegas homens.
Apesar disso, suas criações evoluíram, ganharam versões modernas e hoje são usadas em casas do mundo inteiro. Ainda assim, pouca gente sabe que esses objetos têm assinatura feminina.
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É justamente esse desconhecimento que faz essas histórias serem tão relevantes, pois elas mostram como o avanço tecnológico não é resultado apenas de grandes corporações, mas também de ideias independentes que nasceram do olhar atento e da necessidade de melhorar tarefas do dia a dia. Veja seguir cinco eletrodomésticos inventados por mulheres e como cada uma deixou sua marca na história da tecnologia moderna.

5 eletrodomésticos que você usa que foram inventados por mulheres
Na história das invenções domésticas, o crédito feminino foi frequentemente apagado ou minimizado ao longo dos séculos. Mesmo quando o projeto, o protótipo e a funcionalidade vinham diretamente do trabalho de uma mulher, muitas enfrentaram obstáculos legais para registrar patentes ou tiveram seus feitos criticados por desafiarem normas sociais da época. Ainda assim, elas persistiram e contribuíram para a evolução do design, da praticidade e da eficiência dos eletrodomésticos.
Essas invenções facilitaram o cotidiano e abriram caminho para novas tecnologias, inspirando gerações seguintes. Cada uma dessas criadoras atuou em um contexto diferente, mas todas enfrentaram dúvidas sobre sua capacidade técnica, resistência institucional e a falta de espaço para mulheres em áreas de engenharia, mecânica e ciência. Conhecer seus nomes ajuda a reparar parte dessa negligência histórica e valorizar o impacto que tiveram no desenvolvimento da tecnologia doméstica.
Lava-louças – Josephine Cochrane (1886)

A primeira lava-louças funcional foi criada por Josephine Cochrane, uma mulher da alta sociedade norte-americana que se irritava ao ver sua porcelana fina sendo danificada pelos empregados da casa. Determinada a encontrar uma solução prática, ela decidiu projetar um equipamento que lavasse louças rapidamente, utilizando água quente sob pressão. Sem formação formal em engenharia, Cochrane trabalhou no fundo de sua casa ao lado de um mecânico, desenvolvendo um sistema de compartimentos metálicos que segurava pratos, copos e utensílios, permitindo a circulação de jatos de água.
Em 1886, ela registrou a patente e apresentou o invento na Exposição Mundial de Chicago, em 1893, onde chamou a atenção de restaurantes e hotéis, que se tornaram seus primeiros clientes. Josephine recebeu créditos em vida, mas o reconhecimento amplo só veio décadas depois, quando seu conceito evoluiu e se tornou padrão nos modelos modernos de lava-louças. Hoje, ela é lembrada como uma das pioneiras da automação doméstica.
Geladeira elétrica doméstica – Florence Parpart (1914)

A geladeira elétrica moderna teve grande contribuição de Florence Parpart, que registrou uma patente em 1914 para um modelo mais eficiente, seguro e adequado ao uso diário nas residências. Na época, muitas casas ainda dependiam de caixas de gelo, que exigiam manutenção constante e tinham risco de contaminação. Parpart utilizou seu conhecimento de negócios, pois ela já administrava uma empresa de limpeza de ruas, para aperfeiçoar o equipamento e projetar um sistema de refrigeração estável e mais acessível.
Além de inventar, Parpart também foi responsável por promover seu produto em feiras e anúncios, enfrentando preconceito sobre mulheres que atuavam com tecnologia doméstica e gestão comercial. Sua invenção abriu caminho para a expansão das geladeiras elétricas no mercado, e mesmo que seu nome não seja tão conhecido quanto o de outras figuras da engenharia, seu papel na modernização desse eletrodoméstico é fundamental e reconhecido em registros históricos de patentes.
Aquecedor de água elétrico portátil – Ida Forbes (1909)

O aquecedor eléctrico portátil, responsável por facilitar banhos quentes e rotinas domésticas, foi criado por Ida Forbes em 1909. Antes disso, aquecer água exigia fogões a lenha, sistemas improvisados ou boilers complexos, o que tornava o processo demorado e pouco seguro. Forbes idealizou um aparelho simples, compacto e elétrico, capaz de aquecer a água rapidamente e sem risco de incêndio.
Ainda que sua patente exista e seja documentada, Forbes recebeu pouco reconhecimento durante sua vida, em parte porque mulheres raramente eram levadas a sério em áreas técnicas. Seu invento, no entanto, ajudou a moldar o conceito dos aquecedores modernos, que posteriormente foram aperfeiçoados para atender banheiros, cozinhas e diversos ambientes domésticos. A criação de Forbes mostra como soluções aparentemente simples podem transformar rotinas inteiras.
Limpadora a vapor e tábua de passar – Sarah Boone (1892)

Sarah Boone é mais conhecida por aperfeiçoar o design do ferro de passar, mas seus desenvolvimentos serviram como base técnica que, anos depois, inspirou mecanismos de equipamentos que utilizavam calor e vapor, incluindo os primeiros protótipos de limpadoras a vapor domésticas. Em 1892, Boone registrou uma patente que modernizava completamente a tábua de passar, tornando o processo mais eficiente para roupas ajustadas, como mangas e peças femininas.
Sua contribuição abriu espaço para o uso combinado de superfícies adaptadas, calor e vapor para higienização e alisamento de tecidos, princípios que mais tarde se tornaram centrais para o funcionamento das limpadoras e passadeiras a vapor. Como mulher negra no fim do século XIX, Boone enfrentou desafios ainda maiores para estudar, patentear e divulgar seu trabalho, mas deixou um legado técnico que permanece na base de vários eletrodomésticos ligados ao cuidado com roupas.
Máquina de sorvete – Nancy Johnson (1843)

A máquina de sorvete doméstica, que ajudou a popularizar sobremesas geladas em larga escala, foi criada por Nancy Johnson em 1843. Ela desenvolveu um tambor manual com manivela que batia a mistura e congelava o creme de forma uniforme, permitindo um processo rápido e eficiente, muito mais prático do que os métodos tradicionais da época. O equipamento utilizava um sistema de gelo e sal para manter a temperatura ideal durante todo o preparo.
Johnson recebeu a patente e conseguiu vender seu invento, mas, como muitas inventoras do século XIX, acabou ganhando pouco reconhecimento público. Sua criação, porém, inaugurou um conceito que mais tarde seria automatizado e incorporado aos refrigeradores modernos, com versões elétricas que transformaram o sorvete em um produto acessível a famílias do mundo inteiro. Até hoje, sua invenção é considerada um marco na história da tecnologia doméstica e da culinária.