Estruturas em “zigue-zague” surpreendem cientistas no campo magnético da Terra

Cientistas detectam estruturas em zigue-zague no campo magnético terrestre, antes vistas no Sol, podendo melhorar previsões de tempestades.
Por Maurício Thomaz, editado por Lucas Soares 09/12/2025 15h58, atualizada em 09/12/2025 16h01
Fenômeno solar é detectado no campo magnético terrestre pela primeira vez
Fenômeno solar é detectado no campo magnético terrestre pela primeira vez (Imagem: buradaki / Shutterstock)
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Um fenômeno observado há décadas nas proximidades do Sol acaba de ser detectado, pela primeira vez, no campo magnético da Terra. A descoberta, feita por pesquisadores da Universidade de New Hampshire, pode ajudar a compreender melhor como se formam perturbações magnéticas e aprimorar previsões sobre tempestades geomagnéticas.

A equipe formada pelos físicos Emily McDougall e Matthew Argall encontrou estruturas incomuns no plasma que circula ao redor do planeta. Esse material parecia girar lentamente antes de retornar bruscamente à sua posição original, criando dobras em formato de zigue-zague, conhecidas como magnetic switchbacks. Até então, esse tipo de estrutura era associado ao ambiente solar — especialmente às regiões onde o vento solar é impulsionado para o espaço.

Físicos encontraram estruturas incomuns no plasma que circula ao redor do planeta (Imagem: Mopic/Shutterstock)

Mistura de plasma solar com partículas da Terra gera deformações

Ao estudar com mais profundidade os dados obtidos pela missão Magnetospheric Multiscale, da NASA, os pesquisadores perceberam que parte do plasma preso ao campo magnético terrestre não tinha origem local. Ele vinha diretamente do Sol e se misturava com partículas ao redor da Terra. Essa combinação criava condições ideais para a quebra e reconexão das linhas do campo magnético, mecanismo responsável pela formação dos switchbacks.

Esse comportamento é semelhante ao registrado em espaçonaves que investigam o Sol. Lá, os switchbacks surgem quando dois tipos diferentes de linhas magnéticas interagem:

  • Linhas abertas, que se estendem para longe do Sol e carregam o vento solar;
  • Linhas fechadas, que se curvam e retornam para a superfície solar após um curto percurso.

Quando esses dois sistemas se encontram, as linhas podem se romper e se reconectar, formando ondas em formato de “S” que liberam energia e provocam os característicos “kinks”, ou torções.

Diagrama ilustra como os "zigue-zagues" se formam no campo magnético do Sol, à medida que as linhas de campo abertas (à esquerda) interagem com as linhas de campo fechadas (à direita).
Diagrama ilustra como os “zigue-zagues” se formam no campo magnético do Sol, à medida que as linhas de campo abertas (à esquerda) interagem com as linhas de campo fechadas (à direita) (Imagem: Zank et al., ApJ, 2020))

Implicações científicas e novas possibilidades de estudo

A detecção dessas estruturas no campo magnético da Terra abre caminho para análises mais profundas sobre a ocorrência de distúrbios em regiões onde diferentes plasmas se encontram. Como o processo terrestre se assemelha ao que ocorre na coroa solar, os pesquisadores acreditam que esse tipo de observação servirá como um laboratório natural para entender fenômenos solares sem depender exclusivamente de sondas enviadas a ambientes extremos.

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Segundo McDougall e Argall, as novas evidências podem “permitir estudos futuros sobre eventos semelhantes nas camadas externas do Sol, sem a necessidade de levar espaçonaves a essas condições extremas”.

O estudo, publicado no Journal of Geophysical Research: Space Physics, reforça a importância de investigar como materiais provenientes do Sol interagem diretamente com o campo magnético terrestre, um fator essencial para melhorar previsões de tempestades espaciais e proteger satélites, redes elétricas e sistemas de comunicação.

Maurício Thomaz
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista com mais de 13 anos de experiência, tenho faro pela audiência e verdadeira paixão em buscar alternativas mais assertivas para a entrega do conteúdo ao usuário.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.