Estratégia brasileira contra a dengue leva pesquisador à lista dos nomes da ciência em 2025

Técnica Wolbachia liderada por Luciano Moreira reduz a dengue em até 89% e impulsiona o pesquisador à lista da Nature entre os nomes de 2025
Por Valdir Antonelli, editado por Layse Ventura 08/12/2025 18h07
imagem mostra a silhueta/sombra do mosquito da dengue com o pôr-do-sol no fundo
Mosquito da dengue (Imagem: mycteria/Shutterstock)
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Nós já falamos aqui no Olhar Digital sobre a técnica da bactéria Wolbachia, desenvolvida por Luciano Moreira, da Fiocruz, e que está transformando o combate à dengue no Brasil. Graças a esse trabalho, ele foi escolhido pela Nature como uma das dez pessoas que moldaram a ciência em 2025.

Agora, Moreira está à frente da maior fábrica de mosquitos do mundo, criada para acelerar a expansão da estratégia no Brasil, como comenta matéria do G1.

Técnica Wolbachia, desenvolvida por Luciano Moreira, transforma o enfrentamento à dengue e projeta a ciência brasileira no exterior.
Técnica Wolbachia, desenvolvida por Luciano Moreira, transforma o enfrentamento à dengue e projeta a ciência brasileira no exterior. Imagem: Divulgação

Técnica turbina mosquitos e derruba casos de dengue

A descoberta de Moreira, refinada ao longo de 17 anos de pesquisa, transformou o Aedes aegypti em um aliado inesperado. A técnica consiste em introduzir a bactéria Wolbachia — presente naturalmente em insetos como a “mosquinha da banana” — nos ovos do mosquito transmissor. Com isso, os vírus da dengue, zika e chikungunya perdem a capacidade de se multiplicar dentro do inseto.

O resultado é um Aedes que vive normalmente, mas se torna quase incapaz de transmitir doenças. E foi esse impacto que colocou o pesquisador brasileiro ao lado de marcos científicos de 2025, como a reescrita de DNA liderada por Sarah Tabrizi e a criação da maior câmera astronômica do mundo, coordenada por Tony Tyson.

Eu fiquei muito emocionado, quase não acreditei. Acho muito importante, no Brasil, a gente conseguir fazer pesquisas de ponta.

Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz, ao G1.

“O que mais me dá satisfação é ver que estamos conseguindo reduzir o sofrimento e as mortes no país”, conclui.

Técnica desenvolvida por Moreira utiliza a Wolbachia para bloquear a replicação de vírus dentro do Aedes aegypti.
Técnica desenvolvida por Moreira utiliza a Wolbachia para bloquear a replicação de vírus dentro do Aedes aegypti. Imagem: Celso Margraf/Shutterstock

Como funciona o mosquito “turbinado”

A lógica da técnica é simples de explicar — e brilhante na prática. A Wolbachia passa a viver dentro das células do mosquito e impede o vírus de se replicar. Sem multiplicação viral, a transmissão praticamente desaba.

O processo segue quatro etapas básicas:

• Inserir a Wolbachia nos ovos do Aedes aegypti.
• Deixar que a bactéria se estabeleça dentro das células.
• Reduzir a replicação dos vírus da dengue e zika.
• Gerar mosquitos que já nascem protegidos e transmitem essa proteção.

Como a fêmea infectada passa a bactéria para todos os seus ovos, cada nova geração mantém essa característica — o que reduz custos e a necessidade de novas solturas.

Hoje, os mosquitos criados pela equipe de Luciano já circulam em 16 cidades brasileiras, e estudos publicados na revista The Lancet mostraram reduções médias de 63% nos casos de dengue, chegando a 89% em algumas regiões.

“São 17 anos de pesquisa e muita persistência até chegarmos a esse resultado. Foi muito desafiador, mas é incrível ver o que estamos conseguindo fazer”, afirma o pesquisador.

Pesquisas da The Lancet indicam que a técnica com Wolbachia reduz a dengue de forma consistente, chegando a 89% em determinadas áreas.
Pesquisas da The Lancet indicam que a técnica com Wolbachia reduz a dengue de forma consistente, chegando a 89% em determinadas áreas. Imagem: Jarun Ontakrai/Shutterstock

Maior fábrica de mosquitos do mundo fica no Brasil

O impacto do projeto levou Moreira a comandar a maior fábrica de mosquitos do planeta, localizada em Curitiba. O complexo produz milhões de mosquitos com Wolbachia, enviados para municípios de todo o país em parceria com o Ministério da Saúde.

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A técnica oferece uma solução sustentável: não elimina a espécie, não envolve pesticidas e cria um ciclo de proteção que se mantém sozinho, geração após geração.

Além dos resultados práticos, o reconhecimento internacional reforça um ponto que Moreira faz questão de destacar: a criatividade da ciência brasileira. “A gente consegue fazer muito com pouco”, finaliza.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.