2025 no pódio do calor: mundo entra em sequência inédita de extremos climáticos

Com anomalia de 1,48°C e extremos climáticos, 2025 consolida a década mais quente desde o início dos registros, segundo a Copernicus
Pedro Spadoni09/12/2025 08h49
Ilustração do planeta Terra visto do espaço com continentes vermelhos para ilustrar aquecimento global e mudanças climáticas
(Imagem: Pedro Spadoni via ChatGPT/Olhar Digital)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Siga o Olhar Digital no Google Discover

O novo boletim da Copernicus, programa europeu de monitoramento climático, traz um alerta: 2025 deve terminar como o segundo ou terceiro ano mais quente da história. A previsão é que o ano mantenha a sequência inédita de recordes climáticos que marca a última década. 

A estimativa se apoia na anomalia de 1,48°C acima dos níveis pré-industriais registrada entre janeiro e novembro. É a mesma de 2023, atrás apenas do pico de 2024. A fotografia do ano também inclui extremos climáticos que se repetiram com força, de ciclones a enchentes devastadoras.

Os números chegam acompanhados de outro ponto decisivo: a média de temperatura do período 2023–2025 deve ultrapassar 1,5°C pela primeira vez. O dado, que combina três anos consecutivos muito quentes, é o que conta para o cálculo climático de longo prazo. E indica que o planeta está cruzando um limiar que a ciência tenta alertar sobre desde o Acordo de Paris.

Três anos acima de 1,5°C expõem aceleração inédita das mudanças climáticas

Os dados mostram um ano que repete, quase vírgula por vírgula, o que já era observado em 2023: 1,48°C acima da era pré-industrial e um aumento que não cede nem com a troca do El Niño para uma La Niña fraca

Ilustração do mapa do mundo com continentes vermelhos para ilustrar aquecimento global e mudanças climáticas
Temperatura global continua num patamar excepcional, o que empurra 2025 para o mesmo posto ocupado por 2023 no ranking histórico (Imagem: Pedro Spadoni via ChatGPT/Olhar Digital)

A Copernicus destaca que, mesmo com esse esfriamento natural, a temperatura global continua presa num patamar excepcional. E isso empurra 2025 para o mesmo posto ocupado por 2023 no ranking histórico.

A ultrapassagem do limite de 1,5°C ganha outra dimensão quando vista pela média trienal. A Copernicus reforça que a meta do Acordo de Paris não se mede por um mês ou um ano isolado, mas por um período de cerca de três décadas. Ainda assim, quando três anos seguidos caminham juntos acima da marca, o sinal é inequívoco. 

Nas palavras da climatóloga Samantha Burgess, esses marcos “não são abstratos” – são um retrato direto da aceleração das mudanças climáticas.

O boletim também detalha como essa aceleração se distribui pelo mapa. Novembro foi o terceiro mais quente já registrado, com anomalias fortes no norte do Canadá, no Oceano Ártico e em partes da Antártida. 

Na Ásia, ciclones e enchentes deixaram mortos e destruíram cidades inteiras; nas Filipinas, dois tufões sucessivos mataram cerca de 260 pessoas. Para a Copernicus, os extremos não são exceção. Eles são parte de um padrão que se intensifica ano após ano.

Nova leitura reforça alerta da ONU e da OMM sobre fracasso na trajetória do Acordo de Paris

A Copernicus não fala sozinha. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) e a Organização das Nações Unidas (ONU) já vinham sinalizando que manter o aquecimento abaixo de 1,5°C sem “ultrapassagem temporária” é, nas palavras da própria OMM, “praticamente impossível“. 

Ilustração do planeta Terra visto do espaço com continentes vermelhos para ilustrar aquecimento global e mudanças climáticas
Em relatório apresentado antes da COP30, a ONU descreveu uma combinação de emissões, aquecimento de oceanos e extensão mínima de gelo no Ártico e na Antártida (Imagem: Pedro Spadoni via ChatGPT/Olhar Digital)

O alerta acompanha outra constatação incômoda: o período entre 2015 a 2025 tem a sequência de 11 anos mais quentes desde o início dos registros. Em outras palavras, o planeta está preso num novo normal. E esse novo normal é mais quente.

Esse diagnóstico encontra lastro em fatores bem conhecidos. A ONU descreveu, no relatório apresentado antes da COP30, uma combinação de:

  • Emissões de combustíveis fósseis que seguem em alta;
  • Aquecimento recorde dos oceanos em 2024 com tendência de continuidade em 2025;
  • Extensão mínima do gelo marinho no Ártico e na Antártida

A Copernicus ecoa o ponto central: sem redução rápida de emissões, não dá para frear a escalada.

Leia mais:

O relatório da OMM foi publicado às vésperas da COP30, em Belém, justamente para servir de base à negociação climática. 

Lá, a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, pediu ações que “reescrevam o caminho”. E o secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçou que adiar decisões aprofunda desigualdades e cria danos irreversíveis. 

Os novos dados da Copernicus apenas ampliam o eco desse recado. O mundo está fora da trilha combinada. E já sente os efeitos no cotidiano.

(Essa matéria usou informações da AFP, Euronews e The Guardian.)

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.