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Nós já falamos aqui no Olhar Digital sobre a técnica da bactéria Wolbachia, desenvolvida por Luciano Moreira, da Fiocruz, e que está transformando o combate à dengue no Brasil. Graças a esse trabalho, ele foi escolhido pela Nature como uma das dez pessoas que moldaram a ciência em 2025.
Agora, Moreira está à frente da maior fábrica de mosquitos do mundo, criada para acelerar a expansão da estratégia no Brasil, como comenta matéria do G1.

Técnica turbina mosquitos e derruba casos de dengue
A descoberta de Moreira, refinada ao longo de 17 anos de pesquisa, transformou o Aedes aegypti em um aliado inesperado. A técnica consiste em introduzir a bactéria Wolbachia — presente naturalmente em insetos como a “mosquinha da banana” — nos ovos do mosquito transmissor. Com isso, os vírus da dengue, zika e chikungunya perdem a capacidade de se multiplicar dentro do inseto.
O resultado é um Aedes que vive normalmente, mas se torna quase incapaz de transmitir doenças. E foi esse impacto que colocou o pesquisador brasileiro ao lado de marcos científicos de 2025, como a reescrita de DNA liderada por Sarah Tabrizi e a criação da maior câmera astronômica do mundo, coordenada por Tony Tyson.
Eu fiquei muito emocionado, quase não acreditei. Acho muito importante, no Brasil, a gente conseguir fazer pesquisas de ponta.
Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz, ao G1.
“O que mais me dá satisfação é ver que estamos conseguindo reduzir o sofrimento e as mortes no país”, conclui.

Como funciona o mosquito “turbinado”
A lógica da técnica é simples de explicar — e brilhante na prática. A Wolbachia passa a viver dentro das células do mosquito e impede o vírus de se replicar. Sem multiplicação viral, a transmissão praticamente desaba.
O processo segue quatro etapas básicas:
• Inserir a Wolbachia nos ovos do Aedes aegypti.
• Deixar que a bactéria se estabeleça dentro das células.
• Reduzir a replicação dos vírus da dengue e zika.
• Gerar mosquitos que já nascem protegidos e transmitem essa proteção.
Como a fêmea infectada passa a bactéria para todos os seus ovos, cada nova geração mantém essa característica — o que reduz custos e a necessidade de novas solturas.
Hoje, os mosquitos criados pela equipe de Luciano já circulam em 16 cidades brasileiras, e estudos publicados na revista The Lancet mostraram reduções médias de 63% nos casos de dengue, chegando a 89% em algumas regiões.
“São 17 anos de pesquisa e muita persistência até chegarmos a esse resultado. Foi muito desafiador, mas é incrível ver o que estamos conseguindo fazer”, afirma o pesquisador.

Maior fábrica de mosquitos do mundo fica no Brasil
O impacto do projeto levou Moreira a comandar a maior fábrica de mosquitos do planeta, localizada em Curitiba. O complexo produz milhões de mosquitos com Wolbachia, enviados para municípios de todo o país em parceria com o Ministério da Saúde.
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A técnica oferece uma solução sustentável: não elimina a espécie, não envolve pesticidas e cria um ciclo de proteção que se mantém sozinho, geração após geração.
Além dos resultados práticos, o reconhecimento internacional reforça um ponto que Moreira faz questão de destacar: a criatividade da ciência brasileira. “A gente consegue fazer muito com pouco”, finaliza.